Resultados de um ensaio clínico divulgado ontem (11/2) no Reino Unido indicam que a combinação do anticorpo monoclonal tocilizumabe, usado para tratar a artrite reumatoide, e a dexametasona, pode reduzir pela metade as mortes nos pacientes mais graves com Covid-19, revelou a agência EFE.
Tal efeito sobre a mortalidade foi identificado em pacientes hospitalizados com hipoxia (deficiência de oxigênio) e inflamação significativa que necessitaram de ventilação mecânica invasiva, de acordo com um comunicado emitido pelos responsáveis pelo estudo Recovery, liderado pela Universidade de Oxford.
Os autores do Recovery revelaram que o tocilizumabe reduz em 4% a mortalidade de pessoas internadas com infecções graves. A efetividade pode parecer pequena, mas se esse tratamento for administrado junto com a dexametasona (corticoide que reduz a inflamação), a mortalidade dos pacientes é reduzida em um terço e em 50% nos casos mais graves, apurou o jornal El País.
Os resultados são baseados em um estudo de população aleatória no qual 2.022 pacientes receberam o medicamento para artrite e outros 2.094 foram assistidos com os cuidados habituais, completa a EFE. 596 dos indivíduos que receberam tocilizumabe morreram em 28 dias (29%), comparado com 694 daqueles que não foram tratados com a droga (33%). Os números sugerem que para cada 25 pessoas tratadas com a droga, uma vida foi salva, de acordo com os responsáveis pela pesquisa.
Tocilizumabe, fabricado pela suíça Roche com o nome Actemra, também melhorou as chances de alta dos pacientes em 28 dias, de 47% para 54%, ou seja, aumentou em 7% a probabilidade de um doente sair com vida do hospital. Esses efeitos são observados tanto nos pacientes menos graves, que só necessitam de oxigênio com máscara, como naqueles que precisam de um respirador mecânico na UTI.
“Testes anteriores com tocilizumabe haviam mostrado resultados mistos e não estava claro se os pacientes seriam beneficiados por este tratamento. Agora sabemos que o medicamento ajuda todos os pacientes com níveis baixos de oxigênio e que já têm uma inflamação avançada”, explicou o especialista em doenças emergentes da Universidade Oxford, Peter Horby. “O impacto combinado da dexametasona e do tocilizumabe é impressionante e muito bem-vindo”, completou o médico em nota, segundo a EFE.
O novo tratamento é mais efetivo justamente no ponto de maior necessidade – quando a fase grave da Covid-19 já começou e os pacientes podem cair numa espiral inflamatória produzida por seu próprio sistema imune, o que pode levar à morte. Os dois medicamentos são os únicos que demonstraram salvar vidas contra o novo coronavírus, e agora também mostram que podem reduzir o tempo de internação, evitando a necessidade de respiradores.
Os autores do estudo ainda não publicaram os dados completos da pesquisa, mas esperam fazê-lo nos próximos dias, segundo informou a Universidade Oxford. Um ensaio anterior com o mesmo medicamento indicou redução de 8% na mortalidade de pacientes já internados na UTI.
“Até o momento, o tocilizumabe é o anticorpo monoclonal mais efetivo para tratar as tempestades de citocinas (produção descontrolada de proteínas inflamatórias sofrida pelos pacientes graves)”, ressaltou ao El País o presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia, Marcos López Hoyos. “O benefício é modesto, mas, considerando as poucas ferramentas terapêuticas que temos, este é um fármaco que devemos usar nesse contexto”.
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Mas os pesquisadores esclarecem que o tocilizumabe em si não evita a tempestade de citocinas. O que ele faz é se ligar às células usando a mesma porta de entrada utilizada por uma das citocinas responsáveis pela doença grave – a interleucina 6, uma das proteínas inflamatórias mais abundantes nos quadros graves. Dessa forma, embora um paciente produza muita proteína, seu efeito é bloqueado pelo remédio. A interleucina não pode se ligar às células do sistema imune inato, a primeira linha de defesa do organismo contra as infecções, para fomentar a inflamação.
Martin Landray, outro dos responsáveis pelo ensaio clínico Recovery, salientou que a combinação de medicamentos “aumenta as chances de sobrevivência, encurta a permanência hospitalar e reduz a necessidade de ventilação mecânica”, conforme a EFE.
Na mesma linha de raciocínio está Jesús Sierra, coordenador do registro da Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar (SEFH), uma base de dados de 16.000 pacientes para identificar medicamentos associados à menor mortalidade por Covid-19. “Uma redução da mortalidade associada a qualquer fármaco é muito boa notícia porque não temos praticamente nada”, afirmou ao El País.
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