Estudo clínico inicial realizado no hospital Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, Estados Unidos, sugere que o uso da progesterona pode melhorar o quadro de homens hospitalizados em estado grave por Covid-19, revelaram o site Medscape e a revista Galileu. Os resultados foram publicados em fevereiro no periódico científico Chest.
Desde o início da pandemia, os cientistas observaram maior risco de letalidade do novo coronavírus em relação ao sexo masculino. Segundo números de fevereiro deste ano divulgados pela plataforma Global Health 50/50, que avalia dados de igualdade de gênero relacionados à saúde, os homens representam 57% das mortes causadas por Covid-19 no mundo.
Conforme a diretora de Reabilitação Pulmonar no Cedars-Sinai, autora principal do estudo, Sara Ghandehari, esses dados estimularam a pesquisa de gênero. “Como médica da UTI, fiquei impressionada com a disparidade de gênero entre os pacientes com Covid-19 que estavam muito doentes, permaneceram no hospital e precisaram de ventiladores”, afirmou a pesquisadora.
Ao observar que mulheres hospitalizadas em estado grave com Covid-19 geralmente se saem melhor do que os homens, os pesquisadores norte-americanos concluíram que os hormônios femininos poderiam ter alguma relação com essa diferença de resultados.
Os cientistas se basearam também em outras pesquisas que indicaram que mulheres na fase pré-menopausa, geralmente com níveis mais elevados de progesterona, enfrentavam quadros menos severos da doença em relação àquelas com menores níveis do hormônio, que já tinham passado pelo climatério.
Na hipótese levantada por Sara e demais colegas, as diferenças de gênero no desenvolvimento da Covid-19 se devia, em partes, a um efeito protetor da progesterona, relacionado a propriedades anti-inflamatórias. Hormônio esteroide produzido pelos ovários durante os ciclos reprodutivos, a progesterona ocorre naturalmente em mulheres na pré-menopausa.O hormônio é também produzido pelo corpo masculino, mas em níveis muito menores do que nas mulheres.
Partindo dessa premissa, os cientistas do Cedars-Sinai resolveram testar a progesterona em um grupo de 40 homens hospitalizados em estado moderado a grave por Covid-19. Desse total, 22 compuseram o grupo controle e 18 receberam doses de progesterona. Os homens do grupo controle tiveram atendimento médico padrão e o grupo experimental tomou injeções de 100 miligramas do hormônio duas vezes por dia durante cinco dias, enquanto estavam internados
Os pacientes que receberam a progesterona injetável tiveram resultados melhores do que os que receberam tratamento padrão. Em comparação ao grupo controle, o grupo que tomou hormônio obteve mediana 1,5 ponto maior, além de, no geral, ter precisado de menos dias de internação e ventilação mecânica. O estudo classificou os pacientes em uma escala de acordo com seu estado clínico, em que 7 significava ‘não hospitalizado/sem limitações nas atividades’ e 1 era morte. Os resultados foram mostrados a partir de medianas.
Quatorze homens no grupo de progesterona (70%) melhoraram durante os primeiros sete dias, em comparação com sete (32%) no grupo de controle. Além disso, durante os primeiros sete dias do estudo, a probabilidade cumulativa de melhora clínica foi de 0,76 entre os 20 homens que receberam progesterona em comparação com 0,55 entre os 22 que receberam placebo.
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As novas descobertas “sugerem que a administração de progesterona em uma dose de 100 mg duas vezes ao dia por injeção subcutânea pode representar uma abordagem segura e eficaz para o tratamento de Covid-19, melhorando o estado clínico de homens com doença em estado moderado a grave”, escreveram os autores no artigo científico. “A utilidade potencial da progesterona no tratamento inicial da Covid-19 em homens é atraente”, completam.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que mais estudos são necessários com um número maior e uma gama mais diversificada de participantes, incluindo mulheres na pós-menopausa, bem como o envolvimento de outros locais de tratamento. “Embora nossas descobertas sejam encorajadoras para o potencial de uso de progesterona no tratamento de homens com Covid-19, o estudo teve limitações significativas”, reconheceu Sara Ghandehari.
O tamanho pequeno da amostra, aliado a pouca diversidade de pacientes (eram principalmente brancos, hispânicos e obesos), indica a necessidade de testes mais abrangentes no futuro. O ensaio clínico também não foi cego, o que significa que pesquisadores, pacientes e médicos sabiam quem receberia o tratamento e quem não — embora a distribuição tenha sido aleatória.
“Para assegurar a eficácia e avaliar questões de segurança envolvendo o tratamento, ainda são necessárias pesquisas adicionais em populações maiores e mais heterogêneas, incluindo mulheres na pós-menopausa e em outros centros de tratamento”, concluiu Sara.
Novos tratamentos
Ao longo da pandemia, diversos medicamentos e terapias foram ou estão sendo estudados para se chegar a um tratamento que possa ser eficaz contra a Covid-19, especialmente para os casos graves. Muitos deles resultaram em desinformação e risco à saúde dos pacientes, como os casos da cloroquina e ivermectina, que precipitadamente foram lançadas como potenciais tratamentos contra a doença.
Outros, como o medicamento à base de anticorpos do laboratório Regeneron, têm demonstrado que podem ser uma alternativa de combate à Covid-19. Na terça-feira (23/3) a empresa divulgou que o seu produto reduz o risco de hospitalização e morte por Covid-19 em cerca de 70%.
Os dados finais do estudo ainda não foram publicados em detalhes, nem em alguma publicação científica que tenha revisão por pares. Porém, a Regeneron acredita que resultado do estudo pode ajudar a aumentar a aceitação da medicação entre médicos e hospitais.
Um medicamento conhecido há muito tempo, a Aspirina (ácido acetilsalicílico), pode reduzir risco de intubação e morte por Covid-19, aponta estudo realizado por pesquisadores da George Washington University, nos Estados Unidos, publicado na revista Anesthesia & Analgesia.
Segundo essa pesquisa, a administração de doses baixas de Aspirina em pacientes hospitalizados com o novo coronavírus pode ajudar na proteção dos pulmões e reduzir os riscos de morte e intubação pela doença. Ainda de acordo com a pesquisa, o fármaco também pode ser útil em manter pacientes fora das Unidades de Terapia Intensiva (UTI), pois seria eficaz na diminuição do risco de formação de pequenos coágulos sanguíneos.
Especialistas em saúde pedem cautela com as novidades
Apesar do otimismo, os cientistas lembram que os resultados com a Aspirina precisam ser interpretados com cautela, pois, por enquanto, essa análise trata-se apenas de uma pesquisa observacional, retrospectiva. Nesse sentido, eles destacam que, para que a confirmação de eficácia da Aspirina no tratamento da Covid-19 seja comprovada, ainda é necessária a realização de testes clínicos randomizados controlados duplo-cego, pois, esses são considerados o padrão-ouro na pesquisa clínica.
Essa observação dos cientistas da Universidade George Washington, em relação à cautela, vai ao encontro da opinião do farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni. Segundo ele, deve-se ter muito cuidado ao analisar estudos científicos pontuais.
“Essa pesquisa mostra que o ácido acetilsalicílico parece promover melhoras em pacientes acometidos com Covid-19. Entretanto, o próprio estudo deixa claro que há necessidade de pesquisas clínicas mais robustas para confirmar se esse medicamento realmente promove redução de lesão pulmonar e mortalidade em pacientes com o novo coronavírus”, afirmou Poloni, fazendo uma advertência sobre automedicação. “Ressalta-se que o uso indiscriminado de medicamentos pode causar sérias lesões à saúde do paciente, não devendo ser utilizado sem prescrição médica”, finaliza.
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