O presidente da Merck Sharp & Dohme (MSD), Ken Frazier, não acha factível o prazo de 12 a 18 meses para o desenvolvimento de uma solução contra o novo coronavírus, mesmo que a própria empresa já esteja trabalhando em uma vacina. Considera o cronograma divulgado por algumas autoridades como “muito agressivo”, conforme disse em entrevista ao Financial Times.
Para o executivo há muito alarde sobre o tema. “Não é algo que eu divulgaria que estaria disposto a comprometer a MSD”, afirmou ao Financial Times, acrescentando que vacinas devem ser testadas em testes clínicos ‘muito grandes’, que levam vários meses, se não anos, para serem concluídos. “Você quer garantir que, quando administra uma vacina a milhões, se não a bilhões de pessoas, ela seja segura”, completou.
A declaração do presidente da MSD ocorre cerca de duas semanas depois do lançamento do projeto Operation Warp Speed, patrocinado pelo governo dos Estados Unidos, que visa reduzir drasticamente o intervalo de tempo necessário para desenvolver uma vacina. O presidente Donald Trump disse na ocasião esperar ter uma vacina em produção até o fim do ano ou pouco depois disso.
Já outros membros da força-tarefa de combate ao coronavírus do governo norte-americano, como o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, foram mais cautelosos, sugerindo que o tempo mais curto para a produção de uma vacina era de 12 a 18 meses.
Mesmo esse tempo para Ken Frazier parece irreal. “Nossa experiência sugere que tais prazos são muito agressivos comparados com outros cronogramas para obter uma vacina segura e eficaz”, disse o executivo da MSD, que tem um longo amplo histórico de desenvolver vacinas.
Empresa trabalha em duas soluções contra a Covid-19
A MSD divulgou nesta semana que atua no desenvolvimento de duas vacinas e um medicamento antiviral contra a Covid-19. Esses produtos são os primeiros anúncios da companhia contra o novo coronavírus, enquanto outros concorrentes já propalaram seus trabalhos.
Segundo apurou o Valor Econômico, Ken Frazier disse que a empresa passou um tempo estudando a biologia básica do vírus e queria uma vacina que pudesse ser administrada em uma dose única. Além disso, a MSD buscava um candidato à vacina que tivesse como base uma plataforma já comprovada.
“Temos que imunizar sete bilhões de pessoas no planeta”, revelou Frazier. “Se você fornece uma alta quantidade de anticorpos neutralizantes com uma dose única é muito melhor, mais simples de implantar do que uma vacina que requer doses múltiplas”, assinalou.
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A MSD também está trabalhando em colaboração com o um grupo de pesquisa científica sem fins lucrativos, o IAVI, para desenvolver uma vacina com base na mesma plataforma que usou para a vacina contra o Ebola, que a Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador americano, aprovou no final do ano passado. O programa de vacina está em desenvolvimento pré-clínico avançado, com os estudos da fase 1 previstos para começar este ano. Frazier não revelou quando a vacina estará disponível.
Já para o desenvolvimento de um antiviral oral, a MSD está trabalhando em parceria com uma empresa farmacêutica de biotecnologia chamada Ridgeback Biotherapeutics. O medicamento foi testado em ensaios de fase 1 em pacientes com covid-19. “Sabemos pelo trabalho que já foi feito que é muito potente, que bloqueia a reprodução de muitos vírus de RNA, incluindo o SARS-CoV-2”, disse Frazier. Ele também afirmou que o medicamento pode ser fabricado em larga escala e rapidamente.
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