A farmacêutica Daiana Seibert; ocupar brechas em serviços básicos.
Segundo maior grupo do setor no País quer seguir tendência mundial de fidelizar os consumidores por meio da prestação de exames clínicos autorizados por lei.
O tradicional farmacêutico de bairro, que no passado prestava os primeiros socorros e era o elo imediato das famílias no atendimento de saúde, virou o foco da estratégia de negócios do segundo maior grupo do varejo farmacêutico do Brasil. “Queremos resgatar o papel do farmacêutico”, diz Marcos Colares, diretor comercial e de marketing do grupo DPSP. Há quatro meses na empresa, Colares tem 25 anos de experiência no setor, com passagens pelas concorrentesRaia Drogasil e a Pague Menos.
Dona das bandeiras Drogaria São PauloePacheco, com 1,5 mil lojas em 10 Estados e faturamento anual de R$ 14 bilhões, que representa quase 9% do mercado, a companhia está se estruturando para ter um “hub de saúde” em cada ponto de venda. Metade das 120 lojas abertas no Rio e em São Paulo este ano já tem uma área reservada à prestação de serviço.
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A intenção é tornar os clientes mais fiéis às lojas, com o farmacêutico dando orientação para a venda de medicamentos que não precisam de receita médica ou para a realização de exames de análises clínicas na farmácia.
Em agosto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou mais de 40 tipos de exames diferentes, como sangue, diabetes, gravidez e tireoide, por exemplo, a serem feitos nas farmácias.
Ampliar o vínculo do cliente por meio da prestação de serviços é uma alavanca poderosa de vendas do varejo. Investir em produtos de marca própria também tem sido uma das ferramentas de fidelização. Hoje, a rede tem mais de 600 itens com a marca própria Ever, e pretende superar 700 até dezembro. Segundo Andre Svartman, à frente da área de marketing do grupo DPSP, a fidelização multiplica por três a venda de outros produtos da loja.
O objetivo não é substituir o atendimento médico, mas ocupar as brechas que existem na prestação de serviços básicos de saúde. Colares observa que 75% da população não tem plano de saúde, depende do SUS (Sistema Único de Saúde) e enfrenta dificuldade para marcar consulta com um especialista.
E as farmácias, que são visitadas pelos clientes de quatro a cinco vezes no mês, são o elo da área de saúde mais próximo. “Não queremos que o trabalho do farmacêutico seja entregar a caixinha (de remédio) e dar o desconto”, diz Colares.
CONFIANÇA. Com dez anos de formada, dos quais seis na Drogaria São Paulo, a farmacêutica Daiana Zorzo Seibert, de 33 anos, lembra do papel do farmacêutico na pequena cidade onde morava com os pais, no interior da Bahia. “Em cidades menores se vê muito mais essa atuação.”
Desde que a Anvisa autorizou os Testes Laboratoriais Rápidos (TLRs) em farmácias, Daiana diz ter se sentido mais bem aproveitada profissionalmente. “A farmácia é um estabelecimento de saúde e a população identifica no farmacêutico, muitas vezes, o primeiro ponto de apoio, com quem ela pode tirar uma dúvida antes de chegar ao médico. O farmacêutico é o primeiro ponto de confiança.”
Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), observa que ter nas farmácias um hub de serviços básicos de saúde é uma tendência mundial. “Nos Estados Unidos está acontecendo muito isso com as duas principias redes (CVS e Walgreens), e a Raia Drogasil está nessa agenda faz algum tempo.” Além da Raia Drogasil, as redes de farmácias Pague Menos,
“A farmácia é um estabelecimento de saúde e a população muitas vezes identifica no farmacêutico o primeiro ponto de apoio, de confiança, antes de chegar ao médico” Daiana Zorzo Seibert Farmacêutica da Drograria SP
Extrafarma e Panvel também oferecem esses serviços.
Desde de 2020, a Panvel oferece testes rápidos de covid e, atualmente, são mais de 16 exames rápidos disponíveis. Das quase 600 lojas da rede, mais de 100 têm esse serviço. As redes Pague Menos e Extrafarma informam que oferecem serviços essenciais há quase dez anos.
GAMA DE SERVIÇOS. Após autorização da Anvisa, as redes começaram a prestar cerca de 60 serviços de saúde, que incluem exames de dengue, HIV/sífilis, entre outros, além de aferição de pressão, de glicemia, aplicação vacina e avaliação corporal. São mais de 1.100 salas de atendimento em 1.648 lojas das duas redes em todos os Estados.
A Raia Drogasil informa que oferece o serviço de vacinação desde de 2017. Hoje, a rede trabalha com 17 tipos de vacinas, aplicadas em 300 salas de atendimento em suas lojas. O grupo tem 2,9 mil lojas no País. De janeiro a setembro deste ano, foram aplicadas 150 mil doses.
Colares lembra que a farmácia, que no passado era focada na venda de medicamentos, nos anos 1980 passou a vender produtos de higiene e beleza e mais recentemente foram incluídos itens de nutrição. E na pandemia ingressaram no mundo digital. A venda online no grupo DPSP representa hoje 14% do faturamento – era 2% antes da pandemia. “A farmácia será muito diferente no futuro.”
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