Quase 7 em cada 10 brasileiros acreditam em informações falsas sobre vacinas

Quase 7 em cada 10 brasileiros acreditam em informações falsas sobre vacinas

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Imunização (Sbim) constatou que 67% da população brasileira acreditam em alguma falsa informação sobre a eficácia e os efeitos das vacinas, ou seja, quase sete em cada dez pessoas. O levantamento, que foi realizado em setembro de 2019, foi divulgado na terça-feira (18/02), durante a CPI Mista das Fake News, que aconteceu na Câmara dos deputados. 

De acordo com a pesquisa, mais de 21 milhões de pessoas (13% da população maior de 16 anos) já deixaram de se vacinar ou de levar seus dependentes para tomar alguma vacina. As informações falsas são os principais motivos para esse cenário, seguidas por outros fatores, como, por exemplo, o esquecimento e até a falta de medicamento nos postos de saúde.

A pesquisa também mostrou quais as principais fakes news difundidas em torno das vacinas. Entre as inverdades estão afirmações de que elas podem causar autismo ou que conteriam grandes quantidades de mercúrio. Além disso, alguns mitos também afirmam que produtos naturais são mais eficazes que o medicamento. Existem também teorias que disseminam a ideia de que proporcionar a vacinação à população seria uma imposição do Governo para controlar a sociedade.

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O levantamento apontou que as pessoas estão se informando, erroneamente, sobre essas teorias em redes sociais e em conversas com amigos de grupos religiosos, ficando assim, mais sujeitas aos conteúdos falsos. 72% dos entrevistados confirmaram que já receberam mensagens negativas sobre vacinação por aplicativos e por seus perfis sociais. A mesma porcentagem garantiu que fica insegura em relação às informações. Apenas 27% disseram que nunca chegou nenhum conteúdo desse tipo por meio de seus contatos.

O coordenador de Comunicação da Sbim, Ricardo Machado, explicou que a velocidade com que essas informações falsas se espalham é até seis vezes mais rápida do que as notícias que as desmentem. Para ele, isso faz com que a comunidade científica fique em desvantagem: “As fake news estão nos deixando doentes”, resumiu ele, por meio de matéria publicada no portal oficial da Câmara legislativa. 

Origem das informações falsas

Durante o debate na Câmara dos deputados, que discutiu a CPI Mista das Fake News, Machado ainda ressaltou que a maioria desses conteúdos falsos que circulam em território nacional vem de outros países, sendo, quase sempre, dos Estados Unidos. Vale ressaltar que, entre os americanos existe um grande movimento antivacinação.

Uma pesquisa realizada pela consultoria americana Gallup Poll apresentou dados alarmantes sobre a importância das vacinas nos Estados Unidos. Segundo o levantamento, na última década, quase metade da população (46%) não tem certeza sobre os benefícios que a vacinação traz à saúde. Além disso, essa mesma porcentagem de pessoas tem dúvidas se a medida preventiva pode ocasionar o autismo em crianças. Apenas 10% afirmam ter certeza de que a vacinação não gera esse transtorno do sistema nervoso.

Entretanto, o maior estudo sobre o tema, que relaciona possíveis ligações entre vacinas e o autismo,  já desmentiu essa tese há muito tempo. Realizada na Dinamarca, uma pesquisa feita com mais de seis mil crianças, publicada no jornal Annals of Internal Medicine, constatou que não existe relação entre a vacinação e o transtorno.

Opiniões de deputados 

Parlamentares também ressaltaram as razões pelas quais se faz necessário o combate as fake news. Um deles, foi o autor do requerimento para a realização da audiência pública, o presidente da CPMI, senador Angelo Coronel (PSD-BA). “Sei que aqui só ‘ferve’ quando se fala em política, mas um assunto dessa natureza, que atenta contra a vida das pessoas, não pode ser deixado em segundo plano”, alertou.

Já a deputada Lídice Mata (PSB-BA), completou falando sobre a importância de que se investigue o grau de envolvimento entre a relação das fake news e a redução vacinal em território nacional. “Tomamos a decisão conjuntamente de voltar a tratar desse assunto, agora com o coronavírus e epidemias graves. Além disso, no ano passado, o Brasil alcançou índices de sarampo dos maiores na América Latina, doença que estava praticamente erradicada no continente”, afirmou a parlamentar.

Como combater os falsos conteúdos

O representante da Sbim explica que plataformas digitais (como Facebook e Youtube) devem ter o direito de retirar do ar conteúdos, comprovadamente, falsos. Ele orienta também que, para o combater às fake news da saúde em ambiente digital, é necessário incluir um maior repertório de informações corretas na internet, além de responsabilizar, de forma judicial,quem dissemina essas inverdades.

Machado também aponta como estratégia que deve ser feita uma revisão das campanhas oficiais de vacinação, que, para ele, podem estar falhando em cativar e levar informação à população.

“As imunizações estão sofrendo pelo próprio êxito. Na medida em que doenças críticas foram desaparecendo, o medo delas foi desaparecendo também. Fica fácil esquecer. As ações de comunicação já não informam mais com eficiência a importância das vacinas”, finaliza.

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