Aplicação retal de ozônio para Covid-19 é sugestão de prefeito

Aplicação retal de ozônio para Covid-19 é sugestão de prefeito

Cloroquina, antiparasitário e até vodca e sauna já foram indicados para tratar a Covid-19. Tudo sem comprovação científica. Agora, o prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni (MDB), (foto), entra para o rol dos exóticos defensores de terapias sem comprovação para a doença. Ele sugeriu aplicar ozônio pelo ânus de pacientes com diagnóstico e sintomas de infecção pelo novo coronavírus.

É bem verdade que o prefeito Morastoni não é novato em termos de tratamentos polêmicos para Covid-19. Ele já havia determinado que o município fornecesse homeopatia para a população como forma de prevenção à doença – equipes passariam de casa em casa aplicando cinco gotas de cânfora diluídas em água para quem tivesse interesse, mas a medida foi barrada pelo Ministério Público de Santa Catarina.

Ele fez o mesmo com a ivermectina como opção preventiva e com o antibiótico azitromicina como tratamento a pacientes infectados. Agora ele volta com uma polêmica maior: oferecer a ozonioterapia retal para pacientes com Covid-19. Segundo o prefeito, que também é médico, o ozônio deve ser aplicado pelo ânus de pacientes com diagnóstico e sintomas de infecção pelo novo coronavírus, alguns minutos ao dia, em diferentes sessões. O comunicado foi transmitido em uma live da prefeitura, conforme revelou a Folha de S. Paulo.

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“É uma aplicação simples, rápida, de dois, três minutos por dia. Provavelmente vai ser uma aplicação via retal, que é uma tranquilíssima, rapidíssima, [com] um cateter fininho e isso dá um resultado excelente, ajuda muitíssimo nos casos positivos de coronavírus”, disse sem se ruborizar ou explicar de onde tirou essa ideia.

Pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, a microbiologista Natália Pasternak afirmou à Folha que a ozonioterapia é uma “charlatanice que dizem curar câncer”, sem nenhuma comprovação médico-científica. Ozonioterapia é um procedimento que consiste na aplicação de gases oxigênio e ozônio por diversas vias, como intravenosa ou intramuscular, com objetivo terapêutico. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), a prática carece de garantias de eficácia e segurança.

Em resolução publicada no Diário Oficial da União, informa a Folha, o CFM proíbe aos médicos a prescrição desse tipo de tratamento dentro dos consultórios e hospitais. A exceção pode acontecer em caso de participação dos pacientes em estudos de caráter experimental, com base em protocolos clínicos e critérios definidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. O intuito é assegurar aos participantes das pesquisas suporte médico-hospitalar em caso de efeitos adversos, a garantia de sigilo e anonimato; e a gratuidade do acesso ao procedimento.

Para o médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Unesp, Alexandre Naime Barbosa, a técnica defendida pelo prefeito na vale nada. “Todos esses tratamentos alternativos são uma cortina de fumaça para que se tire a atenção do que realmente importa, como as medidas de eficácia reconhecida na ciência, que é o isolamento social na medida do possível, uso de máscara, distanciamento social, lavagem das mãos e testagem em massa com o melhor teste que é o PCR”, afirmou Barbosa ao G1.

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Apesar de todas as evidências contrárias, o prefeito citou na live a médica Lucy Kerr como fonte de pesquisa para demonstrar a suposta eficácia da ivermectina na prevenção e tratamento da Covid-19. Segundo a Folha, o YouTube já retirou do ar um vídeo da profissional por entender que seu conteúdo não trazia informações adequadas sobre o coronavírus.

Mesmo contra as comprovações científicas, o medicamento está sendo distribuído pela prefeitura de Itajaí desde o dia 7 de julho, conforme apurou a Folha. Desde então, o número de mortes pela doença mais do que dobrou na cidade – de 45 para 105 até a segunda-feira (3/8). O município soma 3.648 casos do novo coronavírus.

O prefeito declarou, no entanto, que, dentre os último 60 óbitos causados pela doença, 80% são de pessoas que não tomaram a ivermectina, o que comprovaria a eficácia do tratamento. “Há uma diferença muito sensível entre os que tomaram e os que não tomaram”, disse.

Morastoni afirmou ainda ter inscrito Itajaí na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, órgão ligado ao Ministério da Saúde, para fazer parte de um protocolo de estudos sobre o uso do ozônio para tratar Covid-19. “Ivermectina, cânfora, ozônio e tudo mais que formos descobrindo e sabendo que pode ajudar, vamos colocar à disposição da nossa população”, afirmou na live.

Assim como o ditador da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, que receitou vodca, sauna e “uma boa lida no campo ou uma partida de hóquei no gelo” para proteger contra a infecção provocada pelo novo coronavírus, o prefeito de Itajaí acredita que medidas heterodoxas e medicamentos sem comprovação científica possam fazer mais efeito do que seguir as recomendações da OMS e dos especialistas. Contudo, o único efeito prático do anúncio da ozonioterapia contra a Covid-19 até agora foi o prefeito se tornar matéria-prima para humoristas e memes na internet.

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