A Organização Mundial da Saúde (OMS) vira bode expiatório na disputa comercial e de hegemonia global entre os Estados Unidos e a China. Em plena crise global do novo coronavírus, Donald Trump anunciou que vai suspender o repasse americano para a instituição.
Os Estados Unidos são o maior contribuinte da OMS. Seu subsídio anual para o orçamento regular da entidade é da ordem de US$ 58 milhões (R$ 303 milhões), sem contar os aportes voluntários. No biênio 2018-2019, o país repassou voluntariamente à organização doações de cerca de US$ 650 milhões (R$ 3,4 bilhões), sendo que todo esse recurso extra é vinculado a programas decididos por Washington, sobretudo na área de doenças transmissíveis, como malária e tuberculose, e erradicação da poliomelite.
Contudo, os Estados Unidos estão devendo pouco mais de US$ 100 milhões (R$ 523 milhões), por contribuições regulares não pagas de 2019 e 2020, revelou o Valor Econômico. O orçamento anual da OMS é de US$ 3,4 bilhões (R$ 17,8 bilhões).
Por sua vez, a China repassa cerca de US$ 38 milhões (R$ 198,7 milhões) por ano como contribuição regular à OMS. Para o biênio de 2018 e 2019, Pequim aportou mais US$ 10 milhões (R$ 52,3 milhões) de forma voluntária à entidade, 50% a mais que no biênio anterior. Neste ano, só para o fundo de combate à Covid-19, os chineses transferiram US$ 20 milhões (R$ 104,6 milhões).
A decisão de Trump, de cortar a verba americana para a OMS, é vista como uma forma de enfrentamento com a China. A resolução foi criticada por Pequim, por aliados europeus dos Estados Unidos e pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres.
Atualmente, a disputa entre as duas superpotências também acontece no campo da saúde, pois cada uma delas quer ter a primazia de desenvolver a primeira vacina contra o novo coronavírus, para obter o selo da OMS, o que é visto como uma ‘chancela premium’ para a indústria farmacêutica.
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Além disso, os dois países têm se enfrentado na OMS sobre Taiwan, como destaca o Valor. A ilha tinha status de observador na assembleia da entidade, que ocorre normalmente em maio ou junho. Mas, após sua eleição, em 2016, Trump telefonou para a presidente de Taiwan, colocando em questão a política de uma China única. Em retaliação, Pequim bloqueou a participação de Taiwan em qualquer evento da OMS, mesmo como observador. Para a China, Taiwan é território chinês e não tem por que estar representado em organizações globais.
Nesse tabuleiro internacional, a OMS sai como vítima colateral entre as duas superpotências, que atinge cada vez mais organizações multilaterais, bem como dos planos políticos de Trump. O presidente tem uma campanha eleitoral pela frente e vem sendo criticado por sua má gestão na crise da Covid-19. Assim como o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que o idolatra e imita, sua reação tem sido a de culpar os outros pelos erros da própria administração.
Segundo analistas internacionais, é pouco provável que os Estados Unidos levem à frente a decisão de suspender os recursos para a OMS por muito tempo, devido à importância da entidade para a indústria americana. A instituição tem negociações para definir normas de alimentação e bebidas, por exemplo, o que atrai relevantes interesses econômicos. Para alguns analistas, tudo isso é mais um jogo de cena de Trump.
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