Em discurso no Dia da Independência dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump disse que haverá vacina para Covid-19 antes do fim do ano. A Food and Drug Administration (FDA), agência que controla alimentos e medicamentos no país, contestou e afirmou que não é possível definir que o imunizante saia ainda em 2020.
“Eu quero enviar nosso agradecimento aos cientistas e pesquisadores do país, e também ao redor do mundo, que estão na linha de frente do nosso esforço histórico para desenvolver e entregar tratamentos que salvem vidas e, em última instância, uma vacina”, proclamou Trump, segundo a BBC e o G1.
“Estamos desencadeando o brilho científico de nossa nação e provavelmente teremos uma solução terapêutica ou vacinal muito antes do final do ano”, asseverou o presidente norte-americano em mais um arroubo ufanista. Em um seu discurso Trump minimizou também a pandemia, dizendo que “99% dos casos (da Covid-19) são totalmente inofensivos”.
O presidente norte-americano vem sendo criticado por seus comentários acerca de vacinas e tratamentos ao longo da pandemia, que já matou ao menos 130 mil pessoas nos Estados Unidos. Nos últimos dias, o número de novas infecções bateu recordes em estados do Sul e do Meio-Oeste, e o total de diagnósticos positivos registrados no país passou de 2,8 milhões.
Membro da força-tarefa da Casa Branca criada para o combate à pandemia, o chefe da FDA, Stephen Hahn, pôs em dúvida a previsão de Trump, de que uma vacina contra a Covid-19 ficará pronta ainda neste ano. “Eu não posso prever quando uma vacina estará disponível”, afirmou, conforme a BBC.
Em entrevista à emissora ABC News, o chefe da FDA afirmou que a velocidade atual de desenvolvimento da vacina não tem precedentes, mas que não é possível traçar um cronograma de sua disponibilidade. “Nossa promessa ao povo americano é que tomaremos decisões baseadas em dados e na ciência com respeito à segurança e eficácia de uma vacina”.
Para a CNN, Hahn disse que não comentaria a declaração de Trump sobre boa parte das infecções pela Covid-19 serem inofensivas “Eu não vou dizer quem está certo e quem está errado”, respondeu o comissário da FDA.
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O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou em junho sobre a possibilidade de os cientistas nunca conseguirem criar uma vacina eficaz contra o coronavírus. Segundo eles, as estimativas são de que, caso o processo seja bem-sucedido, a imunização poderia ocorrer em um ano, ou um pouco menos.
Parte dos especialistas afirma que isso não deve ocorrer antes do primeiro semestre de 2021, segundo a BBC. Uma vacina eficaz treinaria o sistema imunológico das pessoas para combater o vírus, evitando assim que elas fiquem doentes ou desenvolvam um quadro que possa levar à morte.
Uma vacina normalmente demoraria anos, ou até décadas, para ser desenvolvida, mas cientistas ao redor do mundo estão fazendo o possível para acelerar esse processo. Autoridades de saúde dos Estados Unidos têm expressado um otimismo cauteloso sobre uma eventual produção de uma vacina eficaz até o fim de 2020 ou início de 2021.
Segundo a BBC, na semana passada, Anthony Fauci, autoridade máxima em doenças infecciosas nos EUA, afirmou que a eficácia e a segurança de uma vacina contra a Covid-19 poderia ser analisada a partir do período de inverno no hemisfério norte, em dezembro.
Diversas iniciativas buscam a vacina
Há atualmente cerca de 130 iniciativas de vacinas em andamento. Algumas delas, como a ligada à Universidade de Oxford, já iniciaram os testes em humanos.
No Brasil, a nova vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford, em parceria com a AstraZeneca, está em testes pela Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que anunciou investimentos de US$ 15 milhões (R$ 79,8 milhões) para adaptar sua fábrica para produzir, no início do próximo ano, o imunizante. A pesquisa britânica é um dos quatro experimentos mais promissores em andamento.
Segundo levantamento da BBC, em junho, cerca de 11 mil voluntários brasileiros receberam duas vacinas diferentes contra o coronavírus que estão em fase avançada de testes clínicos. Uma é a de Oxford e a outra, ligada a uma parceria entre uma criadora de vacina, a empresa chinesa Sinovac, e o Instituto Butantan, centro de pesquisas ligado à secretaria estadual de Saúde de São Paulo.
Conhecida como ‘ChAdOx1 nCoV-19’, a primeira vacina é feita a partir do ChAdOx1, que é uma versão mais branda de um vírus que causa gripe em chipanzés, com modificações genéticas que impedem que ela se espalhe entre humanos. Material genético foi acrescentado ao vírus ChAdOx1 com a presença de uma proteína chamada glicoproteína de pico.
Essa proteína existe na superfície do coronavírus e desempenha papel fundamental no processo de contaminação, pois ela se liga a receptores presentes nas células humanas para invadi-las e causar a infecção. O objetivo da vacina de Oxford é fazer com que o sistema imunológico do corpo humano reconheça a glicoproteína de pico e crie uma defesa contra ela.
O segundo imunizante é da Sinovac Biotech, que possui experiência na produção de vacinas contra febre aftosa, hepatite e gripe aviária. A empresa criou anticorpos específicos que agem para neutralizar o coronavírus e, segundo ela, foram bem-sucedidos em neutralizar dez cepas do coronavírus.
Um estudo foi publicado com revisão por pares na revista científica Science. A pesquisa com macacos mostrou que os animais que receberam doses maiores da vacina tiveram melhor resposta contra vírus.
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse à BBC que o Brasil pretende ajudar não só na fase de desenvolvimento do CoronaVac, como também na produção e comercialização em território brasileiro da vacina, caso ela se mostre eficaz e segura.
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