Um dos pontos altos da Pós-Graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica, do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico é o módulo sobre Farmacocinética Clínica e Farmacodinâmica. Enquanto a primeira refere-se à ciência da farmacologia que estuda tudo o que o organismo faz com a substância após administrada, a outra é tudo aquilo que a substância faz com o organismo.
Em suas aulas da pós-graduação do ICTQ, o professor Thiago de Melo ressalta que para estudar e compreender a farmacologia é preciso aprender a lidar com incertezas; admitir a própria ignorância; saber que publicações médicas não são verdades absolutas e que a leitura de conteúdos deve ser crítica, assim como não se deve acreditar na infalibilidade da medicina moderna. Outras dicas do docente são: cuidado com “terapias da moda” e valorização do paciente sempre em primeiro lugar. Já deu para perceber que o curso traz técnica e prática aliados para uma formação completa, não é?
Melo chama a atenção para os eventos da farmacocinética que abrangem a absorção do medicamento, seguido da distribuição, depois a metabolização e por sua vez a excreção. Muitas substâncias passam por essas quatro etapas, porém nem todo fármaco é distribuído, absorvido, metabolizado e excretado sucessivamente. No entanto, tudo pode acontecer em simultâneo.
“A simeticona, uma substância conhecida na farmácia, trata-se de um tensoativo no intestino, que diminui o tamanho das bolhas de gases que não se misturam com a água, facilitando a flatulência e a excreção dos gases. O trajeto da droga, ao ser ingerida, considera a ingestão. Ao chegar nos intestinos delgado e grosso, ela não sofre absorção e distribuição sistêmica, ou seja, não vai para todos os tecidos, e não sofre metabolização. Ressalta-se que, para um fármaco ter o efeito desejado, nem sempre se necessita passar pelas quatro fases. No caso da simeticona, ela apenas sofreu a excreção. E assim, pode existir uma série de exemplos que passam pelo mesmo processo. Quando algum fármaco é aplicado por via intravenosa, a absorção também está sendo abolida, visto que já está sendo distribuída. Ao aplicar por via intravenosa, já foi passado pela barreira da absorção”, explica o professor.
A absorção significa a transferência para a corrente sanguínea, estando vinculada à biodisponibilidade. Isso quer dizer, que se houve a transferência para a corrente sanguínea. Se já foi cessado o meio endovenoso, a etapa é abolida, indo diretamente para a distribuição.
Segundo Melo, existem alguns fatores que interferem na absorção do medicamento. São eles:
- Vias de administração;
- Carga da molécula (influência do pH);
- Coeficiente de partição;
- Peso molecular;
- Tempo de esvaziamento gástrico, que pode ser lento ou acelerado;
- Formulação do medicamento: e
- Fluxo sanguíneo no local da absorção e superfície de contato: quanto maior o fluxo sanguíneo, maior a superfície de contato, maior também a chance de ser absorvido.
Biotransformação
Um dos conceitos abordados pelo professor, no módulo sobre Farmacocinética Clínica e Farmacodinâmica, é o de biotransformação, cujo objetivo é tornar a molécula mais hidrossolúvel. Melo, ressalta que não se trata de algo que serve exclusivamente para fármacos, dado que existem substâncias produzidas pelo ser humano - endógenas -, sendo biotransformadas, além de substâncias químicas do ambiente, como nitrosaminas, benzopirenos, bisfenol do tipo A.
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Tudo isso, segundo o especialista, é passível de ser biotransformado para que se tornem hidrossolúveis. “Infelizmente, alguns produtos biotransformados passam a ser mais tóxicos do que o original, por exemplo: uma garrafa de água feita de plástico pode liberar uma substância (BPA) capaz de aumentar a pressão arterial. Contudo, nesse caso, o mais danoso é o seu metabólito”, fala Melo.
As biotransformações não acontecem apenas no fígado. Já foram identificadas enzimas de biotransformação no intestino, rins, pulmões, plasma sanguíneo, pele e cérebro. É fato que o fígado tem primazia pela maior expressão das enzimas que envolvem a biotransformação. Mas, é importante lembrar, conforme o professor, que já está sendo identificado que o intestino representa um órgão capaz de biotransformar.
“Quando se fala em efeito de primeira passagem, destaca-se que o próprio intestino pode ajudar nesse processo de biotransformação e, depois que o fármaco passa pelo sistema porta, o segundo momento de biotransformação seria o fígado. Assim, o efeito de primeira passagem acontece na relação intestino – fígado intestino-fígado antes de alcançar a veia cava inferior. Algo importante sobre o fígado é que, quanto mais vascularizado o meio, mais lento é o fluxo. Com o fluxo lento, há tempo suficiente para a troca entre as células e o sistema vascular. Além de enzimas em excesso e o fluxo lento, daria tempo de fazer uma troca tranquila em todas as regiões. A troca é mediada por metabólitos apolares que entram na célula, biotransformam e liberam o polar para fora, que se mistura posteriormente à água sendo excretado, sobretudo, pela urina”, explica Melo.
Alguns fatores podem interferir na biotransformação dos fármacos. Saiba quais são e por que isso ocorre:
- Espécie: pode haver diferenças entre asiáticos e ocidentais. Um exemplo é a álcool desidrogenase e a aldeído desidrogenase. O álcool é convertido em aldeído por meio do álcool desidrogenase. Já o aldeído é convertido em ácido acético por meio do aldeído desidrogenase. Ocorre que os orientais têm menos aldeído desidrogenase, portanto, acumulam mais facilmente o etanol, logo as ressacas são mais intensas. Conclui-se que o abuso menor de álcool pelos orientais pode ser justificado por uma variação enzimática de biotransformação;
- Idade: Idosos e feto possuem uma taxa de biotransformação comprometida que influencia diretamente no tempo de meia vida;
- Ambiente: Álcool e cigarros podem ser importantes indutores (principalmente em uso crônico) e aumentadores da resposta de biotransformação;
- Sexo: A expressão do álcool desidrogenase é 50% menor na mulher em relação ao homem. Como a mulher terá maior dificuldade de converter etanol em etanal, ela fica alcoolizada mais facilmente.
- Estados patológicos: Pacientes com hipotireoidismo, ascite e disfunção hepática pela cirrose são vulneráveis à queda da biotransformação. Já existem laboratórios que fazem um painel de CYP, avaliando as atividades de várias CYPs. Assim, sendo possível ter acesso a informações sobre o paciente, como, por exemplo, o paciente apresentando uma CYP2C9 muito fraca, se o profissional prescrever um medicamento que é biotransformado por essa CYP, pode ser feito um ajuste de doses. Trata-se de uma possibilidade de aliar um tema da Genética com outro da Farmacologia, surgindo assim a Farmacogenética, ainda caminhando a passos lentos no Brasil.
Farmacodinâmica clínica
Melo reitera que a farmacodinâmica se relaciona a tudo aquilo que a substância ativa faz com o organismo, os mecanismos de ação dos fármacos, possíveis efeitos colaterais que são indissociáveis de alguns mecanismos de ação, sendo ainda de extrema importância para os profissionais farmacêuticos.
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Segundo ele, obviamente, cada fármaco possui seu alvo, receptor específico, sua enzima, que pode ser estimulada ou inibida. No entanto, o sal de fruta, por exemplo, tem como substância ativa o bicarbonato de sódio, agindo com o ácido clorídrico. Nesse meio ácido, é formado o cloreto de sódio, liberando o hidrogênio para reagir com o bicarbonato. Em seguida, ocorre a forma de CO2 e água, gerando bolhas. Isso permite um efeito colateral que pode culminar com a eructação excessiva. Entretanto, o bicarbonato não apresentou nenhum efeito direito em receptores ou enzimas.
Nem sempre um fármaco possui um alvo específico. O professor explica que, de fato, existe um grupo não atuante em receptores clássicos - mas podem exercer seus efeitos - e outros que têm um receptor envolvido - uma proteína, geralmente encontrada na membrana celular ou no meio citozoico e que passam a ser alvos para determinadas substâncias.
“Neste ponto, é importante desfazer a ideia de que a farmacodinâmica estuda apenas receptores, mas abarca os efeitos que os fármacos provocam, sejam eles mediados por mecanismos de óxido redução, desnaturação proteica, osmóticos, regulação do pH etc. A percepção de que a substância ativa está envolvendo uma atuação em receptores pode ser evidenciada por meio da dose. Ou seja, um indivíduo de 70kg (70 milhões de mg) tem uma resposta com o Clonazepam de 0,5 mg, por exemplo”, explica Melo.
Saiba mais sobre Farmacocinética Clínica e Farmacodinâmica
O professor Thiago Melo integra o corpo docente da Pós-Graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do ICTQ. Assista a um trecho da videoaula ministrada por ele no módulo sobre Farmacocinética Clínica e Farmacodinâmica:
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