Ontem (15/04), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu a Nitazoxanida (vendida com o nome comercial de Annita) na Lista de Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial. A iniciativa vem ao encontro da revelação feita pelo ex-astronauta e ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos César Pontes, que contou, na última segunda-feira (13/04), que o Governo está testando um medicamento misterioso no combate ao novo coronavírus (Covid-19). Para isso, serão feitos testes clínicos em 500 pacientes e, ao fim desses estudos, o que deve ocorrer entre duas e três semanas, o nome do medicamento poderá ser divulgado.
Por meio da RDC 372/20, o órgão sanitário definiu no artigo 2º: "Aplicam-se à substância Nitazoxanida as disposições contidas na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 351, de 20 de março de 2020 e suas alterações". Um ponto importante dessa informação é que, anteriormente, a RDC 351/20 enquadrou também os medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina na mesma Lista de Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial.
Com isso, a venda do medicamento Annita também fica sujeita à retenção da receita de controle especial em duas vias, sendo a 1ª via retida no estabelecimento farmacêutico e a 2ª via devolvida ao paciente.
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A decisão da Agência reforçou ainda mais as suspeitas de que a substância anunciada por Pontes seja, realmente, a Nitazoxanida, que pertence à classe dos medicamentos anti-helmínticos, sendo aprovada pela Anvisa apenas para o tratamento de gastroenterites virais provocadas por rotavírus ou norovírus, helmintíases, amebíase, giardíase, criptosporidíase, blastocistose, balantidíase e isosporíase.
Um detalhe importante é que, em coletiva, nesta quarta-feira (15/04), o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, também afirmou que o medicamento divulgado por Pontes é um anti-helmíntico (citado por ele também como vermífugo).
Opinião de especialistas
Em entrevista exclusiva à equipe de jornalismo do Portal do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, o professor da instituição, Thiago de Melo, deu mais detalhes sobre o assunto.
"Dois anti-helmínticos que estão, possivelmente, em investigação são a Ivermectina e a Nitazoxanida. Os dois já mostraram efeitos sobre alguns tipos de coronavírus. Para a Covid-19, a Ivermectina mostrou resultados in vitro de redução da replicação, ainda por mecanismos pouco conhecidos. Discordo da forma como eles [o Governo] estão fazendo, pois, frequentemente, quando esses testes são feitos in vitro há respostas positivas, mas quando são testados in vivo surgem surpresas”, afirmou.
Melo disse, ainda, o que percebeu ao observar parte do estudo apresentado por Pontes: “Eu olhei, rapidamente. Eles colocaram um desenho projetando uma molécula no meio de um sítio de uma proteína viral. Se, de fato, essa imagem representa parte dos testes, eu observando essa estrutura, vi que ela se assemelha à Nitazoxanida, mas não posso afirmar, com certeza, qual o anti-helmíntico que eles estão estudando. Mas, o que eu te adianto é que essas substâncias são candidatas, pois, inclusive, são estudadas em outros países. O possível efeito [delas] ainda é desconhecido, para você ter uma ideia, a Nitazoxanida é usada para rotavírus, em alguns casos de diarreia, mas mesmo sem saber o mecanismo ela é utilizada", finalizou.
A RDC 372/20 pode ser acessada aqui.
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