Produtores nacionais de medicamentos se propõem a fabricar insumos internamente, de forma a reduzir a dependência do País da matéria-prima importada da China e da Índia, principalmente. A pandemia acelerou essa necessidade, segundo o diretor executivo da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Henrique Tada, em entrevista ao Estadão.
Segundo ele, a pandemia foi o gatilho para a indústria começar a trabalhar em um projeto para fabricar insumos no mercado interno. “Diante da franca dependência das matérias-primas importadas da China e da Índia, a indústria nacional desenhou um projeto bem interessante com o Governo Federal para voltar a produzir as matérias-primas aqui. Tudo indicava que esse bonde tínhamos perdido para sempre, mas a pandemia trouxe de volta”, salientou Tada ao jornal.
Nos anos 1980, o Brasil chegou a ser o quinto fabricante de princípios ativos para indústria farmacêutica. Mas a produção nacional foi inviabilizada, com a abertura comercial. A partir disso, China e Índia se tornaram os nossos maiores fornecedores. Contudo, desde meados do ano passado, a indústria farmacêutica vem sofrendo com a importação de matérias-primas da Ásia.
A China iniciou, em 2019, um programa de melhoria nas condições ambientais para reduzir a imensa poluição que assola grande parte do seu território. Algumas unidades que poluíam demais acabaram fechadas. Isso impactou na produção e no preço dos insumos farmacêuticos ativos (IFA). Quando a produção chinesa começava a se regularizar, as fábricas conseguiram se adequar às novas exigências ambientais, surgiu a Covid-19, que colocou de cabeça para baixo o mercado novamente. Outro grande produtor, a Índia, também foi abalado pela pandemia e reduziu as vendas.
Com isso, a indústria nacional de medicamentos, que responde por 50,5% das vendas de R$ 69,8 bilhões no varejo, sentiu o baque da dependência externa – dificultada também pela expressiva alta do dólar neste ano – e começou a trabalhar em uma alternativa, que inclui a produção local.
“Cerca de 90% das matérias-primas usadas para produzir os medicamentos são importadas. Os preços desses princípios ativos estão atrelados ao câmbio. Com o dólar que chegou a valer R$ 6 e depois recuou, tivemos matérias-primas que aumentaram até 300% em dólar. Também o custo do frete marítimo subiu porque as empresas de transporte pararam por causa da pandemia. Além da questão do custo, houve problemas de disponibilidade de matéria-prima porque a China e a Índia, que concentram a produção de princípios ativos, pararam. Hoje a situação caminha para a normalidade, mas os preços são outros”, esclareceu Tada.
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De acordo com o diretor da Alanac, o projeto está em fase de discussão, sendo que cerca de dez laboratórios devem participar. “Antes, tinham empresas com projetos individuais, mas não havia ambiente favorável para serem implementados. Agora, o setor despertou para o problema e também está no jogo o apoio do Governo, com leis específicas e redução de impostos”.
“Fizemos várias reuniões com os Ministérios da Fazenda, da Ciência e Tecnologia e da Saúde. Foi um tema que a pandemia trouxe de volta e estamos tratando para que realmente esse projeto aconteça. Temos capacidade técnica para fabricar os princípios ativos. O que faltava era vontade, projeto e condições econômicas favoráveis para implementação”, finalizou Tada.
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