O laboratório norte-americano Gilead já disponibiliza o antiviral remdesivir para hospitais privados no Brasil, segundo o Valor. Primeiro lote do medicamento, com 5 mil frascos, chegou ao País e poderá ser usado em mil pacientes.
Remdesivir foi o primeiro medicamento aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratamento de pacientes internados com Covid-19. O antiviral é usado em casos moderados da doença em pacientes sem ventilação mecânica, na fase viral da doença.
Os estudos clínicos feitos pelo National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) – ACTT-1 – e coordenado pelo médico brasileiro André Kalil mostraram que o uso do medicamento impede a progressão para uma doença respiratória mais grave, acelera o tempo de recuperação entre cinco e sete dias e reduz a mortalidade.
Segundo o presidente do laboratório no País, Christian Schneider, está prevista a chegada de mais uma remessa de 10 mil frascos na semana que vem, o que poderá atender cerca de 2 mil pessoas. “Essas importações vão acontecer rotineiramente, à medida que a demanda se torne mais crescente”, disse Schneider ao Valor.
O executivo ressaltou ainda que a Gilead submeteu o medicamento à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) em 20 de abril, para a aprovação e incorporação do antiviral na lista de remédios do Ministério da Saúde. Somente com essa avaliação técnica, o fornecimento para o setor público poderá ser iniciado.
Contudo, as negociações com o Governo ainda esbarram no quesito preço. “Enviamos um dossiê provando que o uso do remdesivir é benéfico. Agora, dizer que esse beneficio é marginal, não concordamos. Redução de tempo de internação e mortalidade, como comprovam os estudos, são muita coisa. Achamos que tem que se avaliar a ciência e depois o preço”.
Segundo Schneider disse ao Valor, a Gilead tem programas específicos de preço de acordo com cada país com que negocia. Hoje, o antiviral é ministrado nos Estados Unidos, Canadá, Europa e países da Ásia e América Latina. Cerca de 4 milhões de pacientes já usaram o medicamento no tratamento da Covid-19. “Todos falam do preço dos Estados Unidos, mas nunca me perguntaram qual seria o preço para os contratos com o setor público brasileiro. O custo não é o problema, vamos discutir a ciência”, justificou.
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O executivo confirmou ao jornal que a companhia tem condições de atender a demanda mundial do medicamento e que, no ano passado, fez uma parceria com a Índia para ampliar a capacidade do remdesivir. Atualmente, o medicamento é fabricado nos EUA e no país asiático.
“O Brasil também foi considerado naquele momento. Agora, com a situação na Índia, toda a fabricação de lá está destinada ao mercado local. Mas temos condições de atender a demanda mundial”. Schneider acredita que a diminuição da pandemia nos países do Hemisfério Norte ajuda a reduzir a demanda. “Por isso, não dependemos mais de parcerias produtivas. Até porque toda a transferência de tecnologia duraria de seis meses a um ano”.
Pelo novo protocolo de atendimento recomendado pela Conitec, as novas tecnologias, incluindo o remdesivir, não foram contempladas. O que se prescreve como tratamento da Covid-19 é basicamente anticoagulantes e corticoide, apurou o Valor.
Controvérsias do remdesivir
Em recente live promovida pelo ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, o farmacêutico e professor de pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica da instituição, Thiago de Melo, falou sobre a eficácia de vários medicamentos para a Covid-19.
Acerca do remdesivir, Melo explicou: “O papel dele é inibir a replicação viral. Ele tem o papel de apenas atrapalhar a replicação. Saber se ele tem ação imunomodulatória ou então atuar melhorando no desfecho de sinais e de sintomas será investigado nos próximos estudos”.
O especialista trouxe estudos científicos que divergem quanto à eficácia do medicamento e deixam questionamentos quanto à sua eficiência no tratamento da Covid-19. Ele pontuou, ainda, que é preciso haver “estudos mais robustos, com maior número de pacientes para que tenhamos maior chance de certeza daquilo que estamos investigando”.
Com bases no estudo que apresentou uma melhora expressiva dos pacientes, Melo apontou que os resultados não podem ser vistos como uma recuperação excelente, além disso, lembrou que, considerando o alto custo do medicamento ao hospital (em média R$ 18 mil por paciente), fica difícil considerar o remdesivir como uma ‘bala de prata’ para tratar a Covid-19.
Para assistir a participação do professor Thiago de Melo na íntegra, basta acessar a página do ICTQ no Instagram.
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