É falsa mensagem compartilhada no Facebook e no WhatsApp que afirma haver ligações entre um ‘laboratório biológico chinês’ em Wuhan, na China, onde teria começado a pandemia, com as farmacêuticas Glaxo e Pfizer e os empresários George Soros e Bill Gates, revelou o Estadão.
O texto sugere uma conspiração entre esses diferentes atores para criação da Covid-19, mas não há evidências das relações citadas entre as empresas ou investidores. Além disso, estudos apontam que o novo coronavírus (SARS-Cov-2) surgiu a partir da natureza, e não de modo artificial.
Na mensagem há referência ao Instituto de Virologia de Wuhan (WIV), localizado na cidade que foi o primeiro epicentro da pandemia do novo coronavírus. O site do órgão aponta que o instituto pertence à Chinese Academy of Sciences (CAS).
A academia, por sua vez, é financiada majoritariamente por fundos estatais do governo chinês e verbas de transferência de tecnologia, conforme explica um representante do órgão em artigo na revista Nature. Ou seja, não há qualquer relação com Glaxo, Pfizer, Bill Gates ou George Soros, constatou o Estadão Verifica (plataforma de checagem de boatos do jornal).
Segundo a apuração, o WIV inaugurou, em janeiro de 2015, o laboratório de biossegurança P4 de Wuhan. Certificado por autoridades do país em janeiro de 2017, o complexo foi construído com o intuito de abrigar investigações científicas sobre a prevenção e controle de doenças infecciosas na China. O comunicado no site do órgão não faz menções à empresa farmacêutica britânica Glaxo.
Já a Glaxo assegurou ao site de verificação de fatos espanhol Maldita.es que não é proprietária do Instituto de Virologia de Wuhan. O laboratório é alvo constante de desinformação sobre a origem do novo coronavírus.
Outro trecho da mensagem falsa diz que a Glaxo seria proprietária da Pfizer, o que não é verdade. Como aponta a checagem do Maldita.es, a GSK (grupo da Glaxo) não está registrada entre as principais acionistas da Pfizer ou vice-versa. Em nota, a Glaxo negou qualquer relação de propriedade com o laboratório dos Estados Unidos.
A Pfizer, desenvolvedora da vacina contra a Covid-19 em parceria com a startup alemã Biontech, que começou a ser distribuída nesta semana no Reino Unido, tem como único vínculo com a Glaxo, além da concorrência de mercado entre as duas organizações, uma joint-venture formada em 2018 com a proposta de criar uma empresa separada chamada GSK Consumer Healthcare.
A fake news insinua ainda associações entre a Pfizer, a Open Society Foundations, do megainvestidor George Soros, e uma série de outras empresas internacionais, como a gestora de ativos BlackRock e a seguradora francesa AXA.
De fato, a BlackRock é a segunda maior acionista da Pfizer, com 7,46% das ações do laboratório norte-americano, de acordo com informações do Yahoo Finanças. Uma verificação da AFP aponta que George Soros é um dos investidores da companhia. A empresa de investimentos do bilionário húngaro comprou ações da BlackRock em 2018, conforme artigo da Reuters.
Porém, não está claro se a BlackRock de fato administra os ativos da Open Society Foundation. Também não há evidências de nenhuma transação monetária entre a organização fundada por Soros e a AXA, como destaca a AFP.
A AXA adquiriu em 2006 o grupo suíço de seguros Winterthur (citado na mensagem falsa como sendo da Alemanha), informa uma reportagem do El País. De acordo com o site da Academia Chinesa de Ciências, porém, o projeto do laboratório nacional de biossegurança de Wuhan não tem nenhuma relação com essas duas empresas. Na verdade, a unidade foi construída em parceria com o governo francês.
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Outro alvo constante de teorias conspiratórias e de boatos, Bill Gates é apontado no texto como acionista da Pfizer e o “primeiro patrocinador da Organização Mundial da Saúde”, como se isso fosse um erro. De acordo com a OMS, a instituição filantrópica Bill & Melinda Gates é responsável por 11,65% do fluxo financeiro da entidade, atrás apenas do governo da Alemanha, com 12,18%.
A fundação filantrópica de Gates investiu em estudos clínicos da Pfizer contra a infecções de bactérias streptococcus, que podem desencadear doenças graves em recém-nascidos. O cofundador da Microsoft também apoiou um programa para ampliar o acesso do anticoncepcional injetável Sayana em países em desenvolvimento.
Apesar do apoio financeiro a alguns projetos em parceria com Pfizer, nem a Fundação Bill & Melinda Gates nem o nome do empresário aparecem entre os principais acionistas do laboratório norte-americano. A organização filantrópica também apóia uma série de outras empresas no desenvolvimento de potenciais vacinas contra o novo coronavírus. Todas essas informações estão disponíveis para consulta no site da fundação.
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