Farmacêutico é preso por comércio clandestino de medicamento usado em casos graves de Covid-19

Farmacêutico é preso por comércio clandestino de medicamento usado em casos graves de Covid-19

Um farmacêutico e sua mulher, que também trabalha em uma farmácia, foram presos ontem (16/6), em Mossoró (RN), por suspeita de venderem clandestinamente Tocilizumabe, medicamento usado em casos graves de Covid-19, revelou o G1. A droga, cujo valor médio é de R$ 850, estaria sendo vendida por R$ 2.500 pelo casal.

A prisão fez parte de uma operação do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN). No momento da prisão foram encontradas caixas do medicamento – que é produzido pela Roche com nome comercial de Actemra – e ainda fármacos com validade vencida na casa dos suspeitos, que não tiveram seus nomes divulgados. Casal pode ser enquadrado em crime contra a saúde pública.

Para o MPRN, as atividades profissionais do casal seriam utilizadas no comércio ilegal do tocilizumabe por terem o conhecimento técnico (temperatura, acondicionamento, prescrição) e contatos com fornecedores (agentes públicos ou privados).

Conforme levantamento do MPRN, nos casos de Covid-19 severa, evoluindo para hipoxemia (queda do oxigênio sanguíneo) refratária, alguns médicos têm utilizado o tocilizumabe para conter o avanço da doença, diminuir o risco de intubação orotraqueal e, em último caso, a morte do paciente.

Segundo o que já foi apurado pelo MPRN, os suspeitos aguardavam o momento adequado para abordar as possíveis vítimas, aproveitando-se da alta demanda causada pela pandemia para conseguirem vender os medicamentos a preços elevados. O aumento da procura pela medicação desencadeou a escassez do fármaco, tanto na iniciativa privada quanto no Sistema Único de Saúde (SUS).

O MPRN ressalta que diante do atual cenário de pandemia, do forte apelo emocional da doença e do extenso acometimento populacional, as famílias dos pacientes não poupam esforços para adquirir a medicação.

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Uso do tocilizumabe precisa ser avaliado com cuidado

Desde março de 2020, a Universidade de Oxford, no Reino Unido, vem pesquisando o Tocilizumabe para o tratamento da Covid-19. O estudo com mais de 4 mil voluntários diagnosticados com a doença – sendo que metade deles teve tratamento padrão e a outra parte teve o Tocilizumabe prescrito – concluiu que a droga respondeu na redução de mortes nos casos mais graves e evitou ou diminuiu o risco de intubação para outros internados. A tese é do ensaio Recovery.

De acordo com o infectologista Tiago Rodrigues, o Tocilizumabe não é um antiviral e sim um imunobiológico, ou seja, trabalha no organismo diminuindo a imunidade e, consequentemente, as inflamações causadas por diversas moléstias. Por isso é uma droga muito utilizada no tratamento de doenças reumatológicas.

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Embora o estudo da Recovery tenha mostrado indícios de benefícios no tratamento de pacientes com Covid-19, que geralmente são vítimas de diversas inflamações, nas quais o Tocilizumabe age, o médico explicou ao portal que não há estudos concretos da eficácia e do momento em que se deveria administrar essa medicação.

“A evidência de que o Tocilizumabe traga melhoras ao paciente ainda é muito fraca e controversa. Às custas da redução das inflamações há a redução da imunidade e isso é perigoso. O paciente geralmente é crítico, está na UTI e se pegar uma infecção bacteriana qual a defesa que ele vai ter? Tem que ser muito bem avaliado os benefícios para a utilização deste medicamento”, revelou o infectologista ao Cáceres Notícias.

Na mesma linha de cautela está o farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni. “A comunidade científica está empenhada em estudar medicamentos e estratégias para combater o novo coronavírus. Entretanto, deve-se ter muito cuidado ao analisar estudos científicos pontuais”.

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