Fluoxetina é um medicamento indicado para tratar depressão e outros transtornos. Perda de peso em até 20% dos pacientes como efeito colateral é considerada pequena comparada com outros remédios.
Dúvidas sobre a relação entre o uso da fluoxetina e a perda de peso fazem os termos aparecerem juntos no topo dos itens pesquisados sobre o remédio no Google.
Uma reação prevista em bula da fluoxetina, um medicamento indicado para tratar depressão e outros transtornos, é a diminuição de peso. Contudo, embora seja relatada a perda de peso em até 20% dos pacientes como efeito colateral, a fluoxetina NÃO é um medicamento para o tratamento de obesidade ou emagrecimento.
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A fluoxetina é um tipo de antidepressivo inibidor da recaptação da serotonina (ISRS ou SSRIs, na sigla em inglês). Ela age no cérebro, aumentando os níveis de serotonina, resultando em uma melhoria nos sintomas, tanto depressivos quanto de ansiedade.
Mas o que é serotonina? É um neurotransmissor que está associado a uma série de funções como regulação do humor, controle de apetite, sono e funções cognitivas.
O medicamento fluoxetina é indicado para pacientes com:
Depressão, associada ou não à ansiedade;
Bulimia nervosa;
Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
Transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), incluindo tensão pré-menstrual (TPM), irritabilidade e disforia (mal-estar provocado pela ansiedade).
Os efeitos colaterais mais comuns são:
- Dores de cabeça;
- Náuseas;
- Sonolência;
- Diarreia;
- Tremores;
- Fotossensibilidade; e
- Perda de apetite.
Fluoxetina e perda de peso: qual a associação?
Como dito, a diminuição de peso está prevista em bula. No entanto, essa perda, muitas vezes, não é significativa e não é relatada por todos os pacientes. Esse efeito pode ser considerado secundário, já que o objetivo principal do medicamento é tratar transtornos psiquiátricos.
“Geralmente, os pacientes que acabam tendo uma perda de peso são os que têm uma atitude alimentar disfuncional, têm transtornos de compulsão alimentar, impulsividade alimentar, comer emocional e descontam a ansiedade na comida.
— Anny de Mattos Barroso Maciel, psiquiatra
De acordo com Anny Maciel, que é especialista em transtornos alimentares pela Universidade de São Paulo (USP), os pacientes "podem apresentar a perda de peso associada ao uso de fluoxetina, porque ela vai diminuir a impulsividade e eles vão ter uma sensação maior de autocontrole".
Lívia Lugarinho, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), ressalta que a ação da fluoxetina não é benéfica para levar a perda de peso expressiva.
"Na medicação para obesidade, o paciente tem que perder pelo menos 5% do peso em 12 semanas de tratamento. O paciente pode até ter essa perda com a fluoxetina, mas não é regra. Essa droga não é aprovada para esse fim, ela é comercializada como antidepressivo", diz a endocrinologista.
Ela lembra que o Brasil tem medicamentos aprovados para obesidade: sibutramina, orlistate, liraglutida, semaglutida e a associação de naltrexona com bupropiona.
Indicações endócrinas
Apesar de não ser um medicamento para tratar obesidade, a fluoxetina tem indicações endócrinas: para o tratamento de bulimia nervosa e transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM).
"A bulimia é uma situação que começa com excesso de peso. Se caracteriza por compulsão alimentar, seguida de compensação, como o vômito. A fluoxetina é indicada para esse tratamento, tem excelente resposta. E, indiretamente, você tratará o excesso de peso do paciente", relata a diretora da SBEM.
Outra situação é a TDPM. Muitas mulheres podem relacionar a ansiedade com alimentos calóricos, como chocolates e doces e isso contribui para o ganho de peso.
"Às vezes, só controlando esse transtorno com a fluoxetina é que conseguimos ter o controle do peso", completa Lugarinho.
Nada de se automedicar!
A fluoxetina está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), mas para obtê-la é preciso de prescrição médica. Ela é um remédio de uso controlado e, por isso, requer receita de um profissional em duas vias.
O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, alerta que o "uso do medicamento deve ser feito de forma racional, seguindo orientações e acompanhamento do médico".
“Deve ser administrado com cuidado e, em alguns casos, avaliado o custo-benefício, principalmente em indivíduos que apresentem outras comorbidades, gestantes, mulheres que estejam amamentando e pacientes que fazem uso de alguns tipos de medicamentos que podem ter interação medicamentosa importante.
— Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP
Anny de Mattos Barroso Maciel reforça que a fluoxetina é uma medicação segura, mas que age diretamente no sistema nervoso central. Por isso, é essencial o acompanhamento.
"O paciente que não tem acompanhamento pode usar uma dose que não é eficaz para tratar a doença de base. Com isso, ele pode perder qualidade de vida. Também tem a superdosagem, que pode gerar efeitos colaterais importantes como tremor, secura das mucosas, perda da libido, apatia", esclarece.
E vale mais um alerta: a fluoxetina não causa dependência. Além disso, a retirada do medicamento deve ser gradual (o famoso desmame) e sob acompanhamento médico.
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