Uma recente pesquisa realizada com moradores de Manaus revelou que pessoas que fizeram uso de medicamentos preventivos contra o coronavírus foram as mais atingidas pela Covid-19. Em números, a prevalência foi de 38,6%, contra 25,9% no grupo daquelas que não utilizaram nenhum medicamento com esse objetivo.
Esse resultado foi apontado pela pesquisa DETECTCoV-19, realizada por estudiosos da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).
Além das instituições nacionais, o estudo contou com a parceria das entidades peruanas; Universidad Peruana Cayetano Heredia e o Instituto de Evaluación de Tecnologías en Salud e Investigación, conforme publicado pelo Uol.
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Para o levantamento, os pesquisadores começaram a acompanhar, desde agosto do ano passado, 3.046 pessoas na capital do Amazonas.
De agosto a setembro foi realizada a primeira fase da pesquisa. Nessa etapa, eles verificaram que, durante aquele período, a Covid-19 teve maior incidência nas pessoas que usaram algum medicamento com o intuito de prevenir a doença. Além disso, a pesquisa também verificou que o índice de contaminação da Covid-19 foi maior em famílias pobres.
"As pessoas que se medicam, de alguma forma, sentem-se seguras e baixam a guarda. Quando a gente falava isso sem dados, poderia até se questionar. Mas agora temos esses dados da população de Manaus. Não é uma coisa longe da realidade", afirma uma das coordenadoras da pesquisa, Jaila Borges, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UFAM.
Essa falsa segurança na proteção contra a doença refletiu nos números da contaminação, nessa primeira fase da pesquisa, já que foram 25,9% de pessoas infectadas que não utilizaram medicamentos preventivos, contra 38,6% dos que tomaram.
Essas proporções se repetiram nas duas amostragens já concluídas. Os medicamentos mais tomados como forma profilática foram a ivermectina e o paracetamol. Cabe lembrar que nenhuma delas tem qualquer efeito comprovado para a prevenção da Covid-19.
Jaila cita que a cultura brasileira da automedicação é um dos maiores desafios, somado com a "ineficiente comunicação científica que temos e à ausência de educação midiática".
De acordo com ela, isso tem ficado mais evidente na terceira fase da pesquisa, que está em andamento. "Ouvimos de muitas pessoas que perderam muitos familiares questionando que a pessoa tomava ivermectina para prevenir Covid-19, porque o médico orientou ou porque ouviram falar que funcionava", explica.
Orientação dos farmacêuticos
Ao longo da pandemia, medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina, vitamina D e muitos outros, foram apontados como fármacos preventivos e até mesmo para tratar a Covid-19. No entanto, agências sanitárias, inclusive a própria Organização Mundial da Saúde (OMS), desaconselharam seu uso em casos da doença, pois eles não demonstraram eficácia para essa finalidade.
No entanto, como citado por Jaila, a falha na comunicação, somada com recomendações de alguns médicos e até pessoas próximas, faz com que muitos pacientes acreditem no potencial desses medicamentos no combate à Covid-19.
Nesse cenário, a importância do farmacêutico é essencial para dar esclarecimentos corretos à população, já que este profissional tem contato direto com o paciente, conforme defende a coordenadora acadêmica do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, e especialista em farmácia clínica e prescrição farmacêutica, Juliana Cardoso.
Ela reforça a atuação do farmacêutico para fazer a devida orientação ao paciente sobre esses medicamentos e esclarecer sobre os efeitos colaterais que o uso indiscriminado deles pode causar.
“Além de efeitos colaterais, que são diferentes daqueles considerados como principal por um fármaco, o indivíduo se expõe a uma chance de reação adversa, que se caracteriza como qualquer resposta prejudicial ou indesejável, não intencional, a um medicamento. Além dessas ações indesejáveis, os pacientes ainda se expõem ao risco de intoxicações, insuficiências hepáticas e até mesmo hepatite medicamentosa, que é uma grave inflamação do fígado causada pelo uso prolongado de medicamentos”, explicou.
Quanto à comunicação, o farmacêutico e professor da Pós-Graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do ICTQ, André Schmidt, explica que os profissionais de saúde devem ser pautados pelo conhecimento científico, e assim, levar informações claras e verídicas aos pacientes, em especial, nesse momento em “estamos rodeados de notícias falsas, principalmente, as que envolvem o chamado 'kit-covid'.
“O que falta ao farmacêutico e para outros profissionais de saúde, para não compartilhar notícias falsas é buscar informações plausíveis e realmente fidedignas. Essas informações podem ser procuradas em sites recomendados, como os de pesquisas, que os próprios pesquisadores utilizam como base de dados para buscar artigos científicos, lá é um celeiro de informações corretas, além de livros e textos”.
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