Mesmo com o recente reajuste médio de 8,15% para medicamentos (quase o dobro do índice da inflação de 2020, que ficou em 4,52%), as indústrias farmacêuticas dizem que podem rever verba para pesquisa, por conta dos custos dos insumos e da alta do dólar, revelou o Valor.
Os altos custos de produção podem levar os laboratórios a rever algumas estratégias no País, principalmente nas áreas relacionadas à pesquisa. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, as despesas com insumos estão ainda maiores neste ano, além da variação cambial que já está acima do estimado pelas empresas para 2021.
Segundo Mussolini, os custos com embalagens, como alumínio e papel ondulado, por exemplo, aumentaram em 55% a 45% nos últimos três meses. Já o câmbio em 2020 subiu 30%. Isso sem contar o frete que sofre reajustes desde o início da pandemia. “Muitas empresas trabalhavam com o câmbio este ano na faixa de R$ 5,20. Já estamos acima disso. Os custos de produção, principalmente com embalagens, vêm aumentando. Isso impacta a rentabilidade da indústria”, afirmou ao Valor.
A variação de 30% do câmbio em 2020 pesou sobre a importação dos insumos farmacêuticos ativos (IFA) e de medicamentos prontos que são trazidos do exterior. “O País precisa adequar a política de preço e a tributária. O cenário é complicado porque não temos como colocar dinheiro no negócio. As margens estão menores”, salientou Mussolini.
Conforme o executivo, a forte recuperação do setor industrial como um todo no ano passado deve permanecer em 2021 e, com isso, os custos gerais não devem cair no mercado nacional. “Há custos que não temos como eliminar, temos que absorver. Com o mercado crescendo não se pode cortar em mão de obra, por exemplo. As empresas terão de diminuir em pesquisa”.
Para 2021, a expectativa é de crescimento do mercado no País entre 8% a 10%, mas isso por si só não garante recuperação das margens na produção de medicamentos, segundo o dirigente do Sindusfarma. Conforme a entidade, o reajuste dos medicamentos anunciado na quinta-feira não recompõe sequer a alta dos custos do ano passado, causada principalmente pela crise sanitária.
“O enorme impacto econômico provocado pela pandemia resultou numa crise mundial de fornecimento de IFAs e outras matérias-primas, além de aumentos nas tarifas de logística e numa forte variação cambial, entre outros fatores, que elevaram os custos de produção da indústria farmacêutica instalada no Brasil, em valores muito superiores aos esperados”, informou em nota o Sindusfarma após a divulgação do índice de reajuste.
De acordo com a entidade, a recomposição de preços dos medicamentos serve para compensar os custos já absorvidos pela indústria farmacêutica nos últimos 12 meses. “[O reajuste tem] objetivo de manter o equilíbrio econômico-financeiro e a competitividade do setor e, principalmente, assegurar o abastecimento normal de produtos básicos e fundamentais para a saúde e o bem-estar da população”.
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Mussolini disse que o reajuste, no entanto, leva em média de dois a três meses para chegar ao consumidor. “Os custos estão muito acima [do índice concedido]. Mas é um pequeno alívio para o setor. Diante das variações de câmbio, insumos nacionais e importados, energia, salários, não houve uma recomposição integral”.
O executivo também se queixa da recente decisão do governo de São Paulo de tributar produtos para oncologia. Medicamentos oncológicos eram isentos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e passaram a ser tarifados em 18%. “É um disparate. O mundo reduzindo o custo e o País aumentando. Essa alta no ICMS aconteceu também no tratamento para a Aids”, criticou Mussolini. “Algumas empresas já avaliam sair de São Paulo”, finalizou.
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