Ao menos três pacientes contaminados pelo novo coronavírus (Covid-19) podem ter sido vítimas de automedicação por possíveis efeitos colaterais causados pela cloroquina e hidroxicloroquina na França. Com base nos casos, a Agência Nacional de Segurança de Medicamentos e de Produtos de Saúde (ANMS) emitiu um alerta aos franceses sobre os riscos de tomar o medicamento por conta própria, pois, o produto só pode ser consumido com prescrição médica e orientação do farmacêutico.
Além disso, o diretor a Agência francesa, Dominique Martin, disse que os casos estão sendo investigados, com a intenção de apurar se as mortes podem ser atribuídas também à utilização de tratamentos experimentais em hospitais. Por isso, recomendou aos médicos de consultórios privados que não prescrevam o medicamento aos pacientes infectados pelo novo vírus, ao menos, até que estudos comprovem que a eficácia da hidroxicloroquina na terapia aplicada nos pacientes, sem apresentar riscos à saúde.
Leia também: "Cloroquina não tem efeito colateral", afirma Bolsonaro
Naquele país, a ANMS colocou sob 'vigilância reforçada' diversos tratamentos experimentais que estão sendo utilizados no combate à Covid-19, principalmente, quando realizados fora de ensaios clínicos. "É normal que os tratamentos sejam testados, dadas às circunstâncias, mas isso não nos impede de exercer vigilância e farmacovigilância sobre esses produtos", afirmou Martin, em matéria publicada no UOL.
O uso do medicamento tem causado polêmica na França. Na última sexta-feira (27/03), um farmacêutico de um grande hospital universitário daquele país, associado ao centro de farmacovigilância da sua região, também reforçou a repercussão sobre o assunto, após lançar uma advertência sobre suspeitas de casos com acidentes cardíacos fatais, por pacientes que, possivelmente, fizeram uso da substância sem acompanhamento.
Cloroquina no Brasil
Órgãos responsáveis pelo controle de medicamentos em território nacional também já se manifestaram em relação ao uso da hidroxicloroquina. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou uma nota técnica sobre o assunto, ressaltando os riscos da automedicação:
“Apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos [hidroxicloroquina e cloroquina] para o tratamento da Covid-19. Assim, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação. Ressaltamos que a automedicação pode representar um grave risco à sua saúde”.
Muitos especialistas também já alertaram para o uso inadequado do produto. Por meio das redes sociais, o vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), Marcelo Polacow, falou sobre a hidroxicloroquina e alertou sobre os riscos da automedicação: "São necessários mais testes para que seja feita a indicação clínica. O FDA acabou de liberar esses testes nos pacientes com o novo coronavírus, porém, esse medicamento é um produto tarjado como todos os outros tarjados. Necessita de receita médica e não pode ser vendido sem prescrição".
O farmacêutico ainda completou: "Esse medicamento precisa ser prescrito na dosagem correta, no tempo correto, além disso, esse produto pode ser extremamente perigoso [se utilizado da forma incorreta], não pode ser usado por gestante, pode causar comprometimento cardíaco e distúrbio ocular, podendo levar até à cegueira. Infelizmente, eu recebi informações que muitos pacientes estão comprando e vão fazer uso como automedicação”.
Participe também: Grupo de WhatsApp para receber notícias farmacêuticas diariamente
Obrigado por apoiar o jornalismo profissional
A missão da Agência de notícias do ICTQ é levar informação confiável e relevante para ajudar os leitores a compreender melhor o universo farmacêutico. O leitor tem acesso ilimitado às reportagens, artigos, fotos, vídeos e áudios publicados e produzidos, de forma independente, pela redação da Instituição. Sua reprodução é permitida, desde que citada a fonte. O ICTQ é o principal responsável pela especialização farmacêutica no Brasil. Muito obrigado por escolher a Instituição para se informar.