Os presidentes de dois dos maiores hospitais privados do País, Sidney Klajner, do Albert Einstein, e Paulo Chapchap, do Sírio-Libanês, defenderam parcimônia na utilização da cloroquina no tratamento da Covid-19. Juntamente com outros profissionais de saúde também foram enfáticos na defesa do isolamento.
O medicamento que vem sendo incensado pelo presidente da República Jair Bolsonaro, apontado como uma via possível para a cura da Covid-19, é visto com cuidado pelos dirigentes dos hospitais. Eles afirmam que ainda não há provas contundentes sobre a eficácia da droga para combater a infecção pelo coronavírus. “A evidência científica não é robusta o suficiente”, salientou Klajner, em relato da revista Exame.
Ambos participaram de uma teleconferência realizada na segunda-feira (13/4) com o presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, em que foi anunciada uma doação de R$ 1 bilhão do banco para o combate ao coronavírus. Os recursos serão destinados a um fundo patrimonial, ligado à Fundação Itaú Social, cuja administração ficará a cargo de um conselho de profissionais de saúde, liderado por Chapchap.
Quatro eixos de atuação serão financiados com os recursos da doação do Itaú: informação à população; medidas de prevenção e proteção; cuidados dos doentes; e ações para retomada das atividades econômicas. O objetivo, segundo Chapchap, é desenvolver iniciativas estruturantes, que possam ficar de legado para o Sistema Único de Saúde (SUS). Caberá ao conselho definir onde o dinheiro será aportado
Importância do isolamento social
Em outra desafinação com o Governo, Klajner e Chapchap defenderam o isolamento social como peça fundamental para conter a disseminação do coronavírus. “É a única maneira de conter a transmissão”, afirmou Klajner. O tema tem gerado conflitos entre Jair Bolsonaro, defensor de um relaxamento da quarentena, e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, favorável ao isolamento.
Participaram também do evento do Itaú outros profissionais de saúde, como o médico Drauzio Varella, o presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e membro da Fundação Oswaldo Cruz, Pedro Barbosa, o consultor do Conselho dos Secretários de Saúde (Conass), Eugênio Vilaça Mendes, o ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), Maurício Ceschin, e o ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina Neto. Todos eles também defenderam o isolamento social como arma para conter a pandemia.
Barbosa afirmou que o vírus tem uma forte transmissão e a “lógica científica e abordagens mostram a importância do isolamento total e distanciamento social para transmitir menos. Temos que organizar o sistema para evitar o colapso, como estão fazendo os outros países. Com tanta informação não tem porquê fazermos diferente”. Segundo ele, é necessário mais tempo para entender o processo. “A doença é recente, cada dia que passa tem uma novidade. Precisamos manter o isolamento”, revelou, conforme relatou a Infomoney.
Já o médico Drauzio Varela salientou o risco do colapso do sistema de saúde e seus impactos. “A doença provoca insuficiência respiratória, um dos sintomas mais aflitivos que o ser humano pode sentir. Na prática, como aconteceu na Itália, quem não encontrar leito na UTI vai morrer no quarto. Como lidar com isso? Assistir ao sofrimento dos outros sem ter acesso aos recursos mais modernos. É grave”, disse.
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Gonzalo Vecina Neto destacou que nunca passamos por algo assim – uma pandemia em meio a tanta urbanização e tecnologia. “Por isso, esse momento exige duas coisas: humildade em primeiro lugar. Quem vem acompanhando a pandemia desde o começo já viu tudo mudar em questão de horas. Precisamos ter a humildade de acatar novidades e lidar com a mudança. E nesse momento precisamos agregar um novo ingrediente, a solidariedade”, afirmou.
Barbosa ainda alfinetou o Governo: “os dirigentes do País que têm afeto pela saúde entendem o isolamento”. Mas revelou preocupação com a economia como um desafio para parte da população que precisa sobreviver à crise. “As ações precisam ser apoiadas pelos Estados e Governo. Eles precisam prover a renda mínima, cesta básica, porque essa fatia mais carente da população vai se expor se tiver que escolher entre a fome e o risco da doença. Os governos precisam tomar medidas efetivas para que a população que mais precisa de ajuda, realmente possa ficar em casa – e isso significa renda, cuidado e auxílio”, salientou.
Para Chapchap, as controvérsias geradas dentro do Governo Federal não devem atrapalhar o combate à pandemia. “Nossa atuação é exclusivamente junto às autoridades de saúde. Nesse sentido, há grande sinergia”.
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