Interação entre alimentos e medicamentos: o que o farmacêutico precisa saber

Interação entre alimentos e medicamentos: o que o farmacêutico precisa saber

Em recente transmissão ao vivo do ICTQ Talk no Instagram, o farmacêutico e professor da instituição, Thiago de Melo, falou sobre interação entre medicamentos e alimentos. Durante a conversa, o especialista explicou que um determinado fármaco pode ter queda em sua biodisponibilidade em mais de 30% por conta da influência de algum alimento que o paciente possa ter consumido. 

Para exemplificar, Melo contou sobre um caso clínico recente que ele acompanhou. “O indivíduo tem um quadro avançado de Parkinson, naturalmente, ele faz uso de carbidopa e levodopa, com a finalidade de recuperar, em partes, os níveis de dopamina na via nigroestriatal, que é importante para o ajuste motor fino. Infelizmente, a resposta ao longo do tratamento à ação dopaminérgica clássica não tem sido tão boa. Então, a neurologista sugeriu a inclusão do canabidiol, que foi introduzido em associação à levodopa”, explica.  

Receba nossas notícias por e-mail: Cadastre aqui seu endereço eletrônico para receber nossas matérias diariamente

Nesse sentido, o farmacêutico continua sua explicação por partes: “Primeira coisa [que se ouve falar], se leva tão em consideração que a levodopa deve ser administrada, no mínimo, 40 minutos ou 1 hora antes das refeições. Então, você pergunta para o farmacêutico, ok, isso está escrito na bula? Normalmente, a gente indica isso, mas qual é a razão de se evitar a associação da levodopa com um alimento? É com qualquer alimento? A resposta é não, não é qualquer alimento, então, eu preciso conhecer a estrutura química da levodopa”.  

publicidade inserida(https://www.ictq.com.br/pos-graduacao)

A estrutura química  

Melo ensina: “A levodopa se assemelha muito ao aminoácido tirosina, na sequência da produção das catecolaminas nós temos a tirosina, que produz dopa. Dopa [produz] dopamina; dopamina [produz] noradrenalina; noradrenalina [produz] adrenalina. Ou seja, se a levodopa, que é a dopa levogira, se parece muito com a tirosina, o momento da sua absorção no intestino passa pelos mesmos trajetos da tirosina. Qual a chance dessa absorção dela? É passar por meio de canais de aminoácidos, isso funciona por meio de um processo chamado de difusão facilitada. Existem canais específicos para passagem de determinados tipos de aminoácidos, então, para passar a levodopa eu preciso do mesmo túnel da tirosina”, explica.  

O farmacêutico prossegue: “Então, se o indivíduo tem uma dieta cheia de proteínas, que são, na verdade, uma cadeia de aminoácidos, no momento em que essa proteína chega ao intestino ela precisa sofre hidrólise, vai picotando, e a tirosina precisa ser absorvida pelo mesmo canal, que a levodopa também compete, então, a interação vigente nesse caso, entre levodopa com o alimento, não é com o carboidrato, nem, tão pouco, com lipídeos, mas sim, com uma dieta rica em proteínas”, enfatiza. 

Melo ressalta: “É importante o farmacêutico ficar atento nesse caso, porque percebemos em pacientes com Parkinson um certo grau de sarcopenia, pois, é natural que exista perda de massa muscular. Então, com a intenção de se evitar a sarcopenia, vem a área da nutrição e fala: ‘o senhor está precisando de suplementação com proteína, está com baixa ingestão. Vamos lá, fazer whey, vca, vamos tomar albumina”, pontua.  

Em outro momento, Melo ressalta: “Então, nesse caso, o ato de espaçar [criar intervalos], não é para qualquer refeição. Se esse idoso acordou de manhã e consumiu uma laranja é lógico que esse impacto comparado a uma fonte proteica, que seja, por exemplo, ovos mexidos, tem uma diferença absurda".  

Melo afirma: "Eu não quero tratar aqui o tema alimento, mas qual o alimento. Resumindo, no caso da levodopa, a interação vigente se dá com proteínas e de preferência as que são ricas em tirosina, a tirosina é a chance da competição. Então, olha a importância de o farmacêutico conseguir orientar os pacientes. Porque, na verdade, não é uma restrição plena a qualquer refeição".  

Voltando ao paciente com Parkinson 

Após essa introdução, Melo retorna ao caso do paciente com Parkinson: “Foi introduzido o canabidiol, eu acompanhei a resposta que a profissional de saúde deu para ele em relação ao canabidiol. A orientação que foi dada para ele foi: ‘o senhor vai tomar o canabdiol no mesmo momento da levodopa’. Pois bem, qual é a constituição química do canabidiol?”.  

Melo responde que o canabidiol tem uma natureza altamente lipofílica. E seu trajeto de absorção não tem nada a ver com levodopa. Quanto mais lipossolúvel for a refeição, mais essa substância se incorpora melhor às emulsões. Por isso é fundamental a ação do suco pancreático e dos sais biliares.  

Nesse caso, o canabidiol não deve ser administrado longe das refeições, muito ao contrário, ele deve ser usado próximo ao consumo delas, de preferência, com alimentos mais gordurosos. Segundo o farmacêutico, a literatura tem demonstrado que a absorção do canabidiol, ou seja, sua biodisponibilidade, pode ser elevada em até 90% se administrada próximo às refeições.  

Por fim, Melo dá um recado aos farmacêuticos: “O tema agora não é mais apenas sobre antiparkinsonianos, pois, para cada grupo desse segmento existe uma realidade: a levodopa, que compete pela tirosina; o canabidiol, pelo lipofílico. Isso já é outra conversa. Não é pela funcionalidade, nesse caso a restrição deve acontecer respeitando o chamado coeficiente de partição óleo água [que o farmacêutico já conhece]. Você que é farmacêutico, e convive com nutricionistas, converse com eles sobre isso. Essa atitude agrega valor ao seu trabalho, traz segurança para você. O farmacêutico tem uma função importante na farmácia”.  

A transmissão completa, com outros exemplos de interação entre alimentos e medicamentos pode ser vista por meio do IGTV no perfil do ICTQ (assista aqui).

Participe também: Grupo para receber notícias farmacêuticas diariamente

Obrigado por apoiar o jornalismo profissional 

A missão da Agência de notícias do ICTQ é levar informação confiável e relevante para ajudar os leitores a compreender melhor o universo farmacêutico. O leitor tem acesso ilimitado às reportagens, artigos, fotos, vídeos e áudios publicados e produzidos, de forma independente, pela redação da Instituição. Sua reprodução é permitida, desde que citada a fonte. O ICTQ é o principal responsável pela especialização farmacêutica no Brasil. Muito obrigado por escolher a Instituição para se informar. 

Veja mais materias sobre:

Farmacêutica, Farmacêutico, Medicamentos

Telefones

Atendimento de segunda a quinta-feira das 08:00h às 18:00h e sexta-feira das 08:00h às 17:00h (Exceto Feriados).

Fale conosco

Sou aluno:

(62) 99433-0397

Quero me matricular:

CLIQUE AQUI

E-mail

faleconosco@ictq.com.br

Endereço

Escritório administrativo - Goiás

Rua Engenheiro Portela nº588 - Andar 5/6 - Centro - Anápolis/GO CEP

CEP: 75.023-085

ictq enfermagem e mec
 

Consulte aqui o cadastro da instituição no Sistema e-MEC

PÓS-GRADUAÇÃO - TURMAS ABERTAS