Nova diretriz redefine condutas sobre febre infantil e reforça papel do farmacêutico

Nova diretriz redefine condutas sobre febre infantil e reforça papel do farmacêutico

A nova diretriz da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), publicada em 2025, atualiza parâmetros clínicos e orientações sobre o manejo da febre em crianças, um dos sintomas mais comuns e temidos pelos pais. O documento redefine a temperatura de referência, os métodos de aferição e as condutas adequadas, destacando a importância do farmacêutico na orientação dos cuidadores e na prevenção da automedicação.

Para a professora do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e diretora tesoureira no Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), Danyelle Marini, as mudanças representam um avanço na abordagem clínica e no papel educativo do farmacêutico, especialmente na triagem e acompanhamento de casos leves.

Segundo a nova diretriz, a febre passa a ser considerada quando a temperatura axilar atinge 37,5 °C ou mais. Contudo, como explica Danyelle, o valor isolado não deve determinar o início do tratamento.

“A decisão de tratar não deve se basear apenas na temperatura, e sim no desconforto da criança. Se ela estiver ativa, hidratada, se alimentando e dormindo bem, o uso de antitérmicos pode ser dispensado”, explica a farmacêutica.

Temperatura e conduta: nem toda febre precisa de medicamento

Ela reforça que a febre é uma resposta natural do organismo a processos infecciosos ou inflamatórios, e que o foco deve estar no bem-estar e no comportamento da criança, não no número exibido pelo termômetro.

Entre as medidas recomendadas estão o uso de roupas leves, a manutenção de ambiente arejado e a oferta constante de líquidos. Já os medicamentos devem ser administrados apenas em situações de desconforto evidente, como irritabilidade, choro persistente ou distúrbios do sono.

Método de aferição e precisão dos resultados

A diretriz também dedica atenção à forma correta de aferir a temperatura, já que muitos erros de interpretação decorrem do uso inadequado dos dispositivos.

A SBP orienta que a medição axilar com termômetro digital é o método mais seguro e recomendado, especialmente em lactentes com menos de quatro semanas. Em crianças menores de um ano, o uso deve ser exclusivamente digital, enquanto os termômetros infravermelhos (timpânico ou frontal) só devem ser utilizados por profissionais de saúde treinados, devido à alta margem de erro em mãos leigas.

“É essencial que o farmacêutico ensine aos cuidadores como realizar a aferição corretamente e oriente sobre a importância do registro das medições, pois isso ajuda a acompanhar a evolução do quadro e evita interpretações equivocadas”, orienta Danyelle.

Riscos do uso indevido de antitérmicos

Apesar das orientações atualizadas, o uso indiscriminado de medicamentos como dipirona e paracetamol ainda é comum. Danyelle alerta para os riscos do uso inadequado, que incluem superdosagem acidental, hepatotoxicidade e intoxicações graves.

“No Brasil, a SBP recomenda apenas três antitérmicos pediátricos: paracetamol, dipirona e ibuprofeno. O ácido acetilsalicílico (AAS) é contraindicado devido ao risco de Síndrome de Reye”, explica.

Segundo ela, a atuação do farmacêutico é determinante para prevenir erros de dose e combinações indevidas. “O profissional deve calcular a dose conforme o peso da criança (em mg/kg), orientar o uso do dispositivo dosador correto e garantir que apenas um único antitérmico seja utilizado por vez”, afirma.

Além disso, a alternância entre medicamentos é uma prática desencorajada pela SBP, pois aumenta o risco de intoxicação e confunde os cuidadores, sem benefício comprovado na redução da temperatura.

Desmistificando a ‘febrefobia’ e combatendo a automedicação

A crença de que toda febre precisa ser “baixada” ainda é muito presente entre os pais - um fenômeno que especialistas chamam de ‘febrefobia’. Danyelle destaca que combater esse medo é uma das principais funções do farmacêutico clínico.

“Febre não é doença, é um sinal. O farmacêutico deve tranquilizar os cuidadores, explicar que a febre é uma reação natural do corpo e orientar que o mais importante é observar o estado geral da criança”, afirma.

Ela ressalta que o profissional deve evitar expressões alarmistas e reforçar condutas de observação: monitorar o comportamento, hidratação, apetite e padrão de sono. “A febre pode ser apenas acompanhada, desde que a criança esteja ativa, brincando e se alimentando normalmente”.

Entre os sinais de alerta que exigem avaliação médica imediata estão prostração, sonolência excessiva, desidratação, dificuldade respiratória, convulsões ou febre persistente por mais de 72 horas.

“Orientar o cuidador sobre esses sinais é tão importante quanto ensinar o uso correto dos medicamentos. O farmacêutico tem papel essencial na educação em saúde e na prevenção da automedicação infantil”, destaca.

Triagem clínica e encaminhamento correto

A nova diretriz da SBP (2025), em conjunto com o Guia de Boas Práticas Clínicas do Conselho Federal de Farmácia (CFF, 2018), reforça que o farmacêutico deve atuar na triagem de casos e na identificação precoce de situações potencialmente graves.

“O farmacêutico precisa saber reconhecer quando a febre pode indicar um quadro mais sério e orientar o encaminhamento ao médico. Essa é uma atribuição clínica respaldada pelo CFF”, explica Danyelle.

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Os sinais de gravidade incluem pele fria ou cianótica, sudorese intensa, irritabilidade extrema, vômitos persistentes, dor abdominal intensa, sangramentos e qualquer febre em bebês com menos de três meses.

Em situações de risco, o profissional deve evitar a dispensação de medicamentos, orientar o cuidador a buscar imediatamente um serviço de saúde e, em casos de emergência, acionar o SAMU (192).

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Atuação integrada e responsabilidade compartilhada

Além da triagem, Danyelle enfatiza que o farmacêutico deve atuar de forma integrada com outros profissionais da rede pública e privada. “A comunicação entre farmacêuticos, médicos, enfermeiros e agentes comunitários é fundamental para garantir a continuidade do cuidado e o monitoramento dos casos”, defende.

Ela destaca também o papel do farmacêutico na notificação de doenças transmissíveis, como dengue, zika, chikungunya e febre amarela, condições que frequentemente cursam com febre e exigem vigilância ativa.

“A febre, embora geralmente benigna, pode ser o primeiro sinal de doenças graves. O farmacêutico deve estar atento, registrar suas orientações e trabalhar em sintonia com a equipe de saúde para proteger a criança e apoiar a família”, resume.

Educação em saúde: a chave para o manejo racional da febre

Mais do que identificar e tratar, o farmacêutico é um educador em saúde. Cabe a ele corrigir mitos populares, como o medo de que a febre sempre cause convulsão, e esclarecer que o uso de compressas frias ou alternância de medicamentos não tem eficácia comprovada.

“O tratamento da febre visa aliviar o desconforto, não eliminar completamente a temperatura. É preciso desmistificar a febre e empoderar os cuidadores com informação segura”, conclui Danyelle Marini.

A nova diretriz da SBP reforça, portanto, o papel do farmacêutico como elo entre a ciência e a prática cotidiana. Sua escuta, orientação e presença na linha de frente são determinantes para o uso racional de medicamentos e a segurança das crianças, reafirmando o compromisso da profissão com o cuidado humanizado e baseado em evidências.

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