Redes afirmam que vão faltar medicamentos se o preço não aumentar

Redes afirmam que vão faltar medicamentos se o preço não aumentar

Há uma apreensão no varejo farmacêutico de que possa faltar medicamentos por conta das oscilações internacionais de preço dos insumos e da alta do dólar, que pressionam os custos da indústria, e da prorrogação do reajuste anual feita pelo Governo. Em live realizada recentemente pela XP Investimentos, presidentes de redes de farmácias discutiram saídas para o impasse.

Desde meados do ano passado, a indústria farmacêutica vem sofrendo com a importação de matérias-primas da China, um dos maiores fornecedores de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) do mundo. Por questões ambientais, o país reduziu a produção em 2019. Quando houve a normalização no início do ano, surgiu a crise sanitária do novo coronavírus, que abalou novamente o mercado, reduzindo as vendas de insumos. Além dos custos do produto, o preço do frente disparou.

Para suprir a falta de matéria-prima e não parar, as indústrias foram obrigadas a mudar o modal de transporte que utilizavam tradicionalmente. Do marítimo, que custa em torno de 70 centavos de dólar o quilo da matéria-prima, passaram a usar o aéreo, cujo frete em situações normais gira em torno de 8 dólares o quilo. Com a parada logística mundial ocasionada pela pandemia, esse valor saltou para entre 25 e 27 dólares o quilo.

Com a prorrogação do aumento anual decidida pelo Governo e motivada pela pandemia, a indústria se viu pressionada a reduzir a produção de alguns produtos para não aumentar o prejuízo. Há casos em que a matéria-prima sai mais cara do que o preço máximo de venda do produto na farmácia.

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De acordo com o presidente da Drogaria Venâncio, Armando Ahmed, todos estão perdendo com essa situação, varejo, atacado e principalmente a indústria. “Pior para a indústria, pois terá que despender um valor muito maior para importar os insumos que precisa para produzir. Nós, do varejo, talvez sejamos apertados porque os fabricantes não vão conseguir, com o dólar do jeito que está, importar tudo o que precisam”, afirmou Ahmed. “Haverá falta de medicamentos se o aumento de preços não acontecer”.

O aumento anual estava previsto para ter acontecido há 60 dias. “Esse prazo termina agora e se não sair será difícil não faltar medicamento”, salientou Ahmed. Mas é possível que o aumento não saia. Tramita no Senado o Projeto de Lei 1542/20, de autoria do senador Eduardo Braga (MDB-AM), que suspende por 120 dias, o ajuste anual de preços de medicamentos para 2020, em decorrência da situação de emergência de saúde.

No setor varejista, segundo Ahmed, não há uma pressão por aumento. “Para nós, não há necessidade. Imaginávamos que o aumento aconteceria dois meses atrás e estocamos para esse período. Já gastamos esse estoque durante a Covid-19. A situação está muito prejudicial para indústria, mas se não sair o aumento, vai ser ruim para toda a cadeia e para o consumidor, que não vai ter o produto para comprar, principalmente se a pandemia perdurar por mais um ou dois meses”.

O diretor da Rede Drogal, Marcelo Cançado, revelou também preocupação com a ruptura do mercado. “Quando se fala de aumento não é apenas a correção dos 12 meses anteriores, que se previa em torno de 3,8%. Agora há um agravante que deve ser maior do que a inflação, que é a alta do dólar. As indústrias previram no ano passado fechar com o dólar a R$ 3,80. Hoje já está batendo nos R$ 6. Isso é muito relevante para a compra de insumo, uma vez que mais de 90% dele é importado. Então, há uma preocupação grande de haver uma ruptura daqui para frente”, afirmou.

Cançado destacou que não apenas a grande indústria sofre com a questão, mas também as farmácias de manipulação. “Desde a fundação da empresa temos manipulação e a agora famosa hidroxicloroquina, que custava R$ 650 o quilo, hoje bateu nos R$ 10 mil. Imagina isso para o volume de uma indústria, que lá atrás fez os cálculos de importação com o dólar a R$ 4 e agora tem que rever isso para R$ 6 ou até R$ 7”, disse Cançado, enfatizando que é preciso uma atenção governamental sobre esse aspecto. “É extremamente importante a sensibilização do Governo para que a indústria possa ajeitar um pouco a questão dos custos, pois já há problemas no abastecimento”, concluiu o executivo.

“Além do problema do dólar, é importante ressaltar que aumentou muito o valor da matéria-prima, pressionada principalmente pelo custo do frete”, adiciona o presidente da Farmácia Indiana, Alexandre Mattar. Para ele é urgente resolver essa questão. “Logicamente que não há alegria em falar de aumento num momento desses, mas até por uma questão de responsabilidade, é preciso agir. Não podemos deixar faltar medicamento, sobretudo no meio de uma pandemia”, afirmou.

Mattar lembrou que as farmácias estão reforçando estoques, para não deixar faltar produto. Mas isso tem um limite. “Reforçamos os estoques para atender os clientes, mas diante de um desabastecimento na indústria fica difícil segurar por muito tempo. Um não aumento agora pode implicar em desabastecimento de toda a cadeia. É necessário buscar um caminho para o equilíbrio”, disse Mattar, destacando também a importância da redução da dependência externa.

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“Precisamos diminuir a dependência da China e da Índia, não apenas de matéria-prima de medicamentos, mas de tudo o que se possa imaginar. Veja o caso das máscaras de tecido, respiradores, dependia da China para suprir essas necessidades. Temos que refazer nosso parque fabril e o Estado também precisa investir no desenvolvimento de drogas, para não continuarmos dependendo tanto desses países. Isso já virou um problema de segurança nacional”, finalizou Mattar.

Na visão do presidente da Farmácia São João, Pedro Brair, o problema se estende para a questão macroeconômica. “Não podemos ignorar que o nosso segmento não está imune às dificuldades que o País atravessa. Mesmo os Estados Unidos, economia mais pujante do mundo, viram o desempregou saltar de 4%, em janeiro, para 15% agora. O Brasil também terá dificuldades”, frisou Brair, destacando também a questão política como um ponto que tem atrapalhado os investimentos.

“Temos um problema de confiança que está afetando todo o mercado. O presidente quando se manifesta cria problemas, deixa-nos um pouco preocupados. A sociedade precisa de lideranças em que possa confiar. Mesmo enfrentando turbulência, navegando com dificuldades, ali na frente sabe que há pessoas responsáveis e preocupadas com País” alertou Brair, destacando que é preciso união de todos. “Talvez a maior mensagem que a Covid-19 deixou é de humanização, de que nós precisamos muito uns dos outros”.

Assista a live realizada pela XP Investimentos:

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