Nesta semana, com a intenção de defender o medicamento cloroquina, o presidente Jair Bolsonaro insinuou interesses comerciais ao afirmar que as empresas farmacêuticas preferem apostar em opções mais caras do que utilizar fármacos conhecidos e baratos para combater a Covid-19, revelou a revista Veja.
“Por que não se investe em remédios? Por que é barato demais? É lucrativo para empresas farmacêuticas investir no que é caro. Nós conhecemos isso”, disse o presidente durante evento de telecomunicações na quarta-feira (5/5) no Palácio do Planalto.
Na visão do presidente, as empresas farmacêuticas têm interesse de desacreditar a cloroquina. Ele citou um suposto ‘caso de sucesso’ da droga no Amazonas. “Espero que a experiência de Manaus, com doses cavalares de hidroxicloroquina, seja completamente desnudada pelos senadores (da CPI)”, afirmou Bolsonaro sem dar detalhes do que ele sabe sobre o que aconteceu em Manaus, conforme a Veja.
Um estudo realizado em Manaus no ano passado chegou a administrar altas dosagens do medicamento a pacientes para verificar sua eficácia, mas essa administração elevada acabou suspensa após participantes do grupo morrerem, apurou a Folha de Pernambuco.
Bolsonaro também disse que espera que a CPI ouça profissionais que falem do tratamento precoce. “Canalha é aquele que é contra o tratamento precoce e não apresenta alternativa, esse é um canalha. O que eu tomei todo mundo sabe”, frisou, referindo-se aos que têm criticado esse tipo de terapia.
Na primeira semana da CPI, a cloroquina ganhou protagonismo com dois ex-ministros da saúde de Bolsonaro apontando o medicamento como o problema comum que tiveram com o presidente. Luiz Henrique Mandetta disse que uma minuta de decreto estava pronta para propor a mudança na bula da cloroquina, ideia que foi rechaçada pelo ex-ministro. Nelson Teich disse que pediu demissão quando viu que o Governo Federal queria ampliar o uso da cloroquina, mesmo sem eficácia comprovada.
Já na gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello, o Governo colocou a divulgação do tratamento precoce como um dos pilares do enfrentamento à pandemia, lembrou a Folha de Pernambuco. Isso ocorreu mesmo com diversos especialistas e entidades destacando que não havia evidência científica de que a hidroxicloroquina tinha algum benefício para o tratamento do vírus, além de estar associada a possíveis efeitos colaterais graves.
Cloroquina não funciona
Estudos científicos já demonstraram que a cloroquina e sua derivada hidroxicloroquina não trazem qualquer benefício contra a Covid-19. Em março, a OMS foi definitiva contra o uso da substância no tratamento da Covid-19. Após revisar seis ensaios clínicos com 6.000 pessoas, os especialistas da entidade concluíram que a hidroxicloroquina não influencia nas taxas de infecção e, provavelmente, aumenta o risco de efeitos adversos, como problemas cardíacos. “A hidroxicloroquina não é mais uma prioridade de pesquisa”, concluíram os especialistas.
Os próprios fabricantes não recomendam o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19. Quatro indústrias farmacêuticas que fabricam esses medicamentos no Brasil vetaram o seu uso para tratar a doença.
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PhD em Farmacologia, Thiago de Melo, professor de pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, aponta os riscos da utilização da hidroxicloroquina na terapia dos pacientes infectados pelo novo coronavírus.
“Recentemente, a literatura tem apresentado os problemas de arritmia cardíaca pela associação (de medicamentos). Então, quando se fala em hidroxicloroquina é importante lembrar que esses indivíduos não estão somente tomando essa substância. Esse que é o verdadeiro problema que, inclusive, tem sido pouco comentado na mídia. A hidroxicloroquina é um medicamento arritmogênico, mas o problema principal é a sua associação com a azitromicina que também é”, explica Melo.
“Essas duas drogas juntas representam uma outra conversa. Nesse caso, estamos diante de uma interação medicamentosa. E detalhe, há pouca discussão sobre isso, como não é uma associação comum, ao longo da história, muitas pessoas que apresentam quadro de parada cardíaca devido a essa associação podem cair na conta das mortes por Covid-19”, salienta o professor.
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