O pesquisador, Alain Brunet, professor do departamento de psiquiatria da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, afirma ter descoberto um medicamento capaz de acabar com o sofrimento causado por uma separação amorosa traumática. De acordo com ele, a terapia, intitulada 'terapia de reconsolidação', edita as memórias dolorosas usando um betabloqueador, combinado com sessões de terapia.
Segundo ele, que é também psicólogo, como parte do 'método de reconsolidação', os pacientes tomavam o propranolol (medicamento) cerca de uma hora antes da sessão de terapia, após essa etapa era solicitado que eles escrevessem um relato detalhado de seus respectivos traumas. Em seguida, as pessoas tinham que ler em voz alta. Ele explica que essa ação cria uma oportunidade de interação com a parte emocional dessa memória afetiva.
"Muitas vezes, quando você se lembra da memória, se há algo novo para aprender, essa memória será desbloqueada e você poderá atualizá-la, e será salva novamente", disse Brunet à BBC. Ele completa: "Estamos usando esse entendimento aprimorado de como as memórias são formadas e como elas são desbloqueadas, atualizadas e salvas novamente, estamos basicamente usando esse conhecimento recente que sai da neurociência para tratar pacientes", enfatiza.
Leia também: Farmacêutica descobre efeitos do zika vírus no cérebro de adultos
O propranolol é um betabloqueador, normalmente, indicado para hipertensão e enxaqueca. Entretanto, pesquisas recentes mostram que o medicamento pode ser utilizado como off label.
Ele compara seu trabalho ao filme de ficção científica ‘Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças’, em que um casal tem suas memórias apagadas. No entanto, o pesquisador explica que, com a terapia, os pacientes não terão suas lembranças amorosas esquecidas, entretanto, o tratamento é projetado para ajudar a fazer com que elas parem de causar dor e sofrimento.
Nesse sentido, nas memórias, seus elementos neutros e concretos são projetados no hipocampo do cérebro. Em contrapartida, a parte emocional é salva na amígdala. "Imagine que você está gravando um filme à moda antiga, então você tem a imagem e o som, e eles estão em dois canais separados", exemplifica Brunet.
Por isso, o pesquisador diz que quando uma pessoa revive seus pensamentos traumáticos, ela experimenta as duas coisas. Mas, a ação do propranolol tem como alvo o aspecto emocional da memória, quando ela é revisitada sob a influência do medicamento, ela é ‘salva’ pelo cérebro em uma versão menos emotiva.
De acordo com o estudo divulgado pelo psicólogo à BBC, quase 70% dos pacientes encontraram alívio depois de se submeterem às sessões de 'terapia de reconsolidação'. Vale destacar que, para o estudo, o professor contou com a ajuda de outros pesquisadores especialistas em transtorno do estresse pós-traumático, incluindo Roger Pitman, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Outro ponto importante é que, incialmente, o objetivo da pesquisa não era para tratar corações partidos, pois, há 15 anos o pesquisador estava estudando o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), trabalhando com veteranos de guerra e pessoas que foram vítimas de crimes e ataques terroristas. No entanto, após bons resultados com a terapia, ele direcionou os estudos para auxiliar pessoas que sofreram decepções amorosas pelos mais variados motivos, como em casos de traição, por exemplo.
Participe também: Grupo de WhatsApp para receber notícias farmacêuticas diariamente
Obrigado por apoiar o jornalismo profissional
A missão da Agência de notícias do ICTQ é levar informação confiável e relevante para ajudar os leitores a compreender melhor o universo farmacêutico. O leitor tem acesso ilimitado às reportagens, artigos, fotos, vídeos e áudios publicados e produzidos, de forma independente, pela redação da Instituição. Sua reprodução é permitida, desde que citada a fonte. O ICTQ é o principal responsável pela especialização farmacêutica no Brasil. Muito obrigado por escolher a Instituição para se informar.
