A farmacêutica Renata Rocha Duarte, que trabalha em um hospital particular de Goiânia, revelou as dificuldades para conseguir comprar sedativos para intubação de pacientes, e, se a situação não mudar, dentro dos próximos dez dias, o estoque da entidade será esgotado.
"Essa semana eu tinha uma lista de oito sedativos para comprar e consegui comprar só três. O que eu ainda não consegui comprar, tenho em estoque, mas que vai durar, no máximo, 10 dias. Então a gente está numa lista de espera", explicou a farmacêutica ao G1.
O secretário municipal de Saúde de Goiânia, Durval Pedroso, reforçou a queixa da farmacêutica. Ele declarou que os prestadores de serviços à prefeitura estão com dificuldade de acesso às medicações e resumiu a situação como “um cenário de muita gravidade".
Ainda assim, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, "até o momento, os estoques de medicamentos e oxigênio vêm atendendo à demanda dos leitos regulados pelo município", afirmou a pasta, em nota.
Quanto aos hospitais da rede privada, em nota, representantes das entidades concordaram que há uma diminuição no número de alguns insumos no mercado, como os anestésicos, mas que esta escassez não significa que as unidades médicas estão desabastecidas. Além disso, pontuaram esse não é um problema apenas de Goiás, mas sim no Brasil todo e que estão discutindo a possível escassez com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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Estados prestes a ficar sem medicamentos de intubação
Esse cenário se soma ao que já está ocorrendo em outras regiões do Brasil; como, por exemplo, Pará, Rondônia, Florianópolis e Paraná.
Nesses Estados, prevê-se a possibilidade dos medicamentos de intubação, da rede pública, acabarem em 20 dias, conforme noticiamos ontem, 18/03, veja a matéria completa aqui.
Com base na preocupação do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), o Estado pode entrar nessa lista. Caiado não eliminou um possível colapso na oferta de medicamentos e fez um desabafo em forma de alerta, mesmo após a Secretaria estadual de Saúde fazer aquisições preventivas para aumentar a reserva.
"Mas até quando? Até quando vamos ter condições de sedar um paciente intubado? Podemos ter colapso na oferta de medicamentos? Sim!”.
Na classe médica a preocupação não é diferente. O médico Károly Hunkár explica a gravidade que pode ocorrer se não houver sedativo para tratar os pacientes, em especial, nas internações de Covid-19, que cada vez mais crescem no País: “Sem essa medicação fica muito difícil porque se o paciente não estiver relaxado pode estourar os pulmões", pondera Hunkár.
Consequências do desabastecimento
Os profissionais de saúde, que estão na ponta desse problema, já enxergam as graves consequências que o desabastecimento e baixo estoque dos medicamentos de intubação podem acarretar em outras áreas.
O farmacêutico do Ministério da Saúde e professor da Pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni, lembra que na primeira onda da Covid-19 no Brasil houve quebra de estoque em diversos medicamentos, inclusive, os de intubação.
Segundo ele, isso se deu porque, mediante o aumento da demanda, as indústrias, que estão no País, não conseguiram acompanhar o crescimento expressivo da procura desses medicamentos.
Poloni alerta que o desabastecimento dos medicamentos pode refletir em baixa no estoque também na farmácia, com possíveis novidades de tratamento para o novo coronavírus, e, para impedir isso, é importante que haja diversidade nos medicamentos.
“Tem que haver sempre opções de tratamento; várias linhas diferentes, para que, na falta de um, outro consiga utilizar uma outra classe farmacológica, um outro tipo de medicamento, ou até mesmo uma outra substância dentro da mesma classe farmacológica”.
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