As consequências da intoxicação por vitaminas em excesso

As consequências da intoxicação por vitaminas em excesso

Fundamentais para o bom funcionamento do organismo, quando consumidas em excesso as vitaminas podem causar diversos males à saúde. Tem até nome para isso: hipervitaminose, que é a intoxicação decorrente da ingestão excessiva de vitaminas, conforme o Jornal da USP. Consulta e prescrição farmacêutica podem evitar o consumo exagerado, dizem especialistas.

“As vitaminas desempenham papel fundamental na constituição, elaboração e resposta das células que constituem nosso organismo, principalmente no que diz respeito às enzimas, substâncias que adiantam ou retardam uma reação orgânica. Organismo sem vitamina é organismo falido, não funciona de forma adequada. Por isso, as vitaminas presentes nos alimentos naturais são fundamentais para a sobrevivência humana”, assinala o médico Alberto de Macedo Soares em entrevista ao blog do Dr. Drauzio Varella.

Embora sejam essenciais para a sobrevivência humana, a suplementação vitamínica é quase sempre desnecessária. Os alimentos naturais fornecem a quantidade que o organismo precisa. “A grande maioria das pessoas, com ingestão diária de frutas e verduras, não precisa acrescentar nenhum tipo de vitaminas vendida nas farmácias”, diz Soares.

Entretanto, a pretexto de prevenir doenças ou aumentar a imunidade, especialmente em tempos de pandemia, muitas pessoas têm recorrido ao consumo indiscriminado de suplementos vitamínicos, sem atentar para os riscos que isso pode causar à saúde.

“As vitaminas são fundamentais para o bom funcionamento do nosso organismo e para a manutenção da saúde, mas quando ingeridas em excesso podem causar diversos danos também, muitas vezes graves”, alertou ao Jornal da USP a acadêmica Giovanna Bingre, orientada pela professora Regina Andrade, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

Varella lembra em seu blog que o apelo para o consumo de vitaminas é forte, vem de longe e acabou criando uma cultura, que poderia ser chamada de vitaminocultura, em função da qual muitas pessoas tomam desnecessariamente e sem critério grande quantidade desses micronutrientes todos os dias que, em alguns casos, pode levar à hipervitaminose.

Segundo Giovanna, dificilmente a hipervitaminose ocorre pelo consumo de alimentos ricos em vitaminas. A maioria dos casos vem do consumo indiscriminado de suplementos vitamínicos, que só devem ser usados com indicação médica, “para que sejam ingeridos na quantidade certa e também no tempo certo”.

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Intoxicação

As intoxicações mais frequentes e mais graves estão relacionadas a níveis altos de vitaminas A e D. A hipervitaminose A pode apresentar sintomas agudos, crônicos e também os teratogênicos. Entre os agudos, destaca-se a visão embaçada, perda de apetite, pigmentação anormal da pele, perda de cabelo e pelos, pele seca e dor nos ossos. Pode causar ainda hepatite com necrose celular e icterícia, além de estar associada com a carotenemia (aumento dos níveis de betacaroteno no sangue).

Quando a hipervitaminose A se torna crônica, diz Giovanna, a evolução pode chegar à doença óssea e aumento das fraturas. Já os efeitos teratogênicos ocorrem em gestantes no primeiro trimestre da gestação, podendo levar a abortos espontâneos e malformações fetais.

Também a hipervitaminose D pode trazer diversos danos à saúde, com destaque para a hipercalcemia. A explicação, segundo a acadêmica da USP, é o fato de a vitamina D apresentar papel importante na regulação do cálcio; desta forma, seu excesso “acaba gerando perda da função renal, além de poder ainda levar à perda óssea”. A hipervitaminose D pode acarretar vários outros problemas, que incluem sintomas neuropsiquiátricos, gastrintestinais, cardiovasculares e diversas complicações renais.

Giovanna alerta ainda para o uso indiscriminado de outras vitaminas, com sintomas como reações alérgicas, no caso da vitamina B12, ou queda na frequência respiratória e convulsões, para a vitamina B1, e até mesmo neuropatias no excesso de vitamina B6, “fazendo com que o paciente tenha os nervos danificados, causando dor e dormência nos pés e nas pernas”.

Há alguns anos, algumas correntes da medicina como a ortomolecular atribuem às vitaminas papel antioxidante no organismo, sendo responsáveis por ajudar a eliminar radicais livres de oxigênio que ‘sujam’ as células. Contudo, Alberto de Macedo Soares não acredita que isso funcione como se esperava e que as vitaminas em excesso podem até aumentar a produção de radicais livres.

“Testes in-vitro revelaram que as vitaminas exercem função inibitória na produção excessiva de radicais livres. Porém, quando se tentou aplicar essa experiência em seres humanos, verificou-se que o resultado não é o mesmo. Ao contrário: a possibilidade de as pessoas produzirem radicais livres aumenta com o uso de vitaminas. Isso mostra que o organismo humano é muito mais complexo do que qualquer ensaio laboratorial”, diz Soares.

O médico lembra de uma pesquisa que confirma sua avaliação. “Estudo científico realizado com betacaroteno, um precursor da vitamina A, para prevenir câncer de pulmão em fumantes, apontou que seu consumo fez crescer o número de casos da doença nos usuários”.

Soares rebate também uma crença popular de que a vitamina ‘se não fizer bem, mal também não faz’. “Essa história não procede. Antigamente, a tripulação dos navios tinha carência de vitamina C e desenvolvia escorbuto, uma doença que provoca sangramentos, porque os marinheiros passavam muito tempo em alto mar sem ingerir alimentos frescos. Hoje, porém, trabalhos mostram que a retirada abrupta de megadoses de vitamina C pode provocar um quadro semelhante ao de escorbuto, além de cálculo nos rins e distúrbios gastrintestinais”.

Giovanna Bingre concorda que a suplementação vitamínica nem sempre é necessária e pode até ser prejudicial quando consumida em excesso. Segundo ela, “uma alimentação balanceada é capaz de fornecer todos os nutrientes que o organismo precisa para funcionar bem”.

Apenas em alguns casos específicos o suplemento vitamínico é aconselhado, lembra Soares. “Existem algumas situações em que as vitaminas devem ser indicadas. É o caso da carência da vitamina B12, que pode provocar déficit de memória. Outro exemplo é o da indicação de vitamina D para os portadores de osteoporose. Sabemos que a associação de vitamina D e cálcio altera a densidade dos ossos, pois ajuda a fabricar tecido ósseo”.

Toxicidade de algumas vitaminas

Vitamina D

Segundo o Manual MSD, a toxicidade de vitamina D é decorrente da ingestão excessiva. Nesse caso, a reabsorção do osso e a absorção intestinal de cálcio é maior, resultando em hipercalcemia. O tratamento consiste em suspender a vitamina D, restringir o cálcio na dieta, restabelecer o déficit intravascular e, se a toxicidade for grave, administrar corticoides ou bifosfonatos.

Vitamina C

A ingestão diária de mais de 2g de vitamina C, segundo o Manual MSD, pode causar náuseas e diarreia, interferir no equilíbrio fisiológico entre antioxidantes e pró-oxidantes e, nos pacientes com talassemia ou hemocromatose, promover sobrecarga de ferro.

Vitamina E

Quantidades relativamente altas de vitamina E não costumam fazer mal, segundo o Manual MSD, mas em alguns casos ocorre fraqueza muscular, fadiga, náuseas e diarreia. O risco mais importante é o de sangramento, principalmente com doses maiores que 1000mg por dia.

‘Empurroterapia’ e o excesso de consumo de vitaminas

Prática antiga que consiste na indicação comercial de medicamentos e vitaminas a clientes em troca de comissões, a ‘empurroterapia’ voltou a ficar em evidência por conta de uma reportagem exibida no Fantástico, da TV Globo, do último domingo (16/5).

No programa, foi mostrado que os laboratórios – que faturaram R$ 76,9 bilhões em 2020, conforme dados da consultoria IQVIA – pagam comissões de até 30% e dão viagens internacionais para que balconistas de farmácias indiquem medicamentos e vitaminas aos clientes desses estabelecimentos.

Mas essa forma de incentivar o consumo vai muito além da praticada no interior das farmácias. “A empurroterapia acontece diariamente em consultórios, outdoors, nos discursos políticos, nas redes sociais e na televisão, principalmente, em propagandas e merchandisings veiculados em noticiários e programas de entretenimento. Apontar apenas a farmácia é hipocrisia”, revela o fundador do ICTQ, Marcus Vinicius Andrade.

Ela acontece também na internet. Não são poucos os ‘influencers’, como são chamados os influenciadores digitais, que aproveitam sua fama – e os milhares ou milhões de seguidores – para vender vitaminas. Como fez Gabriela Pugliesi, que tem cerca de 4,5 milhões de seguidores no Instagram, com uma vitamina para cabelos.

Para fugir da ‘empurroterapia’, um dos caminhos mais seguros é seguir as recomendações dos profissionais farmacêuticos, por meio da consulta farmacêutica, como lembra a coordenadora acadêmica dos cursos de pós-graduação do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, e especialista em farmácia clínica e prescrição farmacêutica, Juliana Cardoso.

“Vitaminas, nutracêuticos ou qualquer outro medicamento isento de prescrição médica, ao ser prescrito pelo farmacêutico, necessita atender as demandas para que a prescrição seja realizada de forma personalizada à necessidade do paciente”, diz Juliana.

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Para isso, segundo ela, a consulta farmacêutica se faz necessária. “Durante a consulta, o farmacêutico desenvolverá o prontuário do paciente, com sua queixa principal, histórico médico atual, história pregressa e outros fatores que serão extraídos durante a anamnese e semiologia farmacêutica, em que o profissional analisará sinais e sintomas e, se necessário, complementará com solicitação de exames laboratoriais para melhor análise da saúde do paciente”, completa.

Segundo ela, esses dados contribuirão para que o farmacêutico projete o plano de cuidado ao paciente, que prevê medidas farmacológicas como a prescrição de vitaminas, sais minerais e medidas não farmacológicas – alimentação saudável, por exemplo.

“No ato da consulta, pedimos que o paciente nos fale dos medicamentos que ele faz uso. Isso implicará no que será prescrito e até mesmo na posologia indicada. Em casos de hipervitaminose, exames laboratoriais são importantes para nortear o prescritor da necessidade do paciente”, destaca Juliana.

Por fim, a coordenadora acadêmica do ICTQ enfatiza que as pessoas “sempre procurem por um farmacêutico de ótima qualidade, que se preocupe com a saúde e não com o bem financeiro. Que encontrem o farmacêutico que de fato exerça a farmacoterapia e o acompanhamento farmacoterapêutico”.

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