Além das suspeitas na compra da vacina indiana Covaxin, reveladas pela CPI da Covid, o Governo tem outra negociação para explicar. Desta vez com a empresa chinesa CanSino Biologics, que produz o imunizante Convidecia – o mais caro até agora. Nela estão envolvidos o líder do Governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e os empresários bolsonaristas Luciano Hang e Carlos Wizard, revelou a TV alemã Deutsche Welle (DW).
Assim como no caso da compra da Covaxin, produzida na Índia pelo laboratório Bharat Biotech e intermediada pela brasileira Precisa Medicamentos, a negociação envolvendo a Convidecia contou com uma empresa intermediária no Brasil, a Belcher Farmacêutica.
Apoiada por empresários bolsonaristas, entre eles Luciano Hang e Carlos Wizard, a Belcher tem como um de seus sócios o filho de um empresário próximo a Ricardo Barros. A companhia tem sede em Maringá (PR), onde o deputado já foi prefeito. O empresário cujo filho é sócio da Belcher foi presidente da empresa de urbanização da cidade durante a gestão de Barros, segundo apurou a DW.
“Tem essa movimentação para a compra de vacina chinesa com empresa de Maringá com ligações próximas com Barros. Não quero acusá-lo de nada, mas é muita coincidência”, afirmou ontem (27/06) o senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da CPI da Pandemia. “A CPI vai apurar, sem dúvida nenhuma”, disse, citado pela Folha.
Além da possível ligação com Barros, também acusado de envolvimento em irregularidades na aquisição da Covaxin, a Belcher Farmacêutica é alvo da Polícia Federal no âmbito de uma investigação que apura desvios de recursos destinados à compra de testes para diagnóstico da Covid-19 pelo Governo Federal. Segundo a investigação, a Belcher teria ajudado, por meio de propostas fictícias num processo de dispensa de licitação, empresas beneficiadas com contratos para o fornecimento de testes, revelou O Globo.
O Governo Federal assinou no início deste mês uma carta de intenção de compra com a Belcher Farmacêutica, na qual estava prevista a aquisição de 60 milhões de doses da Convidecia, a US$ 17 (R$ 83,81) cada – o que faz do imunizante o mais caro contra a Covid-19 negociado pelo Brasil, superando os US$ 15 (R$ 73,95) previstos para cada dose da Covaxin e os até US$ 12 (R$ 59,16) acordados com a Pfizer.
A aquisição da Convidecia totalizaria cerca de R$ 5 bilhões, mas, segundo o Governo, o contrato de compra não foi formalizado. Ao Globo a Belcher afirmou não representar mais a chinesa CanSino e reforçou que não assinou contrato com o Governo. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou o mesmo.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), à qual a Belcher apresentou um pedido de uso emergencial da Convidecia em meados de maio, ainda não deu luz verde para o imunizante. A Anvisa disse aguardar novos documentos, pedidos após análise inicial, apurou a DW.
A Agência também afirmou, segundo a emissora, que foi informada pela CanSino em 17 de junho de que a Belcher não tem mais autorização para representá-la no Brasil, tornando uma reavaliação do pedido de uso emergencial necessária. De acordo com representantes do Ministério da Saúde citados pela Folha, a negociação para aquisição da vacina foi cancelada no dia seguinte, 18 de junho.
Suspeita sobre a Covaxin
Em depoimento à CPI da Pandemia na sexta-feira (25/6), o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro, ao ser informado por ele sobre suspeitas de irregularidades na compra da Covaxin, mencionou que Ricardo Barros estaria envolvido no caso.
O atual líder do Governo na Câmara foi ministro da Saúde no governo Michel Temer e tem seu nome envolvido em uma série de polêmicas. Em discurso em abril, Barros cobrou abertamente mais agilidade da Anvisa para autorizar o uso de vacinas como a Covaxin e a Sputnik V, segundo a DW.
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Em suas redes sociais, Barros negou que tenha participado de qualquer negociação relacionada à compra da Covaxin. “Não sou esse parlamentar citado. A investigação provará isso”, escreveu o deputado.
A implicação do deputado na CPI será explorada pelos senadores, que pretendem reunir mais informações sobre a compra da Covaxin e discutem informar o Supremo Tribunal Federal (STF) de indícios de que Bolsonaro teria cometido o crime de prevaricação ao não determinar a investigação do caso após ter sido avisado, conforme apurou a DW.
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