Depois de muitos embates e ameaças públicas, o presidente da República, Jair Bolsonaro, demitiu nesta quinta-feira (16/4) o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A relação dos dois, que nunca passou de protocolar, tornou-se insustentável, pois o ministro manteve pulso firme em relação à condução da crise provocada pelo novo coronavírus, em especial sua defesa da prática do isolamento social, alinhada com Organização Mundial da Saúde (OMS), mas muito criticada pelo presidente. O oncologista Nelson Teich será o novo ministro.
Natural do Rio de Janeiro, Teich é médico formado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e se especializou em oncologia no Instituto Nacional de Câncer (Inca). Atualmente, é sócio da Teich Health Care, uma consultoria de serviços médicos. Teich atuou como consultor informal na campanha eleitoral de Bolsonaro, em 2018, e, na época, até chegou a ser cotado para o cargo, mas acabou preterido por Mandetta.
Demissão de Mandetta era dada como certa há mais de uma semana
Preocupado com a queda da economia para sua imagem pessoal e possível candidatura à reeleição, Bolsonaro adotou um discurso contrário ao fechamento do comércio nos Estados, minimizando a gravidade da Covid-19, que chegou a chamar de “griprezinha”, enquanto Mandetta sempre defendeu que as pessoas ficassem em casa, de forma a conter o avanço da epidemia e o possível colapso do sistema de saúde do País.
A gota d’água pode ter sido a entrevista que o ministro concedeu ao Fantástico, da TV Globo, no domingo (12/4). No programa, Mandetta disse que a população não sabe se segue as recomendações do presidente ou do ministro em relação às orientações de isolamento social contra o novo coronavírus. E que isso provoca uma dubiedade, que era preciso um discurso único e afinado nesse momento crucial de crise na saúde. Também alfinetou na entrevista o presidente, ao criticar pessoas que vão a locais públicos, como padarias, e ficam grudadas, classificando de equivocado tal comportamento.
Foi exatamente isso que Bolsonaro fez na semana passada, quando foi comer um doce na padaria, entrou em farmácia e em um prédio residencial em Brasília, contrariando as recomendações do ministério da Saúde e o decreto do Distrito Federal, que permite o funcionamento de padarias, mas proíbe consumo no estabelecimento. Em uma visita às obras do hospital de campanha que a União está erguendo em Águas Lindas (GO), Bolsonaro provocou aglomerações e cumprimentou e até foi beijado por apoiadores, para horror de Mandetta, que estava presente e se manteve distante.
Uma semana antes, no domingo (5/4), Bolsonaro já antecipava que não pretendia manter Mandetta no cargo e a decisão era questão tempo. Para um grupo de religiosos que se aglomerava diante do Palácio da Alvorada disse não ter “medo de usar a caneta” contra integrantes de seu governo que “viraram estrelas”, em uma ameaça velada ao ministro da Saúde.
Aprovado por 76% dos brasileiros
Luiz Henrique Mandetta foi indicado ao cargo pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), um grande aliado de Bolsonaro, hoje rompido, por conta das atitudes consideradas irresponsáveis tomadas pelo presidente em ostensivamente furar o isolamento social e estimular as pessoas que também o façam.
Médico ortopedista, Mandetta nasceu em Campo Grande (MS). Seu primeiro cargo público, em 2004, foi como secretário de Saúde da capital de Mato Grosso do Sul. Em 2010, foi eleito deputado federal pelo DEM, sendo posteriormente reeleito nas eleições de 2014. Em novembro de 2018, Mandetta foi convidado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para assumir a pasta da Saúde.
Ao longo dos 16 meses à frente do ministério, Mandetta teve atuação discreta. Até a crise do novo coronavírus ele não teve embates com o presidente. Em 2020, com a pandemia, ganhou notoriedade. Montou a estratégia de enfrentamento da Covid-19, que incluiu a reativação de um grupo de trabalho interministerial de emergência em saúde pública. Sob seu comando o grupo passou a realizar monitoramento diário da situação junto à OMS. Com entrevistas diárias informando a população sobre a evolução da pandemia, ganhou projeção nacional.
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Pesquisa divulgada pelo Datafolha em 3/4 indicou que o ministro da Saúde possui maior aprovação popular do que o presidente da República. Com declarações controversas e a falta de ação na pandemia, a reprovação ao presidente chegou a 39%, enquanto a pasta conduzida por Mandetta tem aprovação de 76% dos ouvidos na enquete. Além disso, mais da metade dos brasileiros (51%) julga que o presidente mais tem atrapalhado do que ajudado na crise da saúde.
“Nosso sistema de saúde não entrou em colapso até agora por conta da afinada equipe e pelas medidas adotadas com rigor científico pelo ex-ministro Mandetta. Esperamos que o novo condutor da pasta da Saúde dê prosseguimento ao bom trabalho realizado. Que esteja à altura do cargo e siga as recomendações da OMS”, afirma o fundador do ICTQ, Marcus Vinicius Andrade.
Ainda não se sabe o destino do agora ex-ministro, mas com os casos de Covid-19 em alta, é provável que ele seja convidado para assumir uma secretaria estadual de saúde. Goiás, governada por seu amigo Caiado, ou até São Paulo, do novo amigo, governador João Doria, são caminhos possíveis, avaliam pessoas próximas a Mandetta.
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