Por que a assistência farmacêutica é importante no SUS

Trabalho farmacêutico é essencial para a saúde do país, diz coordenador do CAF

No âmbito da saúde pública nacional, ninguém pode negar que o Brasil enfrenta problemas de ordem macro, e que afetam todos os segmentos farmacêuticos, como a indústria, o varejo e, principalmente, o usuário.

De acordo com o farmacêutico coordenador de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Estado de SP, dr. Victor Hugo Costa Travassos da Rosa, o País está saindo de um momento muito complicado e crítico, em que houve uma falência econômica. A prova disso são os diversos Estados que estão falidos, sem conseguir quitar a folha de pagamento. “Isso é um fato, entretanto, eu já consigo ver por outro ângulo. De alguma maneira, nós já estamos saindo desse status, que estava trazendo muitas dificuldades econômicas e financeiras”, comenta. Ele está otimista com relação ao setor farmacêutico nacional.

No setor industrial, sua expectativa é que, com a projeção macroeconômica otimista se concretizando, isso acabe alavancado a indústria e que, inclusive, isso possa gerar economia de escala, com preços mais baixos e maior acesso da população aos medicamentos.

À frente da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (CAF), Rosa é responsável por consolidar no âmbito do Estado a Política Nacional de Medicamentos e a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, destinadas a prover atenção integral à saúde da população. Sua missão é garantir e ampliar o acesso a medicamentos eficazes, seguros e de qualidade, visando à integralidade do cuidado em saúde.

Para aprofundar mais esses temas, Rosa concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal de Conteúdo do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico. Acompanhe.

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ICTQ - De que forma o atual momento econômico do País impacta no setor farmacêutico?

Victor Hugo Costa Travassos da Rosa - Na área farmacêutica, economia e finanças trabalham juntas. Com a questão da assistência, não dá para dissociar. Eu costumo dizer que o setor farmacêutico é o único em que o profissional, para poder promover saúde por meio do medicamento ou pela terapêutica, precisa de recursos financeiros.

É diferente, por exemplo, de um médico, que pode fazer clínica com um estetoscópio. Se ele for um bom clínico, ele faz a medicina. Isso não é possível com o farmacêutico, em que, em qualquer âmbito de atuação - seja no laboratório clínico ou na farmácia - ele precisa, essencialmente, para traduzir o seu conhecimento e propiciar benefício de saúde ao seu paciente, de recursos financeiros altos, porque não há medicamento sem recurso, não há exame clínico, seja ele de sangue ou com amostra microbiológica, por exemplo. Se ele não tiver uma boa aparelhagem por trás, o farmacêutico não consegue desempenhar o seu papel.

ICTQ - De que forma o profissional farmacêutico deve atuar para minimizar os impactos financeiros à população?  

Victor Hugo Costa Travassos da Rosa - Eu diria que, nessas crises, a arte do farmacêutico deve ser a de buscar aquela terapêutica que tem bom resultado, mas é de baixo custo. Veja, no Brasil, nós temos uma cultura de que tudo o que é mais caro é melhor. Isso não é verdade. O brasileiro tem um pouco disso como cultura, se você recebe uma aspirina de R$ 1, você vai achar que ela não presta, mas se eu te entregar uma de R$ 10, você vai dizer: “Ok, tudo bem”.

Dentro dessa linha, o farmacêutico tem condições de participar de uma negociação, na terapêutica, nos protocolos, às vezes, até auxiliando o médico, mostrando para ele que há algum medicamento substitutivo que tenha um efeito tão bom quanto o que foi indicado anteriormente, mas que apresente um preço menor.

Sobre a questão do uso do genérico, por exemplo, criou-se, de certa maneira, uma resistência, imaginando que o produto não seja bom. Isso não é uma verdade completa, porque tudo tem seu lado bom e ruim, o mais importante é o protocolo equilibrado e adequado e a indicação e o diagnóstico feitos de forma certa e, se possível, acompanhado. Isso gera muita economia e farmacoeconomia, que são fatores fundamentais para o profissional viabilizar o tratamento dos pacientes.

ICTQ - Qual a projeção econômica para o setor farmacêutico?

Victor Hugo Costa Travassos da Rosa - Do ponto de vista macro, da economia, nós temos uma projeção otimista. Neste ano, devemos ter um PIB maior, um crescimento melhor, a inflação que já está baixa, e, se ela se mantiver assim, já estará muito bom. Se deixarmos de ter o déficit público atual, poderá melhorar bastante, assim como se o desemprego diminuir. Enfim, são projeções do ponto de vista da macroeconomia.

Já no setor farmacêutico, o que nós vemos é o seguinte: a indústria de forma geral, devido à crise econômica, acabou ficando superdimensionada, ou seja, há muita fábrica no Brasil que não está produzindo o que pode produzir, porque não tem consumidor.

A nossa expectativa é que, a projeção macroeconômica se concretizando, alavanque a indústria e que, inclusive, isso possa gerar economia de escala. Não dá para se iludir: se cai a produção, aumenta no preço, direta ou indiretamente, ou porque aumenta o desemprego (e não se recolhe imposto) ou porque você terá que cobrar mais para poder compensar a sua estrutura. Mas, não podemos negar que, dentro das expectativas, a indústria e a terapêutica, de forma geral, evoluem a cada dia. Os lançamentos de novas tecnologias são constantes, estamos vivendo, praticamente, a quarta revolução industrial. O fato de estarmos pensando em produtos biológicos, células-tronco e quase uma personalização de medicamentos mostra um grau de complexidade altíssimo.

Agora, não podemos nos esquecer, também, que tudo isso onera porque essas descobertas têm custo, valor e investimento. Atualmente, eu não trato uma infecção como eu tratava há 30 anos, pois era bem mais caro. Por exemplo, um dos grandes avanços da medicina é, justamente, a prevenção e exames caríssimos, então, o que quero dizer é que esse diferencial de inovação traz alguns custos. Acredito que o Brasil ainda precisará de alguns anos para financiar essas inovações.

ICTQ - Como o senhor acredita que o farmacêutico deve lidar com o paciente dentro desse aspecto?

Victor Hugo Costa Travassos da Rosa - Veja, não é porque eu tenho um tratamento mais moderno para uma determinada patologia que, a princípio, eu vou usá-lo, de repente, para qualquer quadro patológico. Eu posso usar uma terapia mais barata, com efeitos semelhantes, iguais ou até melhores, mas que seja viável.

Esse é um processo que precisamos difundir muito no Brasil, principalmente, no meio médico, porque nosso profissional de medicina não tem muito esse hábito, diferente dos europeus, que têm o cuidado de saber qual o custo do tratamento no dia que ele está prescrevendo para o indivíduo. O farmacêutico é o meio, não é fim. No âmbito de empresas de saúde pública, o grande segredo do farmacêutico é pesquisar quais ingredientes, apresentações e fórmulas seriam mais adequados, levando em conta o custo, benefício e o resultado.

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ICTQ – No âmbito das empresas privadas funciona de maneira igual?

Victor Hugo Costa Travassos da Rosa - Já no ambiente privado é um pouco diferente, porque o ditame é médico, ou seja, ele prescreve e eu atendo, por isso eu digo que na cultura médica isso precisa mudar. Ele pode prescrever aquilo que os pacientes precisam, mas sem ser o mais caro, analisando qual a capacidade do paciente de ter acesso àquele medicamento. Não adianta eu ter o melhor diagnóstico, mas não conseguir proporcionar o acesso do paciente ao tratamento. Eu acho que isso é a pior terapêutica e, para o paciente, é frustrante demais. Na medida em que eu avalio também a condição social dele, eu posso fazer com que ele tenha acesso. Acho que esse é um ponto sobre o qual precisamos aprender muito.

ICTQ - De que forma as políticas públicas podem estimular o crescimento do setor farmacêutico?

Victor Hugo Costa Travassos da Rosa - O Estado brasileiro é o grande responsável por atender à grande massa da população. Isso alavanca a indústria, de uma forma ou de outra. Há algumas drogas que, se a indústria não colocar para o Estado, não tem para quem colocar, porque ninguém tem acesso, ou o volume é tão pequeno que não sustenta a indústria.

Veja, eu tenho uma determinada patologia que precisa de insulinoterapia, porque tem diabéticos em todo lugar, mas a minha tecnologia tem um valor muito alto. Se o Estado brasileiro não proporcionar o acesso à população, não há clientes para comprar aquilo na farmácia, ao menos em uma escala que compense. Por isso, o Estado também acaba sendo um grande cliente, até por obrigação social. Então, a indústria também deve olhar para o Estado como um grande cliente, olhando para ele e tentando atendê-lo naquilo que é necessário, para que ele possa acolher a demanda da população, porque você não está vendendo uma unidade no varejo, mas milhares de unidades.

ICTQ - Qual a importância da assistência farmacêutica no contexto da saúde do País?

Victor Hugo Costa Travassos da Rosa - Primeiro nós temos de explicar bem a diferença entre assistência e atenção, mas não podemos separá-las. Assistência, no conceito, é o objeto. Atenção é o cuidado. Esses dois conceitos deveriam estar na linguagem, porque quando dizemos ‘assistência farmacêutica’ achamos que estamos abarcando tudo, mas não estamos. Agora, quando dizemos ‘assistência e atenção farmacêutica’, essa ciência está agregando um conjunto de fatores que é uma tarefa do profissional farmacêutico, sendo de fundamental relevância nos resultados e na economia.

Se eu não adquirir um medicamento na hora certa ou no momento adequado, um produto que esteja estabelecido como necessário, ou seja, se eu não tiver uma política estabelecida, eu vou começar a não ter mais um bom resultado. Se esse medicamento não for de qualidade, não adianta eu dar para o   paciente, porque ele é de baixa qualidade. Não adianta eu não ter esse medicamento em tempo e na hora, porque eu preciso ter uma logística competente para ter o medicamento no momento certo. Dependendo da patologia, isso é preponderante para levar a um malefício irreversível. Esses são os aspectos que eu chamo de assistência.

Por exemplo, não adianta eu ter um medicamento do melhor fabricante do mundo, que diz que tem de ser conservado a 10oC, mas eu o conservo a 30oC. Qual é a perda de qualidade que eu estou tendo nesse produto? De repente, eu não estou dando ao paciente nem uma droga, mas um placebo. Tudo isso envolve assistência. Agora, vamos analisar outro aspecto que eu acho que é um dos mais importantes, que é a atenção. Eu orientei o paciente, suficientemente, por exemplo, sobre essa condição de temperatura adequada do medicamento? Será que o paciente tem uma geladeira adequada para guardar esse medicamento?  Eu tenho certeza de que o paciente que está levando aquele medicamento está orientado sobre tudo isso? Como ele vai usar? Que horas vai usar?

Temos de conscientizar o paciente sobre tudo isso, até mesmo no âmbito da importância que essas medidas terão no tratamento dele. Às vezes, as pessoas pegam o vidro de medicamento como se fosse uma poção mágica. Eu trabalhei muitos anos em hospital e vi, várias vezes, um paciente ingerir supositório, porque ninguém explicou para ele como deveria ser usado. Já vi paciente tomar permanganato potássio, porque era feito em comprimido, então, com uma orientação simples de um farmacêutico, ele não faria aquele absurdo, com resultados danosos, terríveis, inclusive, que geram custos imensos para a economia do País, porque agora se vai gastar mais com ele.

Por isso, nesse contexto, é importante ter essa consciência coletiva, no âmbito da saúde, de que precisamos valorizar esse profissional farmacêutico. O médico, que é o líder do grupo, precisa, inclusive, favorecer o trabalho do farmacêutico. Então, por esses motivos é que na assistência e na atenção o trabalho farmacêutico é essencial para a saúde do País, porque ele é o vigilante, ele é o profissional que vigia.

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