O contrato entre a chinesa Sinovac e o Instituto Butantan impediu a divulgação dos dados completos de eficácia da Coronavac, revelou a Folha. Estima-se que a taxa de eficácia da vacina contra a Covid-19 seja de cerca de 64%, menor que a divulgada pelo governo paulista, de 78% para casos leves.
Apesar do anúncio do resultado da Coronavac para prevenção em casos leves (que necessitam de algum auxílio médico), a maior lacuna nas informações reveladas pelo Butantan foi a eficácia que engloba também aqueles que não precisaram de assistência, mas que foram infectados.
De acordo com pessoas ligadas à pesquisa da vacina, a razão dessa ausência de informações completas é a proibição, pelo contrato que tem com a Sinovac, de o Butantan anunciar ao público qual é a taxa sem autorização da empresa chinesa, conforme apurou o jornal.
Em novembro, a CNN já havia levantado que no acordo entre Sinovac e Butantan há menções explícitas sobre a divulgação de dados. Segundo a emissora, no item 4.8.6 do termo, consta que “a Sinovac detém os direitos de propriedade intelectual e interesses da Sinovac na vacina e que os dados clínicos da Fase III abrangem os direitos de propriedade intelectual e interesses da Sinovac na vacina”.
Já em outra parte do acordo a ressalva é direta: “a menos que expressamente permitido por este acordo ou com o consentimento prévio escrito e expresso da Sinovac, o Butantan não irá manusear, utilizar, descartar, divulgar, para permitir que seja utilizado ou compartilhar com terceiros ou suas próprias filiadas (exceto com as autoridades regulatórias) o dossiê do produto de propriedade e fornecido pela Sinovac”, diz o texto, conforme a Folha.
Apesar das restrições, o diretor do Butantan, Dimas Tadeu Covas, apontou em coletiva de imprensa alguns dados aproximados relacionados a infecções pela Covid-19 detectadas durante a fase 3 do estudo da Coronavac no Brasil. Segundo ele, foram 218 infecções, sendo 160 no grupo placebo e pouco menos de 60 no grupo vacinado.
A partir desses dados, a Folha calculou uma eficácia de cerca de 64% na vacina, 14 pontos percentuais abaixo dos 78% de prevenção de casos leves e 14 pontos percentuais acima dos 50% da eficácia mínima exigida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para chegar a esse número – precisamente 63,75% –, leva-se em conta 58 infecções no grupo vacinado e grupos (placebo e o que tomou a vacina) do mesmo tamanho.
Além da divulgação dos resultados do ensaio clínico da Coronavac na Indonésia (que mostrou 65% de eficácia), a crescente especulação sobre a real eficácia do imunizante e o prazo de análise por parte da Anvisa, a vencer já no próximo dia 18, podem ter contribuído para que a Sinovac concordasse com a antecipação da divulgação, dizem as fontes ouvidas pelo jornal.
Um dos motivos de a Sinovac ter segurado inicialmente o anúncio dos resultados brasileiros seria a discrepância em relação a resultados dos testes em outras partes do mundo, como na Turquia, onde a eficácia anunciada foi de 91,25% – apesar de o país ainda ter somente dados provisórios.
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De acordo com os cientistas ouvidos pelo jornal, para essa diferença tem pelo menos dois componentes. O primeiro é a população de cada país, que está longe de ser homogênea. O segundo é intrínseco ao ensaio brasileiro.
Por aqui os voluntários eram profissionais de saúde, que sofriam uma exposição muito maior aos vírus. Nesse caso têm que ser considerados o número de encontros com possíveis fontes de infecção e a maior quantidade de vírus que chega no sistema respiratório dessas pessoas.
Seja como for, mesmo com uma eficácia geral mais baixa, quando comparada a outras vacinas, como a da Pfizer (95%) ou a russa Sputnik V (90%) – que ainda não teve dados da fase 3 disponibilizados para a comunidade científica avaliar –, especialistas afirmaram ao jornal que a Coronavac pode ser fundamental para conter as mortes por Covid-19 no País, tendo em vista o sucesso de 100% em evitar quadros graves nos testes.
Outra vantagem da Coronavac é a facilidade de armazenamento, em refrigeradores convencionais. Além disso, como a produção está sendo feita pelo Butantan, a logística de distribuição do imunizante também tende a ser facilitada.
Desde sexta (8/1), a Anvisa está analisando o pedido de uso emergencial da vacina. Ela tem dez dias para esse trabalho. Só depois disso haverá a divulgação dos dados e, por fim, a publicação dos resultados na forma de artigo científico. Segundo a Folha, o Butantan prometeu para hoje (12/1) divulgar a totalidade dos dados da vacina.
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