O crescente uso das canetas de GLP-1; medicamentos agonistas do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1 RAs), como a semaglutida, liraglutida, dulaglutida e outros; vem acompanhado de relatos de reações adversas significativas: desde náuseas e vômitos até pancreatite, obstrução intestinal, doenças biliares e até perda súbita de visão.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem alertado para a importância da notificação dessas reações e reforçado o controle dessas medicações no Brasil. Isso coloca o farmacêutico clínico no centro da orientação ao paciente, vigilância e detecção precoce de sinais de alerta.
Desde que a semaglutida foi lançada, ela abriu caminho para uma classe terapêutica que ganhou popularidade não apenas no tratamento do diabetes tipo 2, mas também - fora de indicação ou com grande apelo comercial - para o emagrecimento. No entanto, como todo medicamento que altera mecanismos metabólicos e gastrointestinais, os agonistas de GLP-1 apresentam perfil de segurança que exige vigilância atenta.
Assim, em junho de 2025, a Anvisa publicou um comunicado específico sobre a semaglutida, informando que ela pode estar associada à condição rara de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIAN-A), com perda súbita de visão. Simultaneamente, a Agência reforçou que o sistema de farmacovigilância (VigiMed) é o canal oficial para notificação de eventos adversos para todos os agonistas de GLP-1.
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Além disso, também no mesmo mês, foi publicada a norma que determina retenção de receita para os agonistas de GLP-1, entre eles medicações como a semaglutida, a tirzepatida e outras.
Esse reforço regulatório reflete a percepção de que, embora os benefícios sejam relevantes, os riscos, especialmente com uso fora de indicação, automedicação ou manipulações, devem ser considerados.
Principais reações adversas observadas na classe de GLP-1
Visão / neuropatia óptica
Como mencionado, a semaglutida tem alerta específico para perda repentina de visão via NOIAN-A. Mesmo sendo evento muito raro, exige atenção obrigatória: se paciente em terapia relatar visão turva, súbita ou piora rápida, o acompanhamento oftalmológico imediato é indicado e o farmacêutico deve orientar.
Trato gastrointestinal e vias biliares
Uma revisão recente brasileira sobre os agonistas de GLP-1 disponíveis no Brasil concluiu que há evidências de efeitos graves no trato gastrointestinal, incluindo gastroparesia, obstrução intestinal e doenças do sistema biliar, associados à classe.
Os sintomas mais frequentemente relatados incluem náuseas, vômitos, diarreia e constipação, mas alguns pacientes apresentaram complicações mais graves, como obstrução intestinal ou disfunção da vesícula biliar.
Pancreatite
Estudos internacionais e revisões apontam que o uso de agonistas de GLP-1 pode dobrar o risco de pancreatite em comparação com alguns outros tratamentos antidiabéticos.
Para o farmacêutico clínico isso significa vigilância especial em pacientes com história de doença pancreática, dor abdominal aguda nova ou alterações nas enzimas pancreáticas.
Rins e função renal
Embora algumas evidências sugiram efeito protetor renal em alguns contextos (por exemplo com liraglutida), é necessário também monitorar pacientes com função renal comprometida ou que estejam com estados de desidratação ou gastrointestinais graves (que podem comprometer a função renal secundariamente).
Uso fora de indicação/manipulação e outros riscos
O uso das canetas de GLP-1 para emagrecimento fora das indicações aprovadas ou via composições manipuladas é uma realidade no Brasil e configura um risco relevante. A Anvisa infelizmente alerta que muitos produtos são usados sem supervisão, o que pode elevar a chance de reações adversas ou complicações.
Implicações práticas para o farmacêutico
Para o farmacêutico clínico, a adoção dessa classe exige atenção a vários pontos:
- Ao dispensar ou orientar pacientes em uso de agonistas de GLP-1, esclarecer que embora os benefícios sejam grandes, estão presentes riscos que devem ser monitorados.
- Orientar o paciente sobre os sinais de alerta: visão turva ou súbita; dor abdominal persistente; vômitos ou náuseas intensas; constipação grave; sintomas de obstrução intestinal; queda súbita da função renal ou sinais de desidratação.
- Verificar indicação correta e adequação da dose, bem como adesão às condições de uso (por exemplo: paciente com diabetes tipo 2 ou obesidade conforme critério aprovado).
- Monitorar pacientes com comorbidades de risco: pancreatite prévia, doença biliar, retinopatia, doença renal avançada, uso concomitante de outros medicamentos que possam interagir ou agravar os riscos.
- Encaminhar ao médico ou especialista ao primeiro sinal de evento adverso grave e colaborar na notificação ao sistema VigiMed da Anvisa de suspeitas de reação adversa.
- Atuar como ponto de educação ao paciente: explicar que o emagrecimento rápido ou uso ‘por conta própria’ de canetas de GLP-1 pode levar a uma situação de risco, e que o acompanhamento médico e farmacêutico deve ser contínuo.
A classe das canetas de GLP-1, incluindo a semaglutida, liraglutida, dulaglutida e outras, representa um avanço significativo no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. Entretanto, os eventos adversos, que vão desde alterações gastrointestinais comuns até complicações graves como pancreatite, obstrução intestinal, doenças biliares ou perda de visão, colocam o farmacêutico clínico em uma posição central para garantir a segurança do paciente.
Ações de vigilância, orientação adequada e comunicação clara com o paciente e a equipe médica podem fazer a diferença entre um uso eficaz e seguro e um evento adverso evitável.
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