Dois dos maiores produtores de vacinas do Brasil, Bio-Manguinhos e Instituto Butantan, estão adaptando suas fábricas para produzir imunizante contra o novo coronavírus. Apenas na Bio-Manguinhos a previsão é inicialmente aumentar a capacidade de produção para 30 milhões de doses mensais, podendo ser ampliado em mais 10 milhões de unidades, se necessário.
A Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), anunciou que investirá US$ 15 milhões (R$ 79,8 milhões) para adaptar sua fábrica para produzir, no início do próximo ano, vacina contra a Covid-19, informa o Valor Econômico. Será feito convênio com o laboratório AstraZeneca para a transferência de tecnologia do imunizante, desenvolvido pela Universidade de Oxford.
Trata-se de uma encomenda tecnológica em que a instituição adquire o produto antes do término dos ensaios clínicos previstos, em função do movimento global de mobilização e para aquisição de vacinas. “Devemos assinar o acordo no final deste mês e o cronograma prevê que em oito meses finalizemos a transferência de tecnologia”, afirmou ao Valor o diretor da Bio-Manquinhos, Maurício Zuma.
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Segundo o executivo, no primeiro momento, entre dezembro e janeiro de 2021, a AstraZeneca irá enviar dois lotes com 15,2 milhões de doses da vacina para serem envasados pela fundação, o que representaria 15% do quantitativo necessário para a população brasileira, ao custo de US$ 127 milhões (R$ 675,6 milhões). “Vamos produzir sob risco, pois a vacina ainda está em estudos clínicos e possivelmente não estará totalmente aprovada nesse período. Mas, tão logo seja registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já teremos lotes para iniciarmos a imunização”, explicou Zuma. Ao término dos ensaios clínicos e com a eficácia da vacina comprovada, o acordo prevê uma segunda etapa, com a produção de mais 70 milhões de doses, ao preço de custo de US$ 2,30 (R$ 12,24) por dose.
Segundo a Fiocruz, nesse momento, Bio-Manguinhos já teria capacidade de executar todo o processamento final da vacina, a partir do recebimento do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da AstraZeneca, contemplando as etapas de formulação, envase, rotulagem, embalagem e controle de qualidade. Em paralelo, a unidade deverá fazer as adequações necessárias em suas instalações para incorporar a produção do IFA, de modo a se tornar autossuficiente em todas as fases do processo. A previsão é de que a incorporação completa do IFA possa ser concluída nos primeiros meses de 2021.
De acordo com o diretor da Bio-Manguinhos, a instituição pode produzir algo próximo de 30 milhões de doses mensalmente de vacinas, o que daria um total de mais de 200 milhões de doses por ano só para a da Covid-19. Ele destaca que é possível aumentar ainda mais a produção, se necessário. “Poderíamos começar a produção dessa vacina rapidamente, com capacidade para 40 milhões de doses por mês”, revelou à Folha. Esse número está dentro da capacidade instalada do instituto, uma vez que será possível adaptar linhas de produção atualmente usadas para outras vacinas.
Atualmente, a Bio-Manquinhos tem em seu portfólio oito vacinas, entre elas a da febre amarela e a da poliomelite. Por ano, são produzidos 120 milhões de doses. “Planejamos a implementação de novos turnos de trabalho, juntamente com um rearranjo das atividades produtivas, de modo a garantir o aumento necessário da produtividade para atender à nova demanda”, afirmou o diretor à Folha. Segundo ele, vacinas prioritárias, como as de febre amarela e tríplice viral, que imuniza contra o sarampo, não terão a fabricação afetada.
Com a produção da vacina no Brasil, Maurício Zuma ressaltou que a Bio-Manguinhos terá acesso a uma plataforma tecnológica que ainda não domina. “Vai ser de grande utilidade esse desenvolvimento de conhecimento e será importante porque o Brasil terá uma capacidade de dar respostas mais rápidas a uma situação como a que estamos vivendo. Além de não sermos dependentes de outros países”, disse o diretor ao Valor. Segundo ele, nenhum país da América Latina tem essa capacitação e ficarão à mercê da produção de outros mercados. “Os excedentes dessa vacina deveremos exportar via Organização Pan-Americana de Saúde”, salientou.
Butantan terá vacina no primeiro semestre de 2021
O governo de São Paulo anunciou parceria do Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac Biotech para testar e produzir uma vacina contra o novo coronavírus. A estimativa é que ela esteja disponível até junho de 2021, se for aprovada nos testes, revelou a Folha. “Essa é uma das vacinas com desenvolvimento mais avançado, e o Butantan já trabalha com vacinas do mesmo tipo contra raiva e dengue. Temos a fábrica, e a estrutura física pode ser rapidamente adaptada para sua produção”, afirmou ao jornal o diretor-geral do Instituto Butantan, Dimas Covas.
A vacina da Sinovac usa pedaços inativados do novo coronavírus (que não podem causar a doença) para estimular a resposta imunológica e defender contra a Covid-19. Segundo Covas, há negociações em andamento com outras empresas, entre elas a AstraZeneca. “Embora a vacina da Sinovac seja muito promissora, não dá para apostar 100% em uma só. O estudo clínico é decisivo. Muitas podem chegar a essa fase e apresentar problema”, assinalou o diretor.
A capacidade para a produção da vacina da Sinovac, caso ela seja aprovada, está perto de 30 milhões de doses por ciclo produtivo, de acordo com Covas. Um ciclo produtivo dura pelo menos dois meses. O avanço da pandemia no Brasil, com a crescente circulação do vírus, também vai permitir resultados mais rápidos para a pesquisa com as possíveis vacinas, explicou o diretor. “A China não seria um bom lugar para fazer o estudo, com o número de casos diminuindo. O Brasil está em um momento propício para os estudos clínicos”, concluiu.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 10 vacinas em desenvolvimento no mundo estão na fase de estudo clínico, quando o teste é feito em humanos. Elas usam diferentes técnicas – algumas usam o vírus inativado e outras apenas o material genético do invasor para estimular resposta imunológica nas pessoas, por exemplo. O diretor da Bio-Manguinhos diz que o instituto busca empresas que estão na frente nessa corrida e que a plataforma da vacina não vai ser um critério de exclusão na escolha. “É importante não se precipitar no momento de escolher. Muitas dessas vacinas ainda precisam mostrar resultados e não podemos fazer uma escolha errada”, afirmou Maurício Zuma à Folha.
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