Pesquisa da King's College, de Londres, no Reino Unido, detectou variações no padrão de sinais físicos da Covid-19. Segundo o trabalho, atualmente, dor de cabeça, dor de garganta e coriza são os sintomas mais associados à variante Delta (originalmente detectada na Índia), que lembram os sinais de gripe forte, revelou o Estadão.
“A Covid-19 está diferente agora, mais parecida com um resfriado forte”, resumiu o professor de Epidemiologia Genética da King's College, Tim Spector, principal autor do trabalho britânico, divulgado este mês. Isso pode complicar a situação, segundo o especialista.
“As pessoas acham que estão com um mero resfriado sazonal e continuam saindo, indo a festas. É importante que as pessoas tenham em mente que os principais sintomas relacionados à Covid-19 mudaram desde maio. Agora, o principal sintoma é dor de cabeça, seguido de dor de garganta, coriza e febre”, completou Spector, segundo o jornal. Esses sintomas não eram comuns na primeira onda da doença, quando a predominância era da variante Alfa (do próprio Reino Unido).
No Brasil, embora não haja levantamento semelhante, médicos da linha de frente do atendimento também relatam mudança dos principais sintomas da doença apresentados no início da pandemia, quando a predominância era das variantes B.1.1.33 e B.1.1.28, e agora, em que prevalece a Gama (P1), a variante de Manaus (AM), apurou o Estadão.
De acordo com os relatos brasileiros, os sintomas associados à Gama são semelhantes àqueles da variante indiana – dor de cabeça, dor de garganta e coriza. Ou seja, algo bem parecido com um resfriado mais forte, o que não significa dizer que a doença se expressa de forma mais ou menos grave.
Embora tenham sido detectados casos importados da variante Delta no Maranhão e no Paraná e o registro de transmissão comunitária em Goiás, ainda não há indícios de que ela tenha se espalhado no País. Atualmente, a variante predominante é a de Manaus, em 84% dos casos. No exterior, porém, o avanço da cepa indiana preocupa e pode frear os planos de reabertura econômica.
Um estudo feito no Brasil no ano passado listou os sintomas mais comuns entre os brasileiros. O levantamento feito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) envolveu 31.869 pessoas em todos os Estados. Entre os mais citados aparecem dor de cabeça, alterações de olfato e paladar, febre, tosse e dor no corpo. No entanto, o estudo não foi refeito este ano, após a prevalência da Gama, de Manaus.
“O número de linhagens em circulação no País é muito grande. No último levantamento, eram mais de três mil linhagens”, explicou ao Estadão a virologista Paola Cristina Resende, pesquisadora da Rede Genômica Fiocruz, que mapeia a dispersão das variantes no País. “Mas o nosso foco são as chamadas variantes de preocupação, ou seja, aquelas com capacidade de transmissão maior, caso da P1, da B.1.7 (do Reino Unido), da B.1.1.351 (da África do Sul) e da B.1.617.2 (da Índia). A gente acredita que, na competição com outras variantes, a P1 se sai melhor e por isso ela segue predominante no Brasil”.
De acordo com o virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, em termos de sintomas, o grande diferencial entre a primeira e a segunda onda da pandemia no País foi justamente o surgimento da coriza. “No ano passado, quando o paciente apresentava coriza, já podia, praticamente, descartar Covid-19”, afirmou Spilki ao jornal.
“Este ano é diferente, os problemas no trato respiratório superior, como a coriza, vêm aparecendo muito. O problema é que o indivíduo que está com uma coriza, um resfriado, tende a se expor mais, ele não vai se resguardar adequadamente, sobretudo com sintomas tão díspares daqueles registrados na primeira onda, como perda de olfato e paladar”, adicionou Spilki”.
A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, que atende pacientes de Covid-19, também notou a diferença. “Não fico muito confortável de falar em impressões pessoais”, frisou. “Mas tenho visto muita gente com problemas na via aérea alta, como dor de garganta e coriza, como se fosse alguma outra virose”, disse a especialista ao Estadão.
Já o farmacêutico e professor de pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Thiago de Melo, acredita que a melhor forma de evitar a disseminação de novas variantes é manter o isolamento e os cuidados.
“Com menos Sars-CoV-2 circulantes, o impacto sobre as novas variantes mutantes também pode ser suavizado, afinal, com menos ‘casas’ para o vírus morar, menos chance de ele trocar seus códigos”, disse Melo à equipe de jornalismo do ICTQ.
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O mapeamento de sintomas no Reino Unido está sendo feito desde março do ano passado por meio de um aplicativo, chamado Zoe, no qual os pacientes relatam os sintomas da Covid-19. Já são mais de quatro milhões de relatos. Os dados analisados pelo app mostram que a tosse era o sintoma mais comum no início da pandemia, com 46% dos pacientes relatando o sintoma. Agora, no entanto, foi superado por dor de cabeça (66%), dor de garganta (53%), coriza (49%) e febre (42%).
A variante Delta é pelo menos 40% mais transmissível que a Alfa e apresenta o dobro do risco de hospitalização, segundo os especialistas. Além disso, as vacinas disponíveis são um pouco menos eficazes diante dessa variante, particularmente após somente uma dose. “A mensagem aqui é: se você é jovem e apresenta sintomas leves, parecidos com um resfriado mais forte, fique em casa e faça um teste para a Covid-19”, alertou Spector, que criou o aplicativo no qual as pessoas relatam seus sintomas.
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