Dados das secretarias municipais de Saúde alertam que, em vários estados, os estoques públicos de medicamentos para intubação, estão em níveis críticos e, se continuarem assim, podem acabar nos próximos 20 dias. A notícia foi divulgada ontem (17/03), no Jornal Nacional.
O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) fez o alerta do possível desabastecimento e pediu que o Ministério da Saúde atue em conjunto com a indústria para garantir que os produtos continuem a ser fornecidos.
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“O importante é que, nesse momento de gravidade, nós estejamos reunidos principalmente sob a regulação do Ministério da Saúde com a participação da indústria para nós estarmos regulando essa produção desses medicamentos; Ministério da Saúde e indústria para que não faltem nos hospitais de referência, principalmente nas unidades que estão no plano de contingência", afirmou o presidente do Conselho, Wilames Freire.
O chamado kit intubação tem, entre outros itens, remédios para anestesia, sedação e relaxamento muscular, que, são indispensáveis para o tratamento dos pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s).
Estados em situação alarmante
Entre os Estados que já estão em alerta com a possibilidade de esgotar os itens do kit intubação estão: Paraná, Pará, Distrito Federal e Florianópolis.
A Secretaria de Saúde de Santa Catarina já afirmou que corre o risco de ter desabastecimento. A situação é crítica no Hospital Estadual Nereu Ramos, que está diluindo os medicamentos de intubação para fazê-los render mais.
No Paraná só há bloqueadores neuromusculares suficientes para apenas dois dias. Além disso, os sedativos e analgésicos devem durar apenas mais uma semana.
No Pará, os 12 hospitais da rede estadual têm estoque do kit intubação pelos próximos 15 dias. Enquanto isso, a rede pública do Distrito Federal está com baixo estoque de antibióticos e sedativos.
E, para piorar, no DF, dois medicamentos estão esgotados: o propofol - anestésico geral de curta duração; e o vecurônio - relaxante muscular, que facilita a introdução do tubo na traqueia.
O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga já foi informado da situação, mas ainda não se pronunciou sobre o assunto. O Jornal Nacional afirmou que, fontes não identificadas, revelaram que representantes de laboratórios informaram ao Governo que não conseguem atender toda a demanda em curto prazo. Além disso, segundo o JN, esses representantes sugeriram a importação dos produtos.
Consequências do desabastecimento
Os profissionais de saúde, que estão na ponta desse problema, já enxergam as graves consequências que o desabastecimento e baixo estoque dos medicamentos de intubação podem acarretar nas outras áreas, além das UTI’s de Covid-19, conforme explica a presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Suzana Lobo.
“Muitos desses medicamentos são usados para outros pacientes, são usados para cirurgias, por exemplo, e a hora que faltar vai ser um grande problema para continuar tocando as cirurgias de emergência e depois as cirurgias eletivas”.
Já o farmacêutico do Ministério da Saúde e professor da Pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni, lembra que na primeira onda da Covid-19 no Brasil houve quebra de estoque em diversos medicamentos, inclusive os de intubação.
Segundo ele, isso se deu porque, mediante o aumento da demanda, as indústrias, que estão no País, não conseguiram acompanhar o crescimento expressivo da procura desses medicamentos.
Poloni alerta que o desabastecimento do kit intubação pode refletir em baixa no estoque também na farmácia, com possíveis novidades de tratamento para o novo coronavírus, e, para impedir isso, é importante que haja diversidade nos medicamentos.
“Tem que haver sempre opções de tratamento; várias linhas diferentes, para que, na falta de um, outro consiga utilizar uma outra classe farmacológica, um outro tipo de medicamento, ou até mesmo uma outra substância dentro da mesma classe farmacológica.”
O farmacêutico compara esse atual cenário com o ocorrido no ano passado, quando, no início da pandemia, a hidroxicloroquina chegou a ser vista como um possível tratamento contra o coronavírus e gerou lacunas nos estoques das farmácias.
“Na primeira onda, um estudo que mostrou a possível eficácia da hidroxicloroquina contra o novo coronavírus, fez o medicamento esgotar das farmácias. Não tinha mais estoque dele, o sistema público não conseguiu mais comprar para os pacientes, que já utilizavam esse medicamento no SUS. Como consequência, os pacientes de lúpus ficaram durante meses desassistidos por não conseguir comprar esse medicamento de uso contínuo devido ao desabastecimento”, explicou.
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