Farmacoeconomia: O papel estratégico do farmacêutico na sustentabilidade financeira de hospitais

Farmacoeconomia: O papel estratégico do farmacêutico na sustentabilidade financeira de hospitais

A farmacoeconomia é a espinha dorsal de toda decisão inteligente de compra hospitalar. Não se trata apenas de escolher o medicamento mais barato, mas de identificar a opção que oferece o melhor valor em saúde por real investido. A atuação técnica do farmacêutico especialista nessa área é fundamental para traduzir evidências científicas em decisões economicamente sustentáveis.

“Nosso papel começa com a análise crítica de estudos farmacoeconômicos publicados, avaliando a qualidade metodológica e a aplicabilidade ao contexto brasileiro. Realizamos adaptações de modelos econômicos internacionais para nossa realidade, considerando custos locais, padrões de prática médica e características epidemiológicas específicas e na realidade da instituição”, ressalta o professor da pós-graduação do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, em farmacoeconomia, e coordenador do grupo técnico de oncologia do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ), Verneck Silva.

Esses profissionais desenvolvem análises que vão além do preço de aquisição, já que incluem custos de administração, monitoramento, eventos adversos, tempo de internação e impacto na qualidade de vida do paciente e na operação envolvida. Por exemplo, um medicamento oncológico mais caro pode ser mais custo-efetivo se reduzir significativamente o tempo de internação ou a necessidade de medicamentos de suporte.

Para isso são utilizadas ferramentas como análise de impacto orçamentário para projetar o impacto financeiro de diferentes cenários de adoção de tecnologias. Isso permite que gestores tomem decisões baseadas na viabilidade de incorporar novos tratamentos sem comprometer a sustentabilidade financeira da instituição. “Nossa expertise técnica também se manifesta na construção de modelos de Markov para doenças crônicas, análises de árvore de decisão para protocolos terapêuticos e estudos de minimização de custos para medicamentos com eficácia equivalente comprovada”, acrescenta Silva.

Critérios farmacoeconômicos em processos de licitação

Silva afirma que, em processos licitatórios, a atuação farmacoeconômica vai muito além da simples comparação de preços unitários e do olhar aos números frios: “Nós, farmacêuticos, desenvolvemos critérios técnicos robustos que garantem que a decisão de compra seja baseada no melhor valor em saúde”.

O primeiro critério é a análise de custo-efetividade incremental, em que é calculado o custo adicional por unidade de benefício clínico. Isso é especialmente importante em oncologia, em que diferenças pequenas em sobrevida podem justificar custos significativamente maiores. Para isso são implementadas análises de custo total de tratamento, incluindo, não apenas o medicamento, mas todos os recursos necessários para sua administração segura, como tempo de infusão, necessidade de pré-medicação, monitoramento laboratorial e manejo de eventos adversos.

Para licitações públicas, os farmacêuticos desenvolvem critérios de pontuação técnica que valorizam aspectos farmacoeconômicos. Por exemplo, eles atribuem pontos para medicamentos com menor frequência de administração (impacto na qualidade de vida e custos indiretos), menor incidência de eventos adversos graves (redução de custos de manejo) e maior conveniência posológica (melhora da adesão).

“Nossa contribuição abrange também a elaboração de critérios de bioequivalência, armazenamento, manuseio e estabilidade. Desenvolvemos protocolos de avaliação pós-comercialização que monitoram o desempenho real dos medicamentos adquiridos, comparando resultados clínicos e econômicos com as projeções iniciais. Isso cria um ciclo de melhoria contínua nas decisões de compra”, destaca Silva.

Negociações com fornecedores

A formação técnica do farmacêutico é um diferencial competitivo fundamental nas negociações com fornecedores. Enquanto compradores tradicionais focam apenas em preço, esse profissional traz uma perspectiva clínica e farmacoeconômica que resulta em acordos muito mais vantajosos para a instituição.

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Eles são os profissionais do medicamento — e embora pareça um detalhe técnico, há uma razão precisa para padronizar. Por exemplo, o Propofol 2% é indicado quando se busca reduzir o volume infundido, como em casos de restrição hídrica. Já o Propofol 1% oferece maior controle posológico, sendo ideal para ajustes finos de dose ou administração em bolus, comuns em procedimentos mais curtos.

“Cada concentração é uma escolha clínica estratégica e nós conhecemos profundamente o pipeline de desenvolvimento de cada laboratório, o que nos permite antecipar mudanças de mercado e negociar contratos de longo prazo mais favoráveis. Quando sabemos que um medicamento terá genéricos em dois anos, estruturamos contratos com cláusulas de revisão de preço baseadas na entrada de competidores”, revela o professor.

Silva explica que são utilizados dados de mundo real (real-world evidence) para fundamentar as negociações. Quando há evidências de que um medicamento está performando melhor que o esperado em uma instituição, isso fortalece a posição para negociar descontos em volumes maiores ou extensão para outras indicações — uma abordagem já adotada pelo próprio SUS, como no caso do Zolgensma. “Nossa formação técnica é essencial para estruturar esses acordos de forma que sejam mensuráveis e auditáveis”, defende ele.

Metodologias de farmacoeconomia

As ferramentas farmacoeconômicas são diversificadas e escolhidas de acordo com o tipo de decisão e o contexto clínico específico. Cada metodologia tem suas indicações precisas e limitações que devem ser bem conhecidas. A análise de custo-efetividade é a ferramenta mais robusta para comparar intervenções com desfechos clínicos diferentes.

“Utilizamos o QALY (Quality-Adjusted Life Years) como medida de desfecho, permitindo comparações entre diferentes áreas terapêuticas. Desenvolvemos modelos próprios adaptados à realidade brasileira, considerando custos locais e preferências de utilidade da nossa população”, ressalta Silva.

Para medicamentos com eficácia equivalente comprovada, utiliza-se análise de minimização de custos. Essa é particularmente útil para decisões entre medicamentos de referência e genéricos, ou entre diferentes apresentações do mesmo princípio ativo.

A análise de impacto orçamentário é fundamental para decisões de incorporação de tecnologias. Para isso, utiliza-se modelos epidemiológicos para estimar a população elegível e projetar custos em horizontes de um a cinco anos, por exemplo. Isso é essencial para planejamento orçamentário e negociações com operadoras de saúde.

“Implementamos análises de custo-utilidade para condições crônicas em que a qualidade de vida é um desfecho relevante. Utilizamos instrumentos validados como EQ-5D e SF-36 para capturar preferências de pacientes e traduzir em valores econômicos”, fala o professor.

Para decisões rápidas do dia a dia, são desenvolvidos algoritmos de decisão baseados em custo por dia de tratamento, ajustado por eficácia relativa. Isso permite comparações ágeis entre alternativas terapêuticas sem a necessidade de análises complexas. Análises determinísticas e probabilísticas ajudam a identificar os parâmetros que mais influenciam os resultados e a quantificar a incerteza nas estimativas.

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Bases de dados nacionais

“Gostaria de destacar alguns aspectos fundamentais que considero essenciais para o futuro da farmacoeconomia na prática hospitalar brasileira, como a necessidade urgente de desenvolvermos bases de dados nacionais de custos e desfechos em saúde. Ainda dependemos excessivamente de dados internacionais (EUA ou América Latina) que podem não refletir nossa realidade”, pondera Silva.

A integração da farmacoeconomia com a medicina de precisão representa uma fronteira promissora. Com o avanço dos biomarcadores e terapias personalizadas, é preciso desenvolver modelos econômicos que considerem a heterogeneidade de resposta entre pacientes. Isso permitirá decisões mais precisas sobre quais pacientes se beneficiam mais de terapias específicas.

Para Silva, a educação em farmacoeconomia precisa ser expandida. Não apenas para farmacêuticos, mas para toda a equipe multidisciplinar. Médicos, enfermeiros e gestores precisam compreender os princípios básicos da avaliação econômica para que possam trabalhar de forma integrada. A transparência nas análises farmacoeconômicas é fundamental para a credibilidade da área.

Por fim, o professor acredita que o futuro da farmacoeconomia está na integração com tecnologias digitais. Inteligência artificial, big data e análise preditiva permitirão desenvolver modelos mais precisos e atualizados em tempo real. Isso transformará radicalmente a capacidade de tomar decisões fundamentadas em evidências — afinal, para ele, informação sem ação é apenas um ‘jornal’.

A farmacoeconomia não é apenas uma ferramenta técnica - é uma responsabilidade ética. Em um país com recursos limitados em saúde, cada decisão tomada impacta a vida de pacientes e a sustentabilidade do sistema. “Nossa expertise técnica deve sempre estar a serviço do bem comum e da equidade no acesso a tratamentos eficazes. Como minha mãe sempre diz: ‘feijão que demora a cozinhar, não compensa o seu preço!’ Com essa frase sempre trago o racional que economia não deve impactar a operação!”, finaliza Silva,

Capacitação farmacêutica

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