Em nova oferta ao Ministério da Saúde (MS), o laboratório norte-americano Pfizer cobra R$ 1 bilhão a mais pelo mesmo número de doses da vacina contra Covid-19 que o negociado no primeiro contrato da empresa com o Governo Federal, informou o Estadão. Preço é 20% maior do que na primeira compra.
A ideia do Governo é comprar mais 100 milhões de doses, mas o preço cobrado agora é de US$ 12 (R$ 62,76) a unidade, valor 20% maior do que o negociado no primeiro contrato com a companhia norte-americana, quando o País comprou a mesma quantidade do imunizante.
Ainda que tenha aumentado, o preço negociado com o Brasil é inferior ao que a Pfizer cobrou da União Europeia, que desembolsou por volta de US$ 14,70 (R$ 76,88) por dose, e dos Estados Unidos, que pagaram cerca de US$ 19,50 (R$ 101,99).
Israel, um dos países com a vacinação mais adiantada no mundo, pagou à Pfizer US$ 23,50 (R$ 122,91) por dose para recebê-las antes e em grande escala, o que faz o país ser um dos mais imunizados do mundo. A empresa chegou a comentar que países mais pobres iriam pagar preços mais baixos.
Reportagem desta semana do The New York Times aponta que a vacina contra Covid-19 rendeu US$ 3,5 bilhões (R$ 18,55 bilhões) à Pfizer apenas no primeiro trimestre deste ano. A margem de lucro da empresa com os imunizantes está na faixa de 20%, conforme a publicação.
Ao todo, a oferta para nova compra do Brasil totaliza mais de R$ 6,6 bilhões, cerca de R$ 1 bilhão a mais do que o valor anterior. Segundo o Estadão, as informações sobre o preço global e o valor por dose constam em nota técnica assinada pelo diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do MS, Laurício Cruz.
Na quinta-feira (6/5), o Governo publicou no Diário Oficial da União extrato de dispensa de licitação, com valor global de R$ 6,6 bilhões, passo importante para assinar o contrato. Na CPI da Covid no Senado, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, adiantou que a pasta estava na “iminência de fechar novo acordo com a Pfizer de 100 milhões de doses”.
Evidencia-se uma nova postura do Governo em relação à Pfizer. Até o início do ano, a administração de Jair Bolsonaro criticava a empresa e chegou a acusá-la de incluir cláusulas ‘leoninas’ na proposta. Com isso, travou a negociação e perdeu lugar na fila. Bolsonaro se queixava de que a empresa não queria assumir o risco por possíveis efeitos colaterais da vacina. “Se você virar um jacaré (após tomar o imunizante), é problema seu”, afirmou o presidente em 17 de dezembro, segundo o Estadão.
A nota técnica do Ministério da Saúde agora aconselha a compra e pede que a entrega do novo lote seja feita em duas etapas. A primeira, de 30 milhões de doses, deve chegar ao País entre 1.º de julho e 30 de setembro. Já a segunda remessa, com 70 milhões de doses, está prevista para o quarto trimestre.
Ainda de acordo com o documento, há a ressalva de que o valor está acima do que foi pago no contrato anterior e pede que o preço seja negociado. Entre os motivos que embasam a recomendação, os técnicos destacam que talvez seja necessário aplicar doses de reforço da vacina, tendo em vista as mutações do novo coronavírus. “Caso isso venha se concretizar, a necessidade de doses irá aumentar substancialmente”, diz o trecho.
Não constam na nota os motivos para a mudança de preço. Ao Estadão, a Pfizer disse não comentar negociações e afirmou trabalhar com o Governo para a imunização dos brasileiros. Já a assessoria do ministério disse ao jornal apenas que a compra ainda está em negociação e destacou já ter contrato assinado para aquisição de cem milhões de doses.
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O documento do MS também pontua que a aquisição tem elevado risco de perdas. O cálculo do Governo é que 30% das doses sejam perdidas, índice bem acima da taxa de 10% calculada para a Coronavac e a vacina de Oxford/Astrazeneca. Para chegar a esse índice, a Saúde considera declarações feitas pela França, que estima desperdício entre 25% e 30% do imunizante da Pfizer. Segundo a nota do MS, a perda média prevista no Brasil é de 15%.
Diferentemente das outras vacinas contra a Covid-19 aplicadas no País, o imunizante da Pfizer sobrevive por apenas cinco dias em refrigeradores comuns, com temperatura entre 2ºC e 8ºC. Para ser armazenado por períodos mais longos, de até seis meses, precisa estar em congeladores cuja temperatura varie entre 60ºC e 80ºC negativos.
Com logística complicada pela exigência de refrigeração em temperaturas muito baixas, a vacinação com doses da Pfizer no Brasil ficará restrita às capitais na maioria dos Estados. Agora, com a ampliação do volume adquirido, o ministério ressalta a necessidade de adequar a rede de frio para a introdução do imunizante em municípios do interior com mais de 100 mil habitantes. A nota técnica propõe a compra inicial de 183 congeladores a serem distribuídos proporcionalmente entre os Estados e o Distrito Federal.
Vacina leva tempo até chegar ao paciente
Até chegar ao braço do paciente, qualquer vacina leva tempo e passa por diversas fases. Mesmo no caso dos imunizantes contra a Covid-19, que tiveram seu desenvolvimento em tempo recorde, nenhuma etapa foi pulada, como lembra o gerente-geral de Medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e professor da pós-graduação de Assuntos Regulatórios do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Gustavo Mendes.
“Durante o desenvolvimento de uma vacina, para comprovar a eficácia e a segurança, é preciso fazer estudos clínicos, que são divididos em fases. E essas fases clínicas fazem parte desse pacote que serve para a Anvisa aprovar uma vacina”, afirmou Mendes na página Farmacêuticos pela Vacina, do ICTQ no You Tube.
Ele destaca que antes de qualquer estudo em humano, as vacinas precisam ser testadas em modelos animais e modelos laboratoriais, porque é ali que se verifica se o imunizante pode oferecer algum risco para as pessoas e quais são eles.
“As fases de estudos clínicos seguem uma sequência. A fase 1 é a que se busca observar a segurança da vacina em um grupo menor de pessoas. Estamos falando de dezenas de voluntários que são vacinados e se verifica quais são as reações adversas, quais são os eventos que estão acontecendo nesse grupo”, explica Mendes.
Já a fase 2 é chamada de exploratória. “Porque vai se analisar diferentes regimes de tratamento – uma dose, duas doses – ou então vai se explorar, por exemplo, quem são as pessoas que vão poder se vacinar – adultos, crianças, idosos”.
Mendes salienta que a 3 é a fase confirmatória. “(Nesta fase), a gente recruta um número grande de voluntários – milhares deles – e nesses milhares de voluntários, os grupos são testados tanto com a vacina, quanto com o placebo para confirmar que realmente a vacina é segura e eficaz. Só depois de todas essas fases concluídas é que a Anvisa pode aprovar uma vacina para uso na população”, conclui.
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