Após o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos César Pontes, que é ex-astronauta, revelar que o Governo irá realizar testes clínicos em 500 pacientes, com um medicamento misterioso que, supostamente, poderia ser eficaz no combate ao novo coronavírus (Covid-19), há muita informação divulgada na internet dando conta de que a substância é a Nitazoxanida (vendida com o nome comercial de Annita). No entanto, caso seja esse o produto, testes na China não mostraram resultados positivos em relação à substância nessa terapia.
Em Whuhan, cidade na China em que a pandemia começou, cientistas e virologistas já teriam testado a Nitazoxanida em laboratório, entretanto, segundo informação divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, a pesquisa mostrou que a droga apresentou uma atividade antiviral apenas adequada em doses altas, que se mostraram tóxicas.
Ainda de acordo com a informação divulgada pelo jornal, a substância mostrou que tem efeitos mais tóxicos e menos eficazes que a própria cloroquina, que também já foi apresentada pelo Governo como uma possível alternativa no tratamento da Covid-19.
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Atualmente, a Nitazoxanida, que pertence à classe dos medicamentos anti-helmínticos, é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para o tratamento de gastroenterites virais provocadas por rotavírus ou norovírus, helmintíases, amebíase, giardíase, criptosporidíase, blastocistose, balantidíase e isosporíase.
De acordo com Pontes, a pesquisa em relação à substância misteriosa teria sido feita in vitro, apresentando eficácia em 94% das análises preliminares, em laboratório. Em entrevista exclusiva à equipe de jornalismo do Portal do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, o professor da instituição, Thiago de Melo, explicou porque ainda é muito cedo para tratar o suposto medicamento como uma possível alternativa ao tratamento da Covid-19. “Discordo da forma como eles [o Governo] estão fazendo, pois, frequentemente, quando esses testes são feitos in vitro há respostas positivas, mas quando são testados in vivo surgem surpresas”, afirmou.
Indústria responsável
Segundo a indústria farmacêutica Farmoquímica, responsável pela venda do medicamento no Brasil, a companhia está pesquisando, desde janeiro de 2020, uma possível ação da Nitazoxanida no combate ao novo coronavírus.
De acordo com a empresa, por meio de uma pesquisa, a companhia está desenvolvendo um medicamento à base da Nitazoxanida, em doses de 600 mg, bem mais altas que a concentrada no Annita (500 mg), para ser testada em pacientes infectados com o novo coronavírus.
Segundo o gerente executivo da Farmoquímica, Vinicius Blum, o objetivo é testar o medicamento em 50 pacientes internados, mas que não estejam em estado grave: “Uma das variáveis é verificar se o remédio [medicamento] consegue impedir que o quadro piore e evitar que o paciente precise da Unidade de Terapia Intensiva (UTI)", disse ele, em entrevista à revista Época.
Um detalhe importante é que a companhia desconhece a pesquisa realizada pelo Governo em relação ao seu medicamento. No entanto, a revista Época garante que apurou e que a Farmoquímica chegou a ser sondada pelo Governo Federal, mas a conversa não teria evoluído.
Vale ressaltar ainda que, depois do anúncio de Pontes, sobre o possível medicamento misterioso, a Anvisa classificou a substância como de uso controlada, por meio da sua inclusão na Lista de Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial.
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