Um ano depois que a pandemia foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), muito se descobriu sobre o novo coronavírus. Mas apesar da força-tarefa da comunidade científica em escala global, algumas perguntas seguem sem resposta. A BBC News selecionou quatro dessas questões em aberto.
Em 11 de março de 2020, a crise sanitária causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) era oficialmente considerada uma pandemia. De lá para cá, houve mais de 2,65 milhões de mortes e 119 milhões de infectados. Só no Brasil, são quase 280 mil mortos e 11,5 milhões de infectados.
Quando o primeiro caso foi detectado na China, em dezembro de 2019, os efeitos do vírus eram desconhecidos por pacientes, médicos, cientistas e governos. Desde então, a ciência reuniu um volume grande de evidências sobre o novo coronavírus – descobriu como ele é transmitido e se reproduz no organismo e a maneira mais eficaz de se prevenir e tratar quem fica doente.
Some-se a isso a grande vitória da ciência, que foram as vacinas desenvolvidas em tempo recorde. O grande desafio agora é fazer chegar os imunizantes à população mundial e combater os negacionistas e as fake news, que ainda proliferam e atrapalham toda sorte de cuidados com a doença, como destaca o farmacêutico do Ministério da Saúde e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni.
“Devemos nos deter a informações verídicas, certificar-nos que elas não são fake news, utilizando apenas as fontes oficiais, confiáveis, como os sites da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde, e estudos científicos devidamente construídos, publicados em revistas de alto impacto e confiabilidade”, diz Poloni.
“A pandemia do Covid-19 está nos assustando há mais de um ano e informações sobre mortes, medicamentos, terapias e vacinas sobrecarregam nossos pensamentos, inclusive sobre a veracidade das mesmas. Em contrapartida, os pesquisadores do mundo inteiro vêm se dedicando arduamente para esclarecer todas as dúvidas que pairam sobre o novo coronavírus”, diz Rafael.
E as dúvidas ainda são muitas. A Covid-19, doença que o Sars-CoV-2 causa, e o próprio vírus continuam a evoluir. Há coisas que ainda são desconhecidas sobre o novo coronavírus, como suas variantes e mutações e seus efeitos no longo prazo. A seguir leia as questões em que cientistas do mundo inteiro estão debruçados em busca de respostas.
- Efeitos da Covid-19 no longo prazo
Entre os cientistas, uma pergunta os intriga: por que o Sars-CoV-2 produz sintomas leves de curto prazo, uma doença respiratória aguda ou possivelmente nenhum sintoma na maioria das pessoas infectadas, e em alguns indivíduos ele se torna muito grave?
Em algumas pessoas, o vírus causa sintomas duradouros, a chamada Covid-19 prolongada ou de longa duração. Esses sintomas incluem falta de ar, fadiga prolongada, dor de cabeça e nas articulações e perda de olfato e paladar.
Os cientistas estão tentando entender quais pacientes podem ser afetados pela Covid-19 prolongada e quanto tempo o impacto do vírus pode durar. Outra questão ainda sem resposta sobre os efeitos de longo prazo do vírus é qual será seu impacto epigenético. Ou seja, seus efeitos serão transmitidos de geração em geração?
Um estudo conduzido pela Universidade King's College, no Reino Unido, estima que uma em cada 20 pessoas fique doente por pelo menos oito semanas.
- Como o vírus vai evoluir
Cada vez que é transmitido, o novo coronavírus faz pequenas alterações em seu código genético, e os cientistas estão começando a identificar padrões na forma como o vírus sofre mutação. Esses sinais de adaptação viral não são totalmente surpreendentes.
O uso de tratamentos e vacinas faz com que a maioria dos vírus e bactérias causadores de doenças desenvolva maneiras de escapar deles e continuar a se espalhar. Aqueles que desenvolvem resistência a um tratamento ou podem ‘driblar’ o sistema imunológico sobreviverão mais para se replicar e disseminar seu material genético.
A questão das mutações do Sars-CoV-2, um ano após o início da pandemia, está se tornando muito importante. Isso porque novas variantes do coronavírus, capazes de se espalhar mais rapidamente, como a observada em Manaus (AM), estão surgindo, o que leva os cientistas a questionar se isso tornará as vacinas recentemente aprovadas menos eficazes.
Até o momento, há poucas evidências de que a resposta seja afirmativa, mas os cientistas já estão investigando como o vírus sofrerá mutações no futuro e se poderiam evitá-las. Algumas indústrias farmacêuticas já estão atualizando suas vacinas para combater versões mutantes do Sars-CoV-2.
Mas, com os padrões de mutações que os cientistas estão vendo aparecer no coronavírus em todo o mundo, há alguma pista de como ele continuará a evoluir? Os pesquisadores estão observando de perto para ter uma ideia de sua evolução. E esperam que isso possa ser útil para o desenvolvimento de futuras vacinas.
- Qual pode ser a próxima pandemia?
A atual crise sanitária ainda está longe do fim, mas a comunidade científica já está pensando nas possibilidades de uma outra pandemia. A da Covid-19 pegou boa parte do mundo de surpresa. Mas nem todos, vale destacar. Durante anos, epidemiologistas e outros cientistas alertaram que o mundo deveria estar preparado para uma pandemia.
Uma das pistas para isso vem da análise da relação do ser humano com os animais. A maioria das enfermidades que preocupa os especialistas tem origem animal. Na verdade, 75% das doenças emergentes são zoonóticas. O novo coronavírus, que se supõe ter se originado dos pangolins vendidos em mercados na China, não parece ser diferente.
O efeito humano sobre o clima, a invasão de habitats de vida selvagem e as viagens globais ajudam a espalhar doenças transmitidas por animais. Isso, combinado com a urbanização, a superlotação e o comércio global, cria um cenário ideal para a ocorrência de mais pandemias.
Agora, os cientistas estão de olho em ameaças de outras doenças que possam causar novas pandemias, como a dos camelos que transmitem a Síndrome Respiratória do Oriente Médio e dos morcegos que espalham o vírus nipah na Ásia.
- Qual é o impacto ambiental da pandemia
Além de estudar o impacto social e econômico que a pandemia do novo coronavírus tem causado, os pesquisadores avaliam as consequências que a crise sanitária terá sobre o meio ambiente.
A poluição e as emissões de gases de efeito estufa caíram em todos os continentes enquanto os países tentavam conter a disseminação do novo coronavírus e impunham lockdowns globais. Mas aumentaram rapidamente no restante do ano. No balanço anual, as emissões de CO2 caíram pouco mais de 6%, em média, em 2020.
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Ainda não se sabe qual será o impacto final da crise da Covid-19 nas emissões de poluentes. Se quando a pandemia diminuir elas voltarão aos mesmos níveis de antes ou se as mudanças vistas na pandemia podem ter um efeito mais persistente.
Os especialistas acreditam que as mudanças ocorridas durante a pandemia podem levar a hábitos duradouros. Durante o surto de coronavírus, houve redução de viagens e dos transportes em geral, trazendo benefícios para o clima. Também o desperdício de alimentos foi reduzido devido ao medo de escassez durante os lockdowns.
Ambientalistas agora se perguntam se a forma como foi encarada a crise da Covid-19 poderia servir de modelo para reagir às mudanças climáticas. Existe a possibilidade de que a pandemia tenha um impacto mais duradouro no meio ambiente.
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