A transição menopausal (climatério) e a pós-menopausa representam fases de intensas mudanças hormonais que impactam a saúde física, emocional e metabólica da mulher. Nesse cenário, o farmacêutico clínico atua como profissional de referência no acompanhamento, promoção do autocuidado e orientação quanto ao uso racional de medicamentos e suplementos.
Entre as funções do farmacêutico clínico estão a educação em saúde, a promoção do autocuidado, o acompanhamento farmacoterapêutico e o rastreamento em saúde.
Para o professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e farmacêutico clínico das Farmácias Suaiden, André Schmidt Suaiden, a mulher contemporânea, acima dos 50 anos, é ativa, muitas vezes profissionalmente engajada, cuida da saúde, pratica esportes e busca qualidade de vida. Ela não deseja apenas ‘suportar’ os sintomas da menopausa, mas viver plenamente essa fase, mantendo autonomia, vitalidade e bem-estar.
“O farmacêutico clínico precisa, portanto, adaptar sua abordagem e comunicação, oferecendo planos personalizados, acompanhamento contínuo e orientação clara sobre autocuidado e farmacoterapia”, destaca ele.
Para o plano individualizado de cuidado, o atendimento deve ser centrado na paciente, contemplando seu estilo de vida, sono, nutrição, atividade física e saúde sexual (abordando com naturalidade questões como secura vaginal, libido e autoestima, entre outros).
Sintomas que merecem atenção farmacêutica
“O farmacêutico clínico é um dos primeiros profissionais a ouvir as queixas das mulheres nessa fase. Por isso, deve estar atento não só aos sintomas típicos (como ondas de calor), mas também aos menos óbvios, que podem impactar significativamente a qualidade de vida e a saúde a longo prazo”, explica Suaiden.
Ele explica os sintomas mais prevalentes:
- Fogachos e sudorese noturna – ainda são os principais motivos de procura.
- Alterações de humor – irritabilidade, ansiedade e até quadros depressivos leves.
- Distúrbios do sono – dificuldade para dormir ou despertares frequentes.
- Névoa cognitiva – dificuldade de concentração e lapsos de memória.
- Fadiga – sensação de cansaço constante, muitas vezes confundida com estresse.
- Cefaleia – dores de cabeça recorrentes, associadas às flutuações hormonais.
- Dor articular e muscular – comum, mas pouco associada espontaneamente à menopausa pela paciente.
Há também a Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGM), que é, muitas vezes, subdiagnosticada, mas merece rastreamento ativo pelo farmacêutico:
- Secura vaginal e desconforto nas relações sexuais (dispareunia).
- Prurido ou ardência vaginal.
- Infecções urinárias de repetição – associadas à redução do estrogênio e mudanças na mucosa urogenital.
“É fundamental acolher essas queixas com naturalidade e orientar hidratantes vaginais de venda livre ou encaminhar ao ginecologista quando necessário”, aconselha Suaiden.
Impactos em saúde cardiometabólica e óssea
Com a queda do estrogênio, há aumento do risco de doenças crônicas. O farmacêutico deve observar, registrar e monitorar:
- Risco cardiometabólico: aumento de peso, especialmente abdominal, alterações na pressão arterial, alterações de glicemia e perfil lipídico (colesterol e triglicerídeos) e história familiar de diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
- Saúde óssea: queixas de dor lombar ou fraturas prévias, baixo consumo de cálcio/vitamina D, sedentarismo e histórico familiar de osteoporose.
É preciso sempre registrar em ficha de acompanhamento ou prontuário farmacêutico, para facilitar seguimento e, se necessário, encaminhar ao médico.
Terapia Hormonal (TH) na Menopausa: papel do farmacêutico na orientação
“O medo em relação à terapia hormonal (TH) na menopausa começou lá atrás, nos anos 2000, quando estudos como o Women’s Health Initiative (WHI) apontaram aumento no risco cardiovascular e de câncer de mama”, lembra Suaiden. “Isso gerou um receio enorme, tanto entre médicas e médicos quanto entre as próprias pacientes. Mas hoje sabemos que a leitura mudou”.
Segundo ele, análises posteriores mostraram que os riscos variam conforme a idade, o tempo desde a última menstruação, a via de administração e a dose utilizada. “Mulheres com menos de 60 anos ou que iniciam a terapia até 10 anos após a menopausa têm um perfil de risco muito mais favorável. Nesse grupo, inclusive, há evidências de efeito protetor cardiovascular e ósseo. Já o início tardio ou o uso prolongado acima dos 60 anos tende a aumentar alguns riscos”.
Receba nossas notícias por e-mail: Cadastre aqui seu endereço eletrônico para receber nossas matérias diariamente
Entre os benefícios, Suaiden destaca a melhora dos sintomas vasomotores, como fogachos e suores noturnos, além do impacto positivo no sono, no humor, na saúde sexual e na proteção contra a perda óssea. “Por outro lado, existem riscos que não podem ser ignorados: tromboembolismo venoso, acidente vascular cerebral, especialmente em idade avançada ou no uso da via oral, e câncer de mama, quando há uso prolongado da combinação estrogênio e progesterona”.
Ele reforça que existem contraindicações claras, situações em que a paciente precisa de avaliação médica cuidadosa. “Histórico de câncer de mama ou de endométrio, trombose, doença hepática ativa, sangramento genital sem causa definida, além de doença coronariana ou AVC já estabelecido, são fatores que exigem atenção redobrada”.
Sobre a escolha da via de administração, Suaiden explica: “A via oral é a mais usada, mas também a que traz maior risco de trombose e impacto no fígado. Já a via transdérmica — adesivos ou géis — reduz o risco de tromboembolismo e de efeitos hepáticos, sendo preferida em mulheres com fatores de risco cardiovascular, sobrepeso ou hipertensão. Em qualquer caso, a recomendação é sempre usar a menor dose possível, ajustada ao perfil da paciente”.
Outro ponto essencial é o uso da progesterona. “Mulheres que têm útero precisam obrigatoriamente de progesterona, justamente para proteger o endométrio contra hiperplasia e risco de câncer induzido pelo estrogênio. Essa proteção pode vir por via oral, vaginal ou em combinações fixas. Já quem fez histerectomia pode utilizar apenas o estrogênio”.
Por fim, ele enfatiza o papel do farmacêutico nesse processo. “Cabe a nós traduzir a ciência para a paciente, mostrar que os antigos medos foram reavaliados e que hoje a indicação é muito mais personalizada. O farmacêutico não prescreve, mas auxilia no uso seguro, na adesão e no monitoramento. Também é nossa responsabilidade educar sobre sinais de alerta, como sangramento vaginal anormal, dor ou inchaço nas pernas, dor no peito, falta de ar ou dor de cabeça súbita. Esses sintomas precisam de avaliação médica imediata”.
Capacitação farmacêutica
Para quem deseja se capacitar e atuar em Farmácia Clínica, o ICTQ oferece alguns cursos de pós-graduação que devem interessar:
- Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica
- Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva
- Farmácia Clínica em Cardiologia
- Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica
- Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia
Saiba mais sobre os cursos de pós-graduação do ICTQ AQUI.
Participe também: Grupos de WhatsApp e Telegram para receber notícias
Obrigado por apoiar o jornalismo profissional
A missão da Agência de Notícias do ICTQ é levar informação confiável e relevante para ajudar os leitores a compreender melhor o universo farmacêutico. O leitor tem acesso ilimitado às reportagens, artigos, fotos, vídeos e áudios publicados e produzidos, de forma independente, pela redação da Instituição. Sua reprodução é permitida, desde que citada a fonte. O ICTQ é o principal responsável pela especialização farmacêutica no Brasil. Muito obrigado por escolher a Instituição para se informar.