No Brasil, em plena campanha de vacinação e auge da pandemia, cerca de 1,5 milhão de pessoas não voltaram aos postos de saúde para receber a segunda dose do imunizante contra a covid-19. O dado alarmante foi divulgado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nesta terça (13/04), em Brasília.
Para resolver esse déficit, Queiroga declarou que o Ministério da Saúde (MS), com o apoio do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), deve reforçar as campanhas de vacinação, alertando para que todos os atrasados completem a imunização.
No mesmo dia, o MS divulgou a lista dos Estados que estão com atraso na aplicação da segunda dose. O líder da lista é São Paulo, com 343.925 pessoas. Em sequência, vem Bahia (148.877), Rio de Janeiro (143.015), Rio Grande do Sul (123.514), Minas Gerais (89.122) e Paraná (71.857).
Por outro lado, os Estados com menos doses em atraso são Amapá (5.741), Tocantins (6.033), Acre (6.191), Alagoas (7.625) e Roraima (8.555).
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Mas, o que esses números revelam? Quais os riscos que essas pessoas estão sujeitas ao não completar a vacinação?
Essas perguntas foram respondidas por especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, que destacaram algumas sérias consequências à saúde do indivíduo e de outras pessoas, assim como também, o impacto no sistema de saúde.
Entre elas, eles destacam que a proteção contra o vírus não estará efetiva para aqueles que tomarem apenas a primeira dose. Há ainda a falsa sensação de imunidade e, consequentemente, o descuido dos protocolos de segurança, assim, as pessoas ficam mais expostas ao vírus.
Além disso, há a possibilidade de invalidar a primeira dose e ser necessário iniciar a vacinação do zero. E, consequentemente, há os impactos nos estoques limitados dos imunizantes e atraso na vacinação das pessoas que ainda estão na fila de espera.
Imunização comprometida
A maioria das vacinas contra a Covid-19 necessitam de duas doses para conferir uma taxa de proteção aceitável. Esses esquemas vacinais foram avaliados e definidos nos estudos clínicos dos imunizantes, que serviram para determinar a segurança e a eficácia dos imunizantes.
Logo, se alguém tomar apenas a primeira dose, não estará devidamente protegido, como explica a médica e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai.
"Os dados que temos mostram que a pessoa fica resguardada com duas doses. Se ela toma só uma, não completou o esquema e não está vacinada adequadamente”.
Cabe lembrar que mesmo que a primeira dose já dê um pouco de proteção, essa taxa não está dentro dos parâmetros estabelecidos pelos especialistas e pelas instituições sanitárias, como a Organização Mundial da Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o próprio MS.
Falsa sensação de proteção
Além disso, outro ponto perigoso é que ao receber a primeira dose o indivíduo pode ficar com uma falsa sensação de segurança.
Com isso, ele passa a achar, de forma equivocada, que já está imune ao vírus. Assim, ele volta a seguir a vida normalmente e flexibiliza, ou anula, os protocolos de prevenção contra a Covid-19. Essas ações colocam não apenas sua vida e saúde em risco, mas também as de outras pessoas.
Entretanto, cabe lembrar que os protocolos sanitários devem vigorar, tanto para quem recebeu as duas doses, como para quem tomou apenas uma ou nenhuma. Ou seja, o distanciamento físico, uso de máscaras, higienização das mãos, entre outras medidas, devem ser seguidas por todos.
Recomeço da vacinação
Ainda é incerto sobre como fica a situação de quem não completou as duas doses. Essas pessoas precisam recomeçar o esquema vacinal do zero ou podem tomar a segunda a qualquer momento?
Os especialistas informam que isso é variável conforme o tempo de atraso. Mas sim, há a possibilidade de anular a dose já tomada e assim, a vacinação ter que ser reiniciada, conforme aponta a imunologista e professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Cristina Bonorino.
"Se o prazo para receber a segunda dose passou demais, pode ser necessário recomeçar o regime vacinal, pois todos os dados de eficácia que temos são baseados num protocolo. Se fugirmos disso, não temos como garantir a imunização".
Escassez de vacinas
Além dos impactos à saúde, deixar de tomar a segunda dose traz consequências ao estoque de vacinas, que, aliás, já é limitado, e isso pode prejudicar as pessoas que ainda estão na fila de espera para se imunizar.
Ou seja, 88% da população brasileira, já que, até o momento, há, apenas, 27 milhões pessoas vacinadas contra a Covid-19 no País. Logo, esse número corresponde a pouco mais de 12% da população.
Segunda dose em atraso: o que fazer?
Para todos os que estão com a segunda dose da vacina em atraso, o MS recomenda que procurem o posto de vacinação mais próximo de casa, o mais rápido possível e completem a proteção.
É importante apresentar a carteira de vacinação da Covid-19, que aponta qual o tipo de imunizante foi recebido na primeira dose; se a vacina do Instituto Butantan (Coronavac), ou da AstraZeneca (AZD1222). Isso é importante porque as doses não devem ser misturadas, ou seja, se a aplicação da primeira dose no individuo foi o imunizante da Coronavac, a segunda deve ser do mesmo fabricante.
É pertinente lembrar que ambas são aplicadas em duas doses, mas com prazos distintos, sendo a Coronavac com retorno de 14 a 28 dias, enquanto a AZD1222 tem intervalo maior, três meses.
Diferenças entre vacinas
O gerente-geral da Gerência Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, em vídeo exclusivo publicado no canal do Youtube do ICTQ (veja o vídeo completo aqui), explica os tipos de vacina desenvolvidas para a Covid-19 e porque elas seguem intervalos e dosagens diferentes.
“Muitas vezes uma dose só não é suficiente para atingir aquele mínimo de anticorpos necessários para neutralizar o vírus, então, por isso, precisa de uma dose de reforço, que ajuda a se atingir esse grau de anticorpos necessários”.
Mendes, que também ministra aulas na Pós-graduação de Assuntos Regulatórios, entre outros cursos no ICTQ, ressalta a importância de seguir os intervalos determinados nas bulas de cada imunizante.
“Esse intervalo é importante ser seguido à risca porque é justamente o intervalo para preparar o corpo para que a segunda dose possa ser efetiva e gerar esses anticorpos neutralizantes”, concluiu.
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