A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra-se preocupada e cobra das indústrias farmacêuticas mais dados sobre a efetividade contra a variante delta do novo coronavírus, revelou o Valor. Isso foi motivado porque a cepa consegue escapar dos anticorpos e tem gerado um aumento do número de casos.
De acordo com o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, as quatro vacinas atualmente em uso no Brasil têm demonstrado bom desempenho no combate às principais cepas do novo coronavírus. Contudo, ele ressaltou ontem (9/8), durante live do Valor, que a variante delta “gera bastante preocupação”.
“Chamou mais a atenção da comunidade científica porque essa variante consegue escapar dos anticorpos e tem gerado um aumento maior do número de casos. Então, a delta é a variante com a qual estamos mais preocupados e, por isso, cobrando dos desenvolvedores (de vacinas) os resultados dos testes para verificar a performance”, explicou Mendes, que também é professor da pós-graduação de Assuntos Regulatórios do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico.
Para checar a efetividade das vacinas contra as variantes, as indústrias farmacêuticas conduzem testes in vitro e também em humanos. Uma vez identificada a eficácia, a informação é incluída na bula. “A bula é o documento pelo qual a Anvisa se manifesta perante a sociedade”, afirmou Mendes.
Sobre a necessidade de aplicação de uma terceira dose da vacina ou mesmo de reforços anuais na imunização contra a Covid-19, o gerente da Anvisa afirmou que ainda é cedo para dizer. Segundo ele, antes de tomar tal decisão é importante calcular o benefício que o reforço poderá trazer e compará-lo aos custos operacionais, logísticos e financeiros, entre outros.
“Por isso, a gente mantém a postura da Organização Mundial da Saúde (OMS) de não recomendar terceira dose até que tenhamos certeza”, disse. Segundo Mendes, o mundo está completando agora um ano do início da vacinação (já considerando o período de testes clínicos) e começará a ter dados sobre a longevidade da proteção. “Já aprovamos alguns estudos também sobre a dose de reforço ou terceira dose, e esses resultados vão ser importantes para que a gente possa criar esse conhecimento”, completou.
O mesmo vale para a inclusão de crianças no público-alvo. Ainda não está claro se a vacinação adicional de um contingente populacional expressivo trará benefícios proporcionais em termos de saúde pública. Crianças e adolescentes costumam reagir melhor à infecção pela Covid-19.
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Sobre as condições necessárias para que a população possa voltar à ‘vida normal’ pós-pandemia, Mendes afirmou que essa discussão só pode ser feita depois que o País atingir um percentual grande de pessoas vacinadas com duas doses, de 60% a 70%. Ainda assim, segundo ele, será necessário considerar o cenário de variantes.
“Quando a gente tiver esse percentual (de imunização), podemos começar a observar os dados e verificar se não tem alguma variante de preocupação, que chame a atenção”, explicou o gerente da Anvisa. O Brasil tem atualmente pouco mais de 50% da população vacinada com a primeira dose e cerca de 20%, com a segunda.
A conta dos imunizados, lembrou Mendes, não considera as pessoas que foram infectadas e que se recuperaram. “O que a gente tem observado em pessoas que se contaminaram com a Covid-19 é que a chance de se reinfectar é alta”, disse, acrescentando que não dá para dizer que a imunidade oriunda da infecção garante uma proteção contínua.
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