A variante do novo coronavírus que chegou ao Brasil pela Copa América tem mutação inédita e é mais transmissível, revelou a BBC News Brasil. Ela foi detectada em duas pessoas que integravam as delegações do Equador e da Colômbia, que disputaram a Copa América no País.
Além de perder o torneio para os maiores rivais – os argentinos –, o Brasil ainda ‘ganhou de brinde’ uma nova variante da Covid-19. Chamada de B.1.621, ela foi encontrada em dois homens diagnosticados pelo Laboratório Central do Mato Grosso em Cuiabá (MT) – um de 37 e outro 47 anos.
No dia 13 de junho, os dois países se enfrentaram pela primeira rodada da fase de grupos da Copa América. A partida, que terminou 1 a 0 para a Colômbia, aconteceu na Arena Pantanal, em Cuiabá. A boa notícia, segundo as informações das autoridades mato-grossenses, é que os dois pacientes foram isolados num hotel após o diagnóstico e permaneceram em quarentena até ganharem um atestado que liberou o retorno deles aos seus países de origem.
Embora o protocolo após o diagnóstico tenha sido seguido à risca, não se sabe se esses indivíduos tiveram contato com outras pessoas antes de realizar os exames. Há, portanto, o risco de eles terem espalhado a variante pelo País – daí a necessidade de acompanhar a situação de perto e ver se a B.1.621 ganha terreno em território brasileiro ou não, dizem os especialistas.
Mas, por enquanto, não há motivo para pânico com a nova variante, revelou à BBC o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul. “São poucos os casos reportados no Brasil. É claro que ela deve ser monitorada, mas os dados da Colômbia e de outros países não indicam uma maior agressividade, apesar da elevação do número de casos em algumas regiões”, explicou.
“Também não temos dados sobre um possível escape dessa nova variante às vacinas já disponíveis”, acrescentou o especialista, que também coordena a Rede Corona-Ômica do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.
Apesar da ressalva para não haver apreensão, a variante B.1.621 integra uma lista de alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), junto com outras versões virais que precisam ser monitoradas e estudadas. Como é relativamente nova, ela ainda não foi nominada com uma letra grega, como aconteceu com a Alfa (Reino Unido), a Beta (África do Sul), a Gama (Brasil) e a Delta (Índia).
Essa variante foi descrita pela primeira vez em janeiro de 2021, na Colômbia. De lá para cá, ela já se espalhou para outros 19 países das Américas e da Europa, segundo o site Pango Lineages, que reúne especialistas em vigilância genômica de várias universidades e centros de pesquisa. Por enquanto, os locais com mais casos de Covid-19 relacionados a essa variante são Estados Unidos, Colômbia, Espanha, México e Holanda.
Mutações preocupam
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) da Europa, a B.1.621 traz ao menos cinco mutações importantes na espícula, estrutura que fica na parte externa do coronavírus e é responsável por se encaixar nos receptores das nossas células e dar início à infecção.
Quatro dessas alterações genéticas (E484K, N501Y, D614G e P681H) já foram observadas em outras variantes mais preocupantes – Alfa, Beta, Gama e Delta. Já a mutação R346K parece ser nova e não foi descrita nas demais versões do vírus. Essas modificações no código genético podem deixar o agente infeccioso ainda mais transmissível, o que representa um perigo para o controle da pandemia, apurou a BBC.
O CDC europeu também informa que essa variante poderia ter algum impacto na imunidade obtida após a recuperação de um quadro de Covid-19 prévio ou pela vacinação, mas isso ainda precisa ser estudado mais a fundo.
Na prática, essa versão do coronavírus parece ter se espalhado com relativa facilidade por certos lugares: de acordo com as informações do Gisaid, uma iniciativa global de vigilância genômica, a variante representa 24% de todas as amostras colhidas e analisadas na Colômbia. Em algumas localidades, como Córdoba, Bolívar, Atlántico e Choco, ela já está presente em mais de 60% de todas as investigações genéticas feitas desde o início do ano.
Vale observar que a situação da pandemia na Colômbia é bem preocupante – o país sul-americano tem atualmente a terceira pior média móvel de óbitos em todo o mundo, ficando atrás apenas de Namíbia e Tunísia. O que os cientistas ainda não sabem é se a nova variante tem alguma coisa a ver com isso.
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A exemplo do Brasil, a Colômbia não possui um sistema bem estruturado de vigilância genômica do coronavírus, que faz um número elevado de testes diariamente. Em razão disso, não dá para ter certeza sobre a presença e o impacto das variantes por lá. Mesmo assim, a B.1.621 parece chamar a atenção de representantes do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Saúde locais.
Num artigo publicado em maio, eles se mostram preocupados com “o rápido aumento na frequência” dessa variante “num curto espaço de tempo”, especialmente em cidades que “pareciam estar próximas de uma eventual imunidade de rebanho”, conforme apurou a BBC.
Ainda é difícil de prever qual será a estratégia ideal para o coronavírus, porque cada vírus usa técnicas diferentes para continuar infectando. Independentemente das mutações na espícula ou do maior potencial de virulência das novas variantes, uma coisa é certa: as medidas de prevenção contra a Covid-19 continuam efetivas e necessárias, dizem os especialistas.
Por hora, para o farmacêutico e professor de pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Thiago de Melo, há medidas que podem ajudar a impedir o surgimento de novas variantes, como o distanciamento social e os cuidados com a higiene das mãos e o uso de máscaras.
“Com menos Sars-CoV-2 circulantes, o impacto sobre as novas variantes mutantes também pode ser suavizado, afinal, com menos ‘casas’ para o vírus morar, menos chance de ele trocar seus códigos”, frisa Melo.
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