Adotar a inteligência regulatória é um diferencial importante para a organização. Mas, como aplicar esse conceito, na prática? Segundo os especialistas, o método mais seguro é utilizando as chamadas ‘ferramentas da inteligência regulatória’.
Em muitas empresas, uma decisão errada pode trazer problemas graves e até levá-la à falência. Para sobreviver em um ambiente cada vez mais competitivo é fundamental dispor de um sistema de inteligência competitiva que forneça informações analisadas de forma integrada e tempestiva, para que seja possível tomar decisões mais seguras e em tempo real. Isso garante, não apenas a sobrevivência da empresa, mas também o seu crescimento.
Na indústria farmacêutica, que é altamente regulada, a inteligência regulatória torna-se um instrumento estratégico fundamental para a tomada de decisão, pois promove a gestão da informação, conforme a definição apresentada pela professora Luciana Colli na aula de pós-graduação de Assuntos Regulatórios na Indústria Farmacêutica do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico.
“A inteligência regulatória representa a coleta, a análise ativa, a interpretação e a disseminação de informações regulatórias que fazem com que o setor se torne inteligente. Porém, esse processo deve envolver o conhecimento de todos, principalmente a alta gerência, para que seja eficaz, pois quando bem implantado leva a decisões estratégicas, fazendo com que a empresa obtenha vantagem competitiva”.
Em um ambiente corporativo, as informações e conhecimentos se diferenciarão quanto à sua utilização. E, se bem usados, ajudarão a sanar incertezas, podendo ser fundamentais para que as tomadas de decisão sejam respaldadas em fundamentos sanitários legais. Esses elementos são considerados fatores estratégicos, desde que seja desenvolvida a gestão da informação voltada para buscar vantagem competitiva.
Principais ferramentas da inteligência regulatória
De acordo com a professora da ICTQ, a inteligência regulatória se apresenta como um sistema no qual se promove a alavancagem da empresa, por meio do ambiente regulatório, o qual pode ser extremamente ameaçador para uma empresa caso ela não saiba lidar com ele adequadamente.
“É importante entender as ferramentas disponíveis para a promoção de informação e conhecimento organizacional. Após criar um sistema de captura eficiente de dados, passa-se a gerar conhecimento. Em seguida, cria-se a inteligência regulatória utilizando as ferramentas, posicionando a empresa, monitorando os quatro ambientes – produto, tecnologia, socioeconômico, demográfico. Tudo isso vai pautar as tomadas de decisão das empresas, as quais devem ser racionais”, explica Luciana.
Segundo ela, a primeira ferramenta, fundamental para utilizar as demais, diz respeito ao acesso aos dados na empresa. “Cada empresa cria seu método, mas isso deve estar pacificado na organização. Não é possível avançar sem que exista um sistema de captura, geração e interpretação de dados dentro da empresa”, salienta a professora.
Matriz Swot
A matriz Swot é uma ferramenta utilizada para fazer análises de cenário, sendo empregada como base para a gestão e o planejamento estratégico de uma organização. “Trata-se de um sistema que tem como objetivo posicionar ou examinar a posição estratégica da organização no ambiente em questão. É uma ferramenta valiosa para qualquer organização, pois gera diagnóstico preciso da situação da empresa, o que permite melhoramento das vantagens competitivas”.
“A matriz Swot desponta como uma ferramenta de estratégias muito importante, sobretudo para inteligência regulatória. Para usar essa ferramenta, é necessário elencar fatores internos e externos da empresa. Ambos podem ser positivos ou negativos. Ou seja, pode haver fatores externos que possuem impacto positivo na empresa e fatores externos que possuem impacto negativo”, esclarece Luciana.
Os fator positivos da organização são chamado de ‘força’ e os fatores negativos, de ‘fraqueza’. Os fatores externos positivos são chamados de ‘oportunidades’, enquanto os externos negativos são tidos como ‘ameaça’. “Por isso, é muito importante utilizar essa ferramenta em inteligência regulatória, compreendendo quais as forças e as fraquezas da empresa, além de predizer as tendências do mercado, com suas oportunidades e ameaças. Ao fazer essa análise, tudo o que diz respeito a assuntos regulatórios, sendo força e fraqueza, será observado”, explica a professora.
Ao ter esses pontos levantados é possível posicionar a empresa. Luciana cita o exemplo da Pfizer, que lançou o Viagra, primeiro medicamento de disfunção erétil no mercado. “A empresa tinha força, um setor de pesquisa robusto, que conseguiu chegar à molécula. Contou com uma oportunidade de mercado, que foi o prêmio Nobel explicando o funcionamento do óxido nítrico e o mecanismo da ereção. Como organização, ela estava preparada para lançar esse medicamento no mercado. Ela uniu força e oportunidade e conseguiu projetar o sucesso da empresa. Quando se junta força com oportunidade é gerada a alavancagem da organização”.
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Em contrapartida, quando uma empresa está fraca, tem debilidades, se o mercado vem com uma ameaça, ela morre. “Isso aconteceu com algumas empresas nacionais que não tinham robustez na questão tecnológica, nem um parque fabril moderno, inovação tecnológica no controle da qualidade e monitoramento de processos. Com a criação da Anvisa e as legislações se tornando mais frequentes e exigentes, ou seja, uma ameaça, elas sucumbiram”, conta a professora.
Quando uma empresa está fraca em um mercado com muitas oportunidades há uma debilidade. Há uma oportunidade externa, mas a empresa não tem como aproveitá-la. Já uma empresa forte em um ambiente de ameaça sobrevive, pois tem resistência. “Veja como é importante usar essa ferramenta na inteligência regulatória, pois são analisadas as forças e fraquezas da empresa para predizer as tendências de mercado, com suas oportunidades e ameaças. Ao fazer essa análise, sob o ponto de vista regulatório, busca-se superar as fraquezas”, resume Luciana.
Balanced Score Card (BSC)
Uma das formas de superar as fraquezas é usando o BSC, por meio do qual se cria os objetivos estratégicos das empresas, os procedimentos, com ênfase no monitoramento posterior. Nesse sentido, utiliza-se todo o aspecto financeiro da empresa, dos clientes, processos internos, o crescimento e o aprendizado.
Segundo a professora do ICTQ, caso a empresa identifique algumas fraquezas ao fazer a matriz Swot, ela deve montar, imediatamente, um BSC, para conseguir superar os itens que são fatores de fraqueza. “O BSC é uma forma bem inteligente de fazer isso”.
Matriz de Ansoff
Trata-se de uma ferramenta que pode ser utilizada pelas empresas na qual se compara o mercado e o produto. A Ansoff está estreitamente alinhada à matriz Swot, pois, em termos de estratégia, se uma empresa não desenvolve novos mercados e não lança produtos, está fadada à falência.
Cinco forças de Porter
Essa ferramenta é amplamente utilizada e leva em consideração:
- Ameaça de novos entrantes – como a empresa vai encarar o mercado, diante de outras negócios com produtos iguais aos dela. Na área farmacêutica, a perda da patente é a ameaça de novos entrantes, pois há novas empresas fazendo um produto similar (genéricos);
- Poder de barganha dos fornecedores – quais fornecedores a empresa possui? Se há apenas um, a organização está no ambiente de risco, pois, ao tomar ciência disso, o fornecedor pode barganhar o preço;
- Ameaça de produtos substitutos – uma empresa concorrente lança um produto substituto que, talvez, tenha menos efeito colateral, tenha uma ação mais rápida ou até mesmo um preço menor. É preciso estar informado de novos produtos substitutos no mercado. Para isso, é necessário acompanhar a vida das outras empresas. Fazer a análise do Diário Oficial não é uma perda de tempo;
- Poder de barganha dos clientes – qual poder o cliente tem de barganhar pelo produto? Ele tem outras opções no mercado ou o produto de determinada empresa é o único?;
- Rivalidade entre concorrentes – trata-se do quanto os concorrentes são rivais uns dos outros.
Matriz BCG
Um dos grandes benefícios de realizar a matriz BCG é o fato de ser possível realocar os
investimentos em áreas que podem ser mais valorizadas perante o mercado, por meio da análise que permite ver claramente quais os produtos que devem ser mantidos e quais devem ser descartados.
Análise do ambiente externo
Essa é mais uma ferramenta que ajuda a empresa a alimentar a matriz Swot. É constituída dos elementos que formam a própria vida da sociedade e que influenciam, de maneira direta ou indireta, as organizações.
Nesse caso, será necessário projetar os cenários. Há quatro ambientes gerais a serem estudados:
- Demográfico + estudo de epidemiologia/farmacoepidemiologia – para isso servem essas disciplinas, não só para a saúde pública, embora sejam amplamente utilizadas;
- Sociopolítico + conhecer o ambiente regulatório – Anvisa, Mapa, Visa, Inmetro, OMS;
- Tecnológico - P&DI;
- Econômico + farmacoeconomia – além de monitorar PIB e outros itens, como inovação, também é necessário falar de farmacoeconomia.
Cenários
É uma ferramenta muito utilizada em estratégias nas quais se diz como a empresa e seus números vão se comportar em um ‘local de sol’ (ambiente de muito otimismo, em que as empresas estão bem e a situação econômica de determinado país está favorável), em um ‘céu nublado’ ou sujeito a ‘trovoadas e chuvas’ (ambiente de crise).
Assim, vão se montando os cenários, analisando como os números da empresa se comportam em relação ao ambiente externo. Projetam-se cenários otimistas, pessimistas e realistas, lembrando que é sempre mais indicado se preparar para o cenário pessimista, pois se a empresa está preparada para o pior e acontecer o melhor ela terá muito mais sucesso.
A professora completa, destacando que no setor regulatório “é mais desejável um perfil conservador, porque ousadias nessa área podem ser perigosas. Ousadia cabe mais com a área comercial”.
Tendências e análise de Gaps
O conhecimento é uma das grandes engrenagens da gestão empresarial. Essa é uma ferramenta muito interessante, pois coloca em evidência:
- Empresas que não sabem o que sabem;
- Empresas que não sabem o que precisam saber;
- Empresas que não sabem o que seus parceiros e concorrentes sabem;
- Empresas que não sabem o que seus clientes sabem; e
- Empresas que não sabem que precisam saber de tudo isso.
Benchmarking
Benchmarking é um processo sistemático de comparações entre processos semelhantes e, a partir delas, a promoção de melhorias que permitam que uma determinada atividade tenha excelência quando comparada com outras equivalentes em empresas do mesmo setor ou de outros setores da economia.
A professora do ICTQ lembra que essa é uma ferramenta poderosa e uma boa forma de se posicionar no mercado como um todo. “Trata-se de uma técnica em que a organização procura verificar o desempenho de negócios similares avaliando as boas práticas e os resultados, estabelecendo parâmetros de comparação na busca de empreender ações para fazer melhor ou agregar valor”.
Ela lembra também de um estudo de Melissa Walker (System and method for regulatory intelligence), que apresentou um sistema de relatórios para informações de inteligência regulatória a partir de uma pluralidade de fontes de informações regulatórias heterogêneas implementadas em um sistema de computador.
“A empresa criou uma forma de fazer benchmarking usando dados, ou seja, ela acessa páginas da internet, data base de áreas comerciais, formulários com pesquisas e mídia social. A partir disso, é possível agrupar as informações e gerar conhecimento no âmbito dos assuntos regulatórios, promovendo a inteligência regulatória”, conclui Luciana.
Assista uma aula sobre inteligência e estratégia regulatória com a professora de Assuntos Regulatórios do ICTQ, Luciana Colli:
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