Associações e sindicatos ligados à indústria farmacêutica no Brasil elaboraram um manifesto em apoio à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que vem sofrendo pressão após ter rejeitado pedidos de aval à importação da vacina russa Sputnik V, revelou a Folha. Fabricantes da vacina disseram que pretendem processar a Agência.
O manifesto é assinado por Abifina, Abifisa, Abimip, Alanac, Alfob, Grupo FarmaBrasil, Interfarma, PróGenéricos, Sinfar-RJ, Sindusfarma, Sindicis-RS e Sindifargo. Essas entidades veem risco de perda de autonomia regulatória e de proteção sanitária com fragilização da Agência.
Fabricantes da vacina russa afirmaram na semana passada em uma rede social que iriam processar a Anvisa por difamação. De acordo com agências internacionais de notícias, eles afirmaram que o órgão deu “declarações incorretas e enganosas sem ter testado a vacina Sputnik V” e “espalhou informações falsas e imprecisas intencionalmente” sobre o imunizante.
Segundo diretores e equipe técnica da Anvisa, a falta de dados mínimos e a identificação de pontos críticos entre aqueles apresentados – como falhas no desenvolvimento que trazem incertezas sobre a segurança da vacina – levaram à não aprovação do imunizante.
No dia 26 de abril, a diretoria da Anvisa divulgou a decisão de não recomendar a importação excepcional e temporária da Sputnik V. Um dos argumentos dos técnicos foi de que, em todos os lotes apresentados ao órgão regulador, foram detectados adenovírus capazes de se replicar.
O gerente-geral de Medicamentos da Anvisa e professor da pós-graduação de Assuntos Regulatórios do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Gustavo Mendes, comentou sobre o adenovírus replicante.
“Esse adenovírus replicante foi detectado em todos os lotes apresentados da vacina Sputnik para a Anvisa. Todos os laudos de controle de qualidade que foram apresentados na documentação a que nós tivemos acesso mostravam a presença desse vírus replicante”, disse Mendes à revista Superinteressante.
O adenovírus deve ser utilizado apenas para carregar o material genético do novo coronavírus para as células humanas, para promover a resposta imune. No entanto, no caso da Sputnik V, ele mesmo se replica (ou seja, é capaz de se multiplicar quando injetado no corpo), o que, de acordo com a Agência, poderia levar desde a infecções variadas até à exacerbação da resposta imunológica, conforme apurou a Deutsche Welle.
No Brasil, dez Estados fizeram pedidos de aprovação da importação da Sputnik V – Bahia, Acre, Rio Grande do Norte, Maranhão, Mato Grosso, Piauí, Ceará, Sergipe, Pernambuco e Rondônia. Alguns governadores e deputados têm pressionado a Agência pela reavaliação da decisão e liberar a Sputnik.
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No manifesto, os signatários destacam o empenho dos técnicos da Anvisa. “Os servidores e diretores da Agência estão fazendo um esforço excepcional para dar respostas rápidas às demandas baseadas na ciência e nas normas sanitárias e leis que protegem os brasileiros. Sempre analisando de maneira técnica a segurança e eficácia das vacinas, medicamentos e outros insumos utilizados no combate à pandemia”, diz o texto.
“Não há, portanto, justificativa para questionar ou atacar o trabalho técnico e altamente profissional realizado pela Anvisa. O setor farmacêutico brasileiro reafirma seu apoio à Anvisa e alerta para o risco de perdermos autonomia regulatória e proteção sanitária se a Agência for fragilizada”, adiciona a carta.
“Quanto mais cedo vacinarmos a população brasileira, mais rápido haverá o controle da pandemia no país e a volta à normalidade. Mas não se podem atropelar etapas essenciais na garantia da qualidade e segurança das vacinas, sob o risco de tornarmos ainda mais grave a situação. A indústria farmacêutica confia no trabalho responsável da Agência e em sua missão institucional neste grave momento de crise da saúde do país”, conclui o documento.
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