Empurroterapia no país da hipocrisia

EMPURROTERAPIA NO PAÍS DA HIPOCRISIA

O programa Fantástico, da TV Globo, exibiu no último domingo (16/5) uma reportagem sobre a chamada empurroterapia, uma prática antiga e que consiste na indicação meramente comercial de medicamentos e vitaminas a clientes em troca de comissões.

Infelizmente, o mercado já sabe que essa prática é recorrente, por isso, eu acredito que a matéria não esteja errada, mas, com toda a certeza, ela está bem incompleta. Por isso, quero levantar, aqui, outros aspectos da empurroterapia que passam despercebidos pela maioria, e que são tão graves como esses apontados pelo Fantástico.

Veja bem, foi mostrado que os laboratórios – que faturaram R$ 76,9 bilhões em 2020, conforme dados da consultoria IQVIA – pagam comissões de até 30% e dão viagens internacionais para que balconistas de farmácias indiquem medicamentos e vitaminas aos clientes desses estabelecimentos.

De acordo com especialistas, o pagamento de comissões pode estimular o consumo excessivo de medicamentos e isso, consequentemente, é prejudicial à saúde. Eu entendo que a prática seja criticada e repudiada por muito...e com razão, embora não seja tipificada como crime.

O fato é que a empurroterapia vai muito além da praticada no interior das farmácias. Ela acontece, diariamente, em consultórios, outdoors, nos discursos políticos, nas revistas, nas rádios, na internet e na televisão, principalmente, em propagandas e merchandisings veiculados em noticiários e programas de entretenimento. Isso tudo é a empurroterapia no país da hipocrisia!

Eu te pergunto: quantas vezes já deparamos, num domingo, após o almoço, uma personalidade falando dos benefícios da Coristina D? Pior ainda é termos um atriz famosa fazendo esse comercial. Isso não é empurroterapia? A resposta, aqui, no meu entender, é SIM!

Essa propaganda, às vezes, pode ser tão danosa como a oferta do balconista da farmácia, porque se trata de um influenciador, um formador de opinião, um indivíduo midiático falando de um medicamento, como se ele fosse um especialista de saúde.

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Isso até é legal, mas é moral? Isso beneficia a saúde da população de alguma maneira? Aqui, no meu entender, as respostas são NÃO!

Não bastasse os artistas, temos também a figura política máxima do país fazendo essa empurroterapia. Como exemplo, posso citar o presidente da República, durante a pandemia da Covid-19, que insiste em indicar a cloroquina e tantos outros medicamentos como sendo eficazes e preventivos contra a infecção pelo novo coronavírus. Qual seria o interesse dele com essa atitude?

Não por acaso, o estoque desses fármacos sumiu das prateleiras dos estabelecimentos, porque a população buscou as farmácias para comprar algo que não resolve o problema, segundo os estudos científicos sobre o tema. Aliás, somente a vacina é a solução!

Há até advogada comentarista de TV e influencers entrando para o time dos empurroterapeutas de plantão. Posso citar um exemplo, que aconteceu no ano passado, que foi o de Gabriela Prioli, da CNN Brasil, que foi duramente criticada nas redes sociais, após fazer um post patrocinado (publipost) no Instagram.

A comentarista da emissora indicou o uso de um suplemento alimentar (vitamina D) recomendado por seu nutrólogo, e atraiu, com isso, milhares de comentários. Porém, ela não contava com a boa parcela de críticas e ofensas. Isso é empurroterapia também!

E nada disso que exemplifiquei acima foi sinalizado na matéria do Fantástico. Por que razão “apontar” apenas a figura do balconista de farmácia?

A reportagem fez uma denúncia correta, só que colocou somente meias verdades e foi hipócrita ao veicular na televisão e não mencionar as propagandas que tanto vemos na mídia, ou mesmo seu global elenco que estampa diversas dessas campanhas. A cada intervalo comercial vemos medicamentos e vitaminas sendo oferecidos. Isso é empurroterapia!

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O Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP) esclareceu que trabalha intensamente para que as farmácias atuem efetivamente como estabelecimentos de saúde, conforme preconiza a Lei 13.021/14, afinal o ato de dispensar medicamentos é uma atribuição privativa do farmacêutico e envolve tanto a entrega do medicamento, como a orientação sobre o uso correto, interações medicamentosas, reações adversas, dentre outras, sendo que tais atribuições vêm ao encontro da atuação clínica do farmacêutico e objetiva promover o uso seguro e racional do medicamento, a adesão ao tratamento e a melhora clínica do paciente.

A diferença de empurroterapia para um processo de prescrição, seja médica, farmacêutica ou de qualquer outro profissional de saúde que esteja habilitado para isso, é que a prescrição é pautada, principalmente, na avalição clínica prévia do paciente.

Se a pessoa não passou por uma anamnese e não fez exames laboratoriais como é possível dizer que ela precisa desse ou daquele medicamento? Ninguém vai adivinhar que tipo de vitamina a pessoa está com deficiência.

Toda indicação que não tem como princípio uma orientação clínica - até mesmo de medicamento isento de prescrição – e que não passa por avaliação prévia é empurroterapia.

Uma avaliação clínica inclui anamnese, semiologia, exames laboratoriais e de imagem e avaliação e revisão farmacoterapêutica. A conclusão do processo de avaliação clínica é a prescrição, medicamentosa ou não.

Ressalto, assim como o CRF-SP, que o farmacêutico, no exercício da profissão, não pode estar sujeito à pressão ou ser obrigado a cumprir metas de vendas de medicamentos, já que a dispensação é um ato técnico, e a escolha do medicamento não pode, em nenhuma hipótese, estar associada a qualquer tipo de interesse ou vantagem financeira.

É triste analisarmos esse cenário onde o comercial, o lucro e o capitalismo em excesso se sobressaem à real função das farmácias e do farmacêutico: ser um local e profissional em prol da saúde das pessoas.

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Marcus Vinicius de Andrade é fundador do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e graduando em Farmácia.

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