O presidente norte-americano Donald Trump prometeu em um vídeo gravado na Casa Branca distribuir de graça coquetel experimental que tomou contra Covid-19 para todos os norte-americanos que precisarem. O tipo de tratamento que Trump recebeu está entre os mais caros do mundo. O preço médio nos Estados Unidos varia de US$ 15 mil a US$ 20 mil (R$ 84 mil a 112 mil) por ano, segundo a BBC News Brasil.
“Foi inacreditável, me senti tão bem três dias atrás como me sinto agora. Eu chamo isso de cura”, disse Trump em mensagem ontem (7/10) no Twitter, prometendo a todos os norte-americanos o mesmo tratamento que ele recebeu. No vídeo, o presidente enfatizou sua atitude. “Se você estiver no hospital, e não estiver se sentindo bem, vamos trabalhar para que você receba (o medicamento), e receba de graça”, afirmou.
Entre outros medicamentos (remdesivir, dexametasona, zinco, vitamina D, famotidina, melatonina e aspirina), o presidente tomou o coquetel REGN-COV2, produzido pela farmacêutica Regeneron e que faz parte de um grupo de drogas conhecidas como anticorpos monoclonais. Eles são cópias sintéticas de anticorpos humanos que agem contra o vírus e que estão sendo estudadas para uso em pacientes nos estágios iniciais da doença, segundo a Folha.
O medicamento ainda está sendo usado de forma experimental, mas é considerado o tratamento mais promissor para a Covid-19, já que antivirais como o remdesivir e substâncias como a cloroquina e a ivermectina trouxeram pouco ou nenhum benefício aos pacientes. Apesar disso, não há evidências de que o medicamento seja o motivo da melhora do presidente. Estudos clínicos rigorosos, essenciais para considerar um medicamento seguro e eficaz para uma doença, ainda não foram concluídos, revelou a BBC.
Trump disse também que tudo estava pronto para ser dada uma autorização de emergência ao uso do medicamento, embora os técnicos da Food and Drug Administration (FDA) devam tomar decisões independentes sobre aprovações a medicamentos, conforme a BBC. Segundo o jornal The New York Times apurou, horas depois, a Regeneron entrou com um pedido na FDA para uma aprovação de emergência para o tratamento.
A empresa disse que, a princípio, o acesso ao tratamento seria extremamente limitado, com apenas doses suficientes para 50 mil pacientes – número bastante inferior às ‘centenas de milhares’ de doses prometidas por Trump, que busca a reeleição e também tem repetido querer aprovar uma vacina antes das eleições (algo improvável), numa atitude que os adversários creditam ao ‘desespero’ por estar atrás nas pesquisas eleitorais.
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Depois que Trump anunciou o medicamento como uma ‘cura’ para o novo coronavírus e prometeu distribuí-lo gratuitamente, as ações da Regeneron deram um salto. A partir disso, suspeitas sobre ligações entre Trump e o CEO da Regeneron, Leonard Schleifer, começaram a ser levantadas, segundo a BBC e outros veículos apuraram.
De acordo a CNN Business, Schleifer e o presidente Trump se conhecem – o executivo foi membro do clube de golfe de Trump em Westchester, Nova York. Além disso, sua empresa também recebeu US$ 450 milhões em financiamento do governo em julho como parte do plano do presidente para um desenvolvimento rápido de uma vacina ou outros tratamentos para a Covid-19.
Some-se a isso, ainda segundo a CNN, o fato de Trump também possuir ações da Regeneron e da Gilead Sciences, fabricante do medicamento remdesivir, que o presidente também tomou. Ambas as ações foram listadas como ativos de Trump em 2017, embora nenhuma tenham constado como ativo de Trump em 2020.
“Leonard Schleifer e o presidente Trump são conhecidos que moram na área de Westchester há muitos anos, mas nunca tiveram contato regular até este ano, quando discutiram assuntos sobre a Covid-19 algumas vezes”, disse a Regeneron à CNN Business em um comunicado, conforme a BBC.
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