Os medicamentos mais indicados para tratamento da infecção urinária são os antibióticos, antissépticos e analgésicos. Suplementos e até uma vacina oferecem suporte para quem sofre com o problema, conforme revelou a farmacêutica Flávia Costa em artigo para o site Tua Saúde. Há casos que exigem atenção maior, quando a infecção atinge grávidas e crianças. É preciso também ficar alerta às interações medicamentosas. E todas essas informações são importantes que os farmacêuticos saibam, seja para a dispensação ou orientação de pacientes que estão com dúvidas relacionadas à prescrição.
Cada uma dessas medicações tem uma função específica, desde eliminar as bactérias causadoras da infecção, passando pelo alívio dos sintomas como dor ou queimação ao urinar, até mitigar a vontade de urinar frequentemente ou a sensação de peso na bexiga, que acomete os pacientes com o problema.
De acordo com Flávia, a infecção urinária é causada por bactérias do intestino, especialmente a Escherichia coli, que chegam ao sistema urinário da pessoa, sendo mais comuns nas mulheres, devido à proximidade entre a uretra e o ânus. Os sintomas podem estar acompanhados de febre baixa constante ou urina muito escura com cheiro forte.
A farmacêutica selecionou cinco tipos de tratamento para infecção urinária que podem conferidos a seguir:
1. Antibióticos
Os antibióticos mais indicados para tratar uma infecção urinária são:
- Nitrofurantoína (Macrodantina): a dose recomendada é de 1 cápsula de 100 mg, a cada 6 horas, durante 7 a 10 dias
- Fosfomicina (Monuril): a dose recomendada é de 1 sachê de 3 g em dose única ou a cada 24 horas, durante 2 dias, que deve ser tomada, de preferência, com o estômago e a bexiga vazios, preferencialmente à noite, antes de dormir
- Sulfametoxazol + trimetoprima (Bactrim ou Bactrim F): a dose recomendada para adultos é de 1 comprimido de Bactrim F ou 2 comprimidos de Bactrim, a cada 12 horas, por no mínimo 5 dias ou até o desaparecimento dos sintomas
- Fluoroquinolonas – ciprofloxacino ou levofloxacino: a dose recomendada varia com o tipo de medicamento utilizado, conforme orientação médica
- Penicilinas ou cefalosporinas – amoxicilina, cefalexina ou ceftriaxona: a dose recomendada também varia de acordo com o medicamento prescrito
Flávia ressalta que todos esses medicamentos devem ser prescritos pelo médico e comprados na farmácia, com a devida receita. Segundo ela, geralmente, os sintomas de infecção urinária desaparecem em poucos dias de tratamento. “No entanto, é importante que a pessoa tome o antibiótico durante o tempo que foi determinado pelo médico”, assinala. “Caso seja uma infecção urinária severa, pode ser necessário realizar o tratamento no hospital, com administração de antibióticos na veia”, alerta.
2. Antiespasmódicos e analgésicos
De acordo com a farmacêutica, geralmente, a infecção urinária provoca sintomas desagradáveis como dor e ardência ao urinar, vontade frequente para urinar, dor abdominal ou sensação de peso no fundo da barriga. “Por isso, o médico pode prescrever antiespasmódicos como o flavoxato (Urispás), a escopolamina (Buscopan ou Tropinal) e a hiosciamina (Tropinal), que são medicamentos que aliviam esses sintomas”, diz Flávia.
Além disso – continua ela – embora não tenha ação antiespasmódica, a fenazopiridina (Urovit ou Pyridium) também alivia a dor e a ardência características das infecções urinárias, já que é um analgésico que atua no trato urinário.
3. Antissépticos
Os antissépticos como a metenamina e o cloreto de metiltionínio (Sepurin) também podem ajudar os sintomas como queimação ou dor ao urinar, além de evitar que a infecção piore e chegue aos rins ou bexiga, “pois também têm ação antibacteriana o que ajuda a eliminar as bactérias do trato urinário e a prevenir infecções recorrentes”, salienta Flávia.
4. Suplementos
Outra opção sugerida pela farmacêutica são os suplementos. “Existe uma grande variedade de suplementos que têm na sua composição extrato de arando vermelho, conhecido por cranberry, que pode estar associado a outros componentes que agem impedindo a adesão das bactérias ao trato urinário”, diz Flávia.
Segundo ela, esses compostos promovem a reconstituição de uma microflora intestinal equilibrada, “criando um ambiente adverso ao desenvolvimento de infecções urinárias, sendo, por isso, muito útil como complemento ao tratamento ou para evitar recidivas”.
5. Vacina
A farmacêutica destaca também o uso de um imunoterápico indicado para a prevenção de uma infecção urinária. “Uro-Vaxom é uma vacina em forma de comprimidos composta por componentes extraídos de Escherichia coli, que atua estimulando as defesas naturais do organismo, sendo usada para prevenir infecções recorrentes das vias urinárias ou como adjuvante no tratamento de infecções agudas nesse local”, diz Flávia.
Casos especiais e recorrentes
Caso a infecção urinária ocorra em crianças ou grávidas, os medicamentos e a posologia podem ser diferentes, destaca a farmacêutica. No caso da infecção urinária na gravidez, os medicamentos devem ser prescritos pelo obstetra, devendo ser usados com muita cautela, para não prejudicar o bebê. “Os antibióticos para a infecção urinária considerados mais seguros para tomar durante a gestação são as penicilinas ou cefalosporinas”, afirma Flávia.
Já no caso da infecção urinária infantil, o tratamento é muitas vezes feito usando o mesmo tipo de antibióticos, mas na forma de xarope. “Dessa forma, o tratamento deve ser sempre indicado pelo pediatra, sendo que a dose recomendada varia de acordo com a idade da criança, peso, sintomas apresentados, gravidade da infecção e micro-organismo responsável por causar a infecção”, diz a especialista.
Segundo Flávia, existem mulheres que sofrem de infecções urinárias várias vezes ao ano e, nesses casos, o médico pode recomendar um tratamento preventivo, para evitar as recidivas. “Ele consiste na ingestão diária de uma baixa dose de antibióticos, como o Bactrim, Macrodantina ou fluoroquinolonas, durante cerca de seis meses ou tomando uma dose única de antibiótico após o contato intimo, caso as infecções estejam relacionadas com a atividade sexual”.
Além disso, para evitar infecções urinárias recorrentes, a pessoa também pode tomar medicamentos naturais por um longo período de tempo ou imunoterápicos. “Durante o tratamento para infecção urinária, recomenda-se não tomar nenhum outro medicamento sem o conhecimento do médico e beber cerca de 1,5 a 2 litros de água por dia, o que ajuda a eliminar as bactérias do organismo”, diz Flávia.
Ela destaca também que, além dos medicamentos, algumas opções caseiras podem ajudar a aliviar os sintomas e complementar o tratamento médico, como o suco de arando, o xarope de uva-ursina e o chá de vara-de-ouro, “pois têm ação diurética e anti-inflamatória, ajudando a aliviar os sintomas da infecção urinária”, ressalta.
“Além disso, os alimentos diuréticos como a cebola, salsa, melancia, aspargo, graviola, pepino, laranja ou cenoura, também são ótimos complementos ao tratamento da infecção, pois ajudam a eliminar a urina, contribuindo para a eliminação das bactérias”, aconselha a farmacêutica.
Interações medicamentosas e o acompanhamento farmacêutico
De forma geral, as interações medicamentosas podem ser causadas por alterações nos efeitos de um medicamento por conta do consumo concomitante de outro fármaco ou sua utilização juntamente com determinado alimento ou bebida. Embora em alguns casos os efeitos de medicamentos combinados sejam benéficos, é comum que as interações medicamentosas tendam a ser prejudiciais, especialmente entre os antimicrobianos – em particular os antibacterianos.
As interações podem ocorrer na fase farmacocinética (na movimentação do ativo, da absorção até excreção) e na farmacodinâmica (relacionado ao local de ação de um fármaco). As interações farmacocinéticas são as mais frequentes e influenciam de forma significativa a terapêutica medicamentosa.
Segundo os especialistas, não há uma escala para classificar quais são as interações mais perigosas, pois elas estão dentro de um contexto de uso. O professor Edson Luiz de Oliveira destacou, durante sua aula na pós-graduação em Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, algumas dessas interações.
Entre as penicilinas, a amoxicilina pode interagir com os seguintes compostos:
- Alopurinol – pode desencadear rash cutâneo
- Aminoglicosídeos (Cagento) – pode apresentar perda da eficácia concomitantemente com amoxicilina
- Metotraxato – pode desencadear quadro de toxicidade do MTX
- Probenicida – pode aumentar as concentrações plasmáticas da moxicilina
- Venlafaxina – pode desencadear síndrome serontoninérgica (tremores, rigidez muscular e taquicardia)
- Varfarina – pode resultar em aumento do efeito anticoagulante
Já entre as cefalosporinas, a cefalexina pode ter algumas interações, pois o uso concomitante aumenta os níveis e a atividade da metformina, por diminuir sua secreção tubular.
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Para evitar interações entre medicamentos, a atuação do farmacêutico é fundamental, pois é ele quem deve verificar inicialmente o número de fármacos que o paciente faz uso e o que isso pode acarretar na combinação com um antibacteriano, por exemplo, e orientá-lo de forma adequada. “Os antimicrobianos possuem uma finalidade clara: reduzir o crescimento de micro-organismos ou matá-los. O farmacêutico deve garantir que o paciente entenda a importância de seu tratamento”, frisa o farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ, Rafael Poloni.
Essa orientação envolve o respeito aos horários de tomar o medicamento, bem como todos os outros quesitos para o seu uso racional do medicamento, evitando possíveis interações medicamentosas e efeitos adversos. “Todo tratamento com medicamento antibacteriano deveria ter acompanhamento do farmacêutico, para instruir o uso correto do fármaco – dose, tomadas, interações e possíveis efeitos adversos”, explica o professor.
“É aconselhável que o farmacêutico ressalte ao paciente a importância de fazer uso do medicamento no horário indicado pelo prescritor, não abandonando a terapia farmacológica na ausência de sintomas”, pontua. Nesse sentido, a coordenadora acadêmica dos cursos de pós-graduação do ICTQ e especialista em farmácia clínica e prescrição farmacêutica, Juliana Cardoso, completa: “A ingesta de líquidos nesse período e a não retenção urinária auxilia o paciente durante o seu tratamento”, explica.
“O farmacêutico deve orientar o paciente também a ficar atento a quaisquer sinais de piora, como mudança de cor de urina, ardência, entre outros. Pode haver casos de resistência ao antibiótico utilizado e sinais de piora ou de não melhora dos parâmetros analisados que devem ser reportados ao médico imediatamente”, frisa Poloni.
Juliana lembra que, em sua consulta, o profissional deve instruir o paciente que a adequada higiene íntima é essencial para reduzir a contaminação e diminuir as chances de infecção. “Cuidados depois da evacuação e após a relação sexual são aspectos que devem ser considerados como medidas preventivas”.
Por outro lado, ela lembra que o exagero na limpeza local, além de causar irritação, também pode favorecer a instalação de bactérias locais, principalmente quando são utilizados desodorantes íntimos ou produtos com propriedades cáusticas e esfoliantes.
“Um detalhe não menos importante são as roupas íntimas de material sintético, pois reduzem a ventilação e mantêm o ambiente úmido, fatores que podem facilitar a proliferação de bactérias. Já os tecidos de algodão ajudam a manter a região mais seca, tornando-a menos favorável às infecções”, esclarece Juliana.
Assista uma aula sobre medicamentos antimicrobianos com o professor da pós de Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia no ICTQ, Edson Luiz Oliveira:
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