Pesquisadores da Unicamp estudam eficácia de antibiótico contra obesidade

Pesquisadores da Unicamp estudam eficácia de antibiótico contra obesidade

Fármaco originalmente desenvolvido para tratar infecções bacterianas apresentou a capacidade de turbinar o metabolismo e amenizar o ganho de peso induzido por uma dieta rica em gordura, revelou a Agência Fapesp. O estudo foi conduzido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e os resultados foram publicados na revista Science Advances.

A substância usada nos experimentos é conhecida como enoxacina. Trata-se de um antibiótico de amplo espectro que deixou de ser usado na clínica há alguns anos, quando surgiram drogas mais eficientes da mesma classe (fluoroquinolonas).

Segundo o professor do Instituto de Biologia (IB-Unicamp), Marcelo Mori, coordenador do projeto, a escolha foi baseada em estudos que revelaram a capacidade do medicamento de modular no tecido adiposo a produção de microRNAs – pequenas moléculas de RNA com ação reguladora sobre o genoma.

“Estudos anteriores com modelos animais e seres humanos já haviam indicado que intervenções capazes de ampliar a longevidade e melhorar a saúde metabólica – como a prática de exercícios físicos e a restrição de calorias – promovem esse benefício ao aumentar a capacidade do tecido adiposo de processar microRNAs. Ou seja, essas práticas modulam a via responsável pela biogênese de microRNAs”, revelou Mori.

“Nós mostramos que é possível promover uma melhora metabólica no organismo ao estimular essa mesma via com um fármaco. Por outro lado, mostramos que a inibição da biogênese de microRNAs desencadeia processos que aceleram o envelhecimento”, completou o professor.

O tratamento fez com que o tecido adiposo branco dos animais – que normalmente armazena o excedente energético na forma de gordura – passasse a se comportar de modo semelhante ao tecido adiposo marrom, ou seja, a queimar calorias para gerar calor (termogênese). No entanto, esse efeito – comumente chamado de browning – só foi observado quando os animais foram expostos ao frio.

Na prática, com o uso da enoxacina, a gordura branca diminui e se transforma na marrom, que provoca calor e favorece a perda de peso. “Então, ao invés de acumular essa energia, transformar o açúcar em gordura, como o tecido adiposo branco faz, o tecido adiposo marrom, que é estimulado pela enoxacina, ele transforma essa glicose em tijolinhos menores na célula e usa essas moléculas para dissipar energia, para produzir calor”, afirmou Mori ao G1.

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De acordo com o professor, o objetivo do estudo foi conduzir uma prova de princípio. “Mostrar que era possível aumentar o gasto energético e inibir as consequências deletérias da obesidade atuando farmacologicamente sobre uma via metabólica de interesse. Não estamos propondo o uso desse medicamento específico para combater o ganho de peso, mas nossos resultados apontam caminhos para encontrarmos compostos que atuem sobre essa mesma via de forma mais eficaz e segura”, afirmou Mori à Agência Fapesp.

Parte dos testes descritos no artigo foi feita com culturas de pré-adipócitos humanos e de camundongos. Esse tipo de célula, ao atingir a forma madura, adquire a capacidade de armazenar gordura e se torna parte do tecido adiposo branco. Em laboratório, o processo de diferenciação celular dura cerca de oito dias e pode ser induzido com um coquetel de substâncias químicas e hormônios.

Testes funcionais mostraram que os protocolos de tratamento estudados in vitro com o antibiótico fizeram com que os adipócitos brancos passassem a respirar mais, ou seja, a consumir mais oxigênio do que as células não tratadas, mesmo em condições semelhantes.

De acordo com Mori, os experimentos com camundongos replicaram o efeito termogênico observado in vitro. Nesse caso, a enoxacina foi administrada por via intraperitoneal (infusão do fármaco na cavidade abdominal). Por se tratar de uma droga com ação antibacteriana, a administração por via oral poderia afetar demasiadamente a microbiota do intestino e interferir nos resultados.

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Vários protocolos diferentes foram testados. Em um deles, os pesquisadores alimentaram um grupo de roedores com dieta hiperlipídica durante um mês e iniciaram o tratamento com enoxacina. O fármaco foi administrado uma vez ao dia, de segunda a sexta-feira, durante dez semanas, e a alimentação rica em gordura foi mantida durante todo o período. Ao final, os animais controle (tratados com placebo) haviam engordado 13 gramas, enquanto os tratados com o antibiótico ganharam, em média, 8 gramas.

“A partir do momento em que o fármaco começou a ser administrado, a curva de ganho de peso entre os dois grupos passou a divergir. A de controle continuou a subir rapidamente e a dos tratados foi atenuada. Ao final, observamos que o tratamento também aumentou a sensibilidade à insulina e a tolerância à glicose dos roedores”, comenta Mori.

Os cientistas da Unicamp contaram com a colaboração de pesquisadores da Astrazeneca. Com base na investigação, tanto Unicamp quanto Astrazeneca vêm testando moléculas com estruturas similares à da enoxacina, mas sem efeito antibiótico. Experimentos in vitro apresentaram dados promissores, indicando compostos com ação termogênica ainda maior do que a da molécula original e que não atuam como microbicida.

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