Como agir nos casos de surto de superbactéria em UTI

Como agir nos casos de surto de superbactéria em UTI

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) informa que está monitorando o surto de uma superbactéria em uma unidade de terapia intensiva (UTI) em Manaus. De acordo com a direção da instituição, a ocorrência da bactéria está associada ao tempo de internação prolongado dos pacientes e uso de antimicrobianos. Casos como esse exigem atuação rápida e coordenada.

Segundo a Comissão Estadual de Controle de Infecção (Ceciss/FVS-RCP), o surto ocorre com a bactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), resistente a carbapenêmicos, fármacos utilizados para tratamento de pacientes em terapia intensiva da UTI da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), em Manaus.

Três pacientes foram contaminados com a bactéria e seguem estáveis, sem risco de morte. Segundo a diretora-técnica da FVS-RCP, Tatyana Amorim, o caso decorre do tempo de internação prolongado dos pacientes. “Todas as medidas do surto já estão sendo aplicadas pela comissão de controle de infecção da unidade hospitalar. Não foram identificados novos casos, o que demonstra a efetividade das medidas de prevenção aplicadas”, revelou a profissional, em comunicado no site do governo do Amazonas.

Além do tempo de internação, a ocorrência da bactéria pode estar associada ao uso de antimicrobianos, redução das defesas dos pacientes e procedimentos invasivos. Segundo a coordenadora do Ceciss/FVS-RCP, Evelyn César, entre as medidas adotadas estão o isolamento de contato, administração de antibióticos específicos e suspensão de cirurgias eletivas de grande porte que possuem indicação de UTI no pós-operatório.

“A comissão de controle de infecção da unidade acionou a comissão estadual informando todas as medidas de prevenção aplicadas e plano de ação para controle e monitoramento. Os procedimentos de médio porte estão mantidos normalmente na unidade hospitalar”, explicou a coordenadora da Ceciss/FVS-RCP.

A FVS-RCP é responsável pela vigilância em saúde do Amazonas. Neste ano a instituição foi rebatizada em homenagem à farmacêutica e epidemiologista Rosemary Costa Pinto, ex-presidente e uma das criadoras do órgão, que morreu em janeiro deste ano, aos 61 anos, por complicações decorrentes da Covid-19.

De acordo com a instituição, as comissões de controle de infecção (CCIHs) são responsáveis pelo monitoramento de infecções relacionadas à assistência à saúde e pela implementação de medidas de prevenção. A Ceciss acompanha e apoia a investigação, o monitoramento do surto e reforça que todas as medidas de controle do surto já estão sendo aplicadas pela CCIH e gestão da unidade.

De acordo com o farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Hospitalar e Acompanhamento Oncológico no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Leonardo Daniel Mendes, não existe um protocolo padrão dos hospitais em casos de surto por uma superbactéria, cada instituição tem o seu.

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“O importante é cobrir ao máximo o paciente contra a bactéria que o infectou. Basicamente, quando o paciente está internado e apresenta pico febril, começamos a investigação, pois febre é um dos primeiros sintomas de infecção. Então, coletamos todas as culturas do paciente, exames como Proteína C reativa e iniciamos um antibiótico de amplo espectro, até que saiam os resultados das culturas. Saindo os resultados, saberemos qual bactéria está contaminando o paciente e quais antibióticos são resistentes ou sensíveis”, explica Mendes.

“No caso de KPC, muitas vezes a cultura mostra que é resistente a todos ou quase todos antibióticos, então fazemos uma associação com diversos antibióticos de mecanismos de ações diferentes para tentarmos o controle da infecção”, completa o professor.

Cabe ao farmacêutico atuar prevenindo que se chegue a esse cenário – ressalta Mendes – por meio do uso racional de medicamentos. “Mas, se de toda forma isso ocorrer, é muito importante que todas as medidas sejam tomadas para não haver óbitos decorrentes desse surto”, salienta.

Segundo o professor, em primeiro lugar, medidas higiênicas devem ser tomadas, uma vez que a grande maioria de bactérias, vírus e fungos são transmitidos pelo contato. “Então cabe ao farmacêutico acompanhar e orientar sobre a correta higienização, sendo a falta dessa prática peça-chave na transmissão de micro-organismos”, diz.

“O farmacêutico precisa estar alinhado com a infectologia e serviço médico, monitorando nível sérico de alguns antibióticos, como a vancomicina, uma vez que se o nível da dose sérica estiver baixo o antibiótico não fará efeito e se o nível estiver alto há toxicidade renal muito marcante”, completa Mendes.

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A presença de bactérias em ambientes hospitalares é comum e pode levar a infecções importantes e até fatais. É cada vez mais comum encontrar cepas ou espécies bacterianas que são resistentes ao uso de antibacterianos. Algumas delas, batizadas de superbactérias, são resistentes a todos os antibióticos disponíveis.

Estimativas da OMS revelam que cerca de 700 mil pessoas morram no mundo a cada ano com infecção bacteriana resistente. Ainda segundo a organização, é possível que nos próximos dez anos esse total possa aumentar dez vezes. Em 2019, a entidade indicou a resistência de bactérias a antibióticos como um dos problemas de saúde pública mais urgentes do século XXI.

“A agência estima que, se nada for feito, doenças causadas por bactérias multirresistentes, para as quais nenhum antibiótico conhecido serve, podem causar a morte de mais de 10 milhões de pessoas até 2050”, afirmou em artigo para O Globo a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

Segundo o professor da pós-graduação de Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Edson Luiz de Oliveira, em 30 anos, ocorrerá um marco para a história futura da humanidade, pois se atingirá o pico da ocorrência de mortes causadas por bactérias resistentes a antibacterianos.

Por isso, é preciso avaliar o micro-organismo, a condição clínica, ou seja, a patologia, a sensibilidade, o fármaco envolvido e o paciente. “A eficácia do uso de um antimicrobiano vai depender do micro-organismo, da doença estabelecida, do paciente e do fármaco escolhido, que será utilizado de acordo com a sensibilidade. Deve-se conhecer, ainda, aspectos relativos à farmacocinética”, diz Oliveira.

Outro ponto é acompanhar as interações medicamentosas, destaca Mendes, pois o paciente com uma KPC necessitará de uma polifarmácia. “Ele deve, assim, ser acompanhado de perto, pois é possível ocorrer reações adversas e interações de medicamentos. Por fim, acompanhar sempre posologia, cultura, tempo de uso dos antibióticos, pois não respeitar alguns desses parâmetros contribui para a propagação de bactérias multirresistentes”, assinala o professor.

O uso equivocado de antibacterianos envolve a escolha incorreta do fármaco (aplicá-lo em uma infecção viral, por exemplo), dosagem inadequada, tempo de utilização incorreto, utilização de terapêutica de prova em pacientes febris sem diagnóstico definido e via de administração inadequada. “Ou seja, erro de horário, de dose, de medicamento não autorizado, da via de administração, da condição do paciente. Tem que conhecer detalhes para que o antimicrobiano seja usado corretamente”, argumenta Oliveira.

Assista uma aula sobre medicamentos antimicrobianos com o professor da pós de Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia no ICTQ, Edson Luiz Oliveira:

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