Conheça a regra dos ‘5 Ds’ para uso racional de antimicrobianos

Conheça a regra dos ‘5 Ds’ para uso racional de antimicrobianos

A adoção correta do antimicrobiano requer conhecimento farmacológico das drogas utilizadas na terapêutica. Ela está relacionada ao tipo de micro-organismo vinculado à infecção do indivíduo: bactérias, protozoários e fungos. A eficácia do tratamento depende ainda da dose, do tempo de terapia empregado e das condições do paciente. Resistência bacteriana é um dos desafios a ser combatido e a regra dos ‘5 Ds’ pode ajudar nisso.

“A escolha do antimicrobiano está relacionada ao tipo de micro-organismo vinculado ao tipo de infecção do indivíduo”, afirmou o farmacêutico e professor Edson Luiz de Oliveira, durante aula da pós-graduação em Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico.

Entre as estratégias para o uso racional de antimicrobianos o professor elenca: conhecimento do espectro de ação, diagnóstico bacteriológico, terapêutica dirigida, sensibilidade dos micro-organismos, hipersensibilidade aos antibióticos e terapia combinada em situações específicas.

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Oliveira cita a regra dos 5 D’s (da nomenclatura em inglês) como forma de se empregar antimicrobianos adequadamente: diagnóstico correto, usar o fármaco (drug) adequado, dose certa, duração (tempo) correto e descalonamento da terapia.

Um suporte importante para o diagnóstico correto é o exame antibiograma a ser pedido pelo médico. “Sempre que possível e necessário, o antibiograma deve ser solicitado, prezando pelo uso racional dos antimicrobianos e evitando possíveis resistências e, claro, melhorando a qualidade de vida do paciente”, afirma o farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni.

Contudo, Poloni destaca que nem sempre é possível aguardar o exame para combater a doença. “A solicitação de antibiograma é importante, entretanto, na maioria dos casos, pode ser necessário iniciar o tratamento o quanto antes, baseado em sinais e sintomas, a critério médico, por meio da terapia empírica”, diz.

Em sua grande maioria, as bactérias são benéficas ao ser humano, mas existem aquelas responsáveis por causar infecções. Bactérias patogênicas podem levar a doenças como meningite, otite, infecção pulmonar, infecção de pele, DST, infecção ocular, faringite, gastrite e infecção urinária.

Entre as principais espécies bacterianas que causam infecções no ser humano estão: streptococcus pneumoniae (causadora de meningite, otite, infecção pulmonar, sinusite), staphylococcus aureus (infecção de pele, infecção ocular), helicobacter pylori (gastrite), salmonella (diarreia), escherichia colli (infecção urinária), neisseria gonorrhoeae (DST, infecção ocular).

Os medicamentos antibacterianos são derivados de bactérias ou fungos ou são sintéticas. Eles devem ser utilizados somente se houver evidências clínicas ou laboratoriais de infecção bacteriana. A utilização para doenças virais ou febres inespecíficas é inadequada e expõe o paciente a efeitos colaterais sem qualquer benefício e contribuindo para a resistência bacteriana, conforme revela o Manual da MSD. Em geral, deve-se usar antibióticos com o espectro mais estreito possível de atividade e pelo menor período de tempo.

Protozoários são organismos maiores do que as bactérias. Eles são divididos de acordo com o tipo de estrutura de locomoção. Entre os causadores de infecções no ser humano mais conhecidos estão o trypanosoma cruzi, responsável pela doença de chagas, o toxoplasma, que causa a toxoplasmose, e o plasmódio, agente causador da malária. Antiprotozoário é uma classe de medicamentos usado para tratar protozooses.

Fungos também estão relacionados a infecções que acometem o ser humano. Eles possuem diversidade estrutural: leveduras, bolores e uma combinação de estrutura (dimórficos). A infecção causada pelos fungos são conhecidas como micoses, que podem ser: superficiais (acometem as camadas superficiais da pele, pelos e pele), cutâneas (atingem a epiderme mais profunda), subcutâneas (derme, tecido subcutâneo, músculos), sistêmicas (órgãos e sistemas internos) e oportunistas (acometem indivíduos debilitados).

Antifúngico ou antimicótico é uma medicação fungicida utilizada para tratar e prevenir micoses como pé de atleta, dermatofitoses, candidíase, infecções sistêmicas, entre outros. Boa parte dessas drogas é obtida por meio de prescrição médica.

Resistência antibacteriana

Está cada vez mais comum encontrar cepas ou espécies bacterianas que são resistentes ao uso de antibacterianos. É o que mostra um mapeamento mundial sobre o tema mostrado pelo professor durante a aula. Segundo esse estudo, em 30 anos, ocorrerá um marco para a história futura da humanidade, pois se atingirá o pico da ocorrência de mortes causadas por bactérias resistentes a antibacterianos.

“Existe uma previsão para 2050 sobre as mortes provocadas por infecções provocadas por bactérias resistentes a antibacterianos. Nessa data, na Ásia, seriam 4,7 milhões de óbitos, na África, 4,1 milhões, na América Latina, 392 mil, na Europa, 390 mil, na América do Norte, 317 mil, e na Oceania, 22 mil”, revela Oliveira.

Para que o problema não se agrave, a Organização Mundial de Saúde (OMS) prega o uso racional de antimicrobianos. “Aquele que maximiza os efeitos terapêuticos clínicos, enquanto minimiza tanto a toxicidade relacionada aos medicamentos quanto ao desenvolvimento da resistência antimicrobiana”, diz a entidade.

“O conhecimento dos diferentes mecanismos de resistência e sua interpretação clínica-laboratorial é essencial para a escolha terapêutica mais adequada”, explica o professor do ICTQ. Segundo ele, o sucesso da terapêutica antimicrobiana depende de três elementos: fármaco, hospedeiro e organismo.

É preciso avaliar o micro-organismo, a condição clínica, ou seja, a patologia, a sensibilidade, o fármaco envolvido e o paciente. “A eficácia do uso de um antimicrobiano vai depender do micro-organismo, da doença estabelecida, do paciente e do fármaco escolhido, que será utilizado de acordo com a sensibilidade. Deve-se conhecer, ainda, aspectos relativos à farmacocinética”, diz Oliveira.

O uso equivocado de antibacterianos envolve a escolha incorreta do fármaco (aplicá-lo em uma infecção viral, por exemplo), dosagem inadequada, tempo de utilização incorreto, utilização de terapêutica de prova em pacientes febris sem diagnóstico definido e via de administração inadequada. “Ou seja, erro de horário, de dose, de medicamento não autorizado, da via de administração, da condição do paciente. Tem que conhecer detalhes para que o antimicrobiano seja usado corretamente”, frisa o professor.

Entre os princípios que regem o uso de antibacterianos estão: idade, histórico de hipersensibilidade, função renal e hepática, gravidez, estudo imunológico, uso recente de antibiótico, local de atendimento. Na infecção propriamente deve-se ater ao seu local, agente microbiológico, gravidade, dados epidemiológicos, fármaco e as condições do paciente.

No caso do medicamento empregado, é preciso conhecer o seu mecanismo de ação, farmacocinética, espectro de atividade, dose prescrita, posologia e via de administração. Além da interação com outros antibióticos e fármacos, incompatibilidade de administração, atividade microbiana, potencial de resistência, contraindicação e custo.

Atuação do farmacêutico

O farmacêutico está diretamente envolvido na política do uso racional de medicamentos. Segundo o professor, para que este profissional esteja preparado é fundamental ter atitudes e habilidades que permitam agregar-se à equipe de saúde e interagir com o paciente e a comunidade, de forma a educar sobre o uso adequado dos antimicrobianos, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, em especial no êxito farmacoterapêutico.

“Resistência bacteriana é atualmente um grande desafio, que passa por vários profissionais de saúde, para que se tenha o uso racional de antibacterianos”, enfatiza Oliveira.

“Lutar frente à resistência exige uma equipe formada por infectologistas com boa formação em antibioticoterapia, farmacêutico clínico ou hospitalar, laboratório de microbiologia, comissão de controle das infecções hospitalares, administradores hospitalares, estatísticos com formação em epidemiologia hospitalar e equipe de suporte de informática”, explica o professor do ICTQ.

Dentre as diversas atribuições do farmacêutico, destacam-se a prevenção do uso inadequado de antimicrobianos, avaliação da prescrição quando à ocorrência de erros e interações medicamentos, prestar assistência farmacêutica por meio de ações de educação continuada, informando quanto ao modo de uso dos antimicrobianos, sobretudo alertando sobre a importância de sua administração no horário prescrito e as condições de armazenamento adequado.

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Oliveira lembra de outros aspectos que o farmacêutico deve ficar atento na dispensação de antimicrobianos: febre isolada não é indicativo de infecção que exija antibiótico, deve-se avaliar a resposta em 72 horas, o uso do medicamento não deve se prolongar por muito tempo (salvo em condições especiais) e verificar sempre a adesão ao tratamento, bem como ajustar a forma de administração. A profilaxia pré-operatória deve seguir normas (tempo otimizado), monitorização de antimicrobianos nefrotóxicos, avaliar interações e evitar antibióticos de uso tópico (exceto infecções oculares e cutâneas).

Na busca de uma antibioticoterapia eficaz, deve-se ter em mente que todos os antibióticos contribuem para a pressão seletiva e seleção de micro-organismos resistentes, sendo que os antibacterianos de espectro restrito são sempre mais efetivos e selecionam menos organismos resistentes. Já a utilização de dados microbiológicos é sempre recomendada, em contraposição à terapia empírica, assim como se deve utilizar sempre consensos e diretrizes atualizados como referência terapêutica.

“Caso a antibioticoterapia não esteja sendo eficaz, reavalie o quadro: presença de infecção não bacteriana (viral, por exemplo), adequação da dose empregada, perfil farmacocinético inadequado (o fármaco não atinge o sítio infeccioso), diminuição da imunidade do paciente por fármacos ou comorbidades e presença de cepas resistentes”, diz Oliveira.

Na interação entre o farmacêutico e o paciente, o professor aconselha o profissional se certificar se a prescrição está legível, datada, dentro do prazo de validade e com o tempo de tratamento. Pode sugerir a substituição do medicamento por um genérico, orientando sempre sobre o uso correto, especialmente o cuidado com o horário.

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